1 – A Caridade na Verdade é a verdadeira vocação do Homem, porque Deus é Caridade (1 Jo 4:8-16) e Verdade (Jo 14:6).
2 – A Caridade é o maior dom de Deus aos homens, sendo a base fundamental de todas as relações humanas (quer em pequena quer em larga escala). É esse o alicerce da Doutrina Social da Igreja. No entanto, a Caridade é muitas vezes ignorada e a Verdade relativizada nessas relações humanas em larga escala (âmbito social, político, económico, jurídico…). É por isso que é fundamental a aliança entre a Caridade e a Verdade (não só expor a Verdade com Caridade, mas também praticar a Caridade na Verdade). Só assim é possível valorizar ambas.
3 – “Só na Verdade é que a Caridade refulge”. Sem Verdade, a Caridade cai presa no emotivismo, ou seja, o Amor passa a significar tudo o que as emoções e opiniões dos indivíduos assim o desejem (podendo até chegar a significar o oposto do Amor). Mas a Verdade ilumina a Caridade, com a luz da Razão e da Fé.
4 – Só se a Caridade for entendida na Verdade (logos) será possível à Caridade ser comunicada (dia-logos). Sem Verdade, a Caridade não é fonte de comunicação nem de comunhão. Pelo contrário, sem Verdade, a Caridade torna-se apenas uma mescla de bons sentimentos que, sendo subjectiva, é excluída dos projectos públicos. A Caridade na Verdade exige a adesão aos valores cristãos.
5 – A Caridade é Amor recebido (graça) por Deus. Nós fomos criados pelo Amor do Pai e recriados pelo Amor do Filho. Ao termos recebido o Amor como graça de Deus, somos chamados a dá-lo também aos nossos irmãos. A Caridade é Amor recebido e dado. À Doutrina Social da Igreja cabe tentar aplicar este conceito de Caridade à sociedade (caritas in veritate in re sociali). Sem Verdade, a actividade social torna-se vítima de interesses privados subjectivos e lógicas de poder, o que tem efeitos destrutivos na sociedade.
6 – Existem dois eixos da Doutrina Social da Igreja nos quais o princípio da Caritas in Veritate é fundamental: a Justiça e o Bem Comum. A Justiça é parte essencial da Caridade e não existe Caridade sem Justiça (não faz sentido dar ao Outro o que é “meu”, sem antes dar ao Outro o que é “dele” por justiça). No entanto, a Caridade transcende a Justiça, pois completa-a com a lógica do dom e do perdão. A Justiça permite a construção da Cidade do Homem.
7 – Amar alguém é procurar o seu bem. Portanto, o Bem Comum é um Amor que procura o bem de todos os indivíduos, enquanto membros da comunidade social (que é o único local onde eles podem encontrar o seu próprio bem). Nesse sentido, há indivíduos que podem manifestar a sua caridade na procura do Bem Comum, nomeadamente a nível político. A Caridade, neste âmbito, permite a construção da Cidade de Deus (a qual transcende a Cidade do Homem).
8 – É fundamental relembrar a encíclica Populorum Progressio do Papa Paulo VI, cujo tema era o desenvolvimento humano integral dos povos (um desenvolvimento que tem como primeiro e principal factor o anúncio de Cristo). O objectivo da encíclica Caritas in Veritate é actualizar a Populorum Progressio 40 anos depois da sua publicação (algo que o Papa João Paulo II já havia feito 20 anos após a publicação da Populorum Progressio, com a encíclica Sollicitudo Rei Socialis).
9 – Só através da Caridade na Verdade é possível um desenvolvimento humano integral. A Igreja não pode imiscuir-se nos deveres do Estado, mas tem um dever fundamental na defesa da Verdade, para que se crie uma sociedade à medida do Homem. Por isso, o Amor à Verdade leva a Igreja a anunciar também a sua Doutrina Social, que tem implicações políticas.
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