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Ano da Fé

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segunda-feira, 20 de julho de 2009

CARITAS IN VERITATE

Foi publicada no dia 7 de Julho a terceira encíclica do nosso Papa Bento XVI, a qual recebeu o nome de Caritas in Veritate ("Caridade na Verdade"). Esta foi também a primeira encíclica social do Papa, ou seja, a sua primeira encíclica a versar sobre a Doutrina Social da Igreja (i.e. a parte da doutrina da Igreja que trata sobre a realidade social e colectiva da Humanidade).



A data da publicação desta encíclica tem muito significado. Em primeiro lugar, o documento foi assinado pelo Papa no dia 29 de Junho, ou seja, na Solenidade de S. Pedro e de S. Paulo (um dia santo). Deste modo, esta encíclica invoca a proteção de S. Pedro (reforçando a sua autoridade papal) e de S. Paulo (para que as suas palavras possam disseminar-se por todos os povos com ardor missionário - uma magnífica forma de terminar o Ano Paulino).


Além disso, esta encíclica foi publicada aproximadamente quarenta anos após a encíclica Populorum Progressio do Papa Paulo VI (à qual, aliás, Bento XVI faz constantes referências no seu texto).
Isto é bastante significativo.
A primeira encíclica social da Igreja foi escrita pelo Papa Leão XIII (denominando-se Rerum Novarum)... e a segunda foi publicada exactamente quarenta anos depois (sob o sugestivo nome de Quadragesima Anno). Desta forma, o Papa Bento XVI parece estar a sugerir uma importância da Populorum Progressio semelhante à da Rerum Novarum.



Finalmente, a publicação da Caritas in Veritate deu-se na véspera de mais uma reunião dos G8 (que compreende os líderes dos 7 países mais industrializados e da Rússia) que se deu em Itália, a poucos quilómetros do Vaticano. Muito apropriado, uma vez que as palavras de Bento XVI se dirigem sobretudo a essas potências mundiais.






Claro que (como tudo o que diz respeito ao Papa Bento XVI) já houve opinion-makers que se apressaram a comentar sobre aquilo que não sabem, deturpando a mensagem do pontífice. Afirmam que, finalmente, a Igreja se modernizou (que é sinónimo de dizer que "virou à Esquerda"... que finalmente está alerta para os problemas sociais). Isto é, claro, uma grande injustiça e uma grande falsidade.



É uma injustiça porque a Igreja sempre teve (desde os seus primórdios) uma grande preocupação social. Mesmo nos tempos em que era apontada como o "ópio do povo" por um certo filósofo alemão, a Igreja já intercedia junto dos patrões pelos direitos dos trabalhadores.



É uma falsidade porque a Igreja não "virou à Esquerda". Nem a Doutrina Social da Igreja é de "direita". A Doutrina Social da Igreja sempre tentou (desde Leão XIII) ser uma "terceira via", uma alternativa quer ao capitalismo, quer ao comunismo/socialismo. Portanto, a Doutrina Social da Igreja não é de Esquerda nem de Direita, pois transcende essas noções.



A Doutrina Social da Igreja assenta no princípio de que as estruturas político-económicas devem agir de acordo com um equilíbrio entre a Solidariedade e a Subsidiariedade (Liberdade). Um equilíbrio que tem como principal finalidade a defesa absoluta da Dignidade Humana de cada um (ou seja, o Bem Comum).



A Esquerda sacrifica a Liberdade no altar de uma Solidariedade enlouquecida. A Esquerda deseja a liberdade absoluta do Estado, à custa da liberdade dos indivíduos.



A Direita sacrifica a Solidariedade no altar de uma Liberdade enlouquecida. A Direita deseja a liberdade absoluta do Mercado, à custa do bem-estar de todos.



A Igreja dá equivalência à Solidariedade e à Liberdade. Nem o Estado nem o Mercado devem ter liberdade absoluta, porque quem exige liberdade absoluta só pode ter um objectivo... a liberdade para praticar o Mal. E o Mal é sempre antítese do Bem Comum (que é o único absoluto da Doutrina Social da Igreja).



Isto é clarificado no parágrafo 39, no qual é dito que o binómio Mercado-Estado corrói a sociedade. Aqui, o Papa está claramente a demarcar-se tanto da posição da Direita como da Esquerda.






Outro dos equívocos que se tem vindo a gerar em torno da encíclica é a de que o Papa Bento XVI terá dado o seu aval à ONU. Peço a atenção dos leitores que, quando o Papa invoca uma Autoridade Mundial, não se está a referir particularmente à ONU. Ou, pelo menos, não à ONU que temos actualmente (que necessita de uma urgente reforma).



O Papa refere a necessidade de uma Autoridade Mundial reconhecida por todos, mas esta tem uma área de actuação restrita a certos campos: a distribuição da riqueza, a regulação dos mercados internacionais, a proteção do meio ambiente, a intendência das migrações... (parágrafo 67)
Por outro lado, esta Autoridade Mundial deve respeitar a Subsidiariedade (parágrafo 57), ou seja, deve resistir à tentação de impôr às culturas locais as ideias de uma certa burocracia elitista e iluminada (coisa que a ONU não faz).
Além disso, o Papa condena explicitamente certas acções da ONU, nomeadamente no âmbito do controlo populacional (parágrafo 28) e da promoção da Cultura da Morte e da Cultura da Trangressão.






Finalmente, os detractores do Papa invocam a separação da Igreja e Estado, em nome de uma laicidade que seria indispensável ao bom funcionamento das estruturas políticas. No entanto, o que estes detractores da Igreja invocam não é laicidade... é laicismo. Ou seja, trata-se de uma tentativa de condicionar o discurso e a doutrina da Igreja no que diz respeito aos temas políticos. Isto é claramente injusto, porque tornaria a Igreja a única instituição social sem qualquer voz nestes domínios da sociedade. Geralmente, esta acusação visa apenas calar uma voz incómoda para a ideologia do acusador. A Igreja tem o imperativo ético de guiar os seus fiéis para uma vivência cristã... e essa vivência inclui, também, a acção dos fiéis a nível social e colectivo. Tais intervenções em nada põem em risco a laicidade. A separação da Igreja e do Estado não significa a separação entre Fé e Política.
Mas o Papa explica muito melhor do que eu a pertinência da Doutrina Social da Igreja num mundo laico e secularizado. Basta ler os parágrafos 9, 11 e 29.





Deste modo, sugiro encarecidamente a todos os católicos (e aos não-católicos de boa vontade) a leitura desta encíclica. Podem consulta-la aqui. Como se trata de um texto muito denso e extenso, tomei a liberdade e resumir a encíclica nos posts abaixo. Tentei não me afastar do significado pretendido pelo Papa e, se o fiz, peço que me corrijam. Além disso, faço notar que o meu resumo não substitui a leitura do original, uma vez que o resumo não contem o encadeamento das ideias ou a riqueza literária da encíclica. Pretendi, isso sim, facilitar a leitura da encíclica por aqueles que estejam menos familiarizados com a Doutrina Social da Igreja, para que estes possam aceder aos maravilhosos conteúdos e verdades que este magnífico texto encerra.



Boa leitura!

Introdução

1 – A Caridade na Verdade é a verdadeira vocação do Homem, porque Deus é Caridade (1 Jo 4:8-16) e Verdade (Jo 14:6).

2 – A Caridade é o maior dom de Deus aos homens, sendo a base fundamental de todas as relações humanas (quer em pequena quer em larga escala). É esse o alicerce da Doutrina Social da Igreja. No entanto, a Caridade é muitas vezes ignorada e a Verdade relativizada nessas relações humanas em larga escala (âmbito social, político, económico, jurídico…). É por isso que é fundamental a aliança entre a Caridade e a Verdade (não só expor a Verdade com Caridade, mas também praticar a Caridade na Verdade). Só assim é possível valorizar ambas.

3 – “Só na Verdade é que a Caridade refulge”. Sem Verdade, a Caridade cai presa no emotivismo, ou seja, o Amor passa a significar tudo o que as emoções e opiniões dos indivíduos assim o desejem (podendo até chegar a significar o oposto do Amor). Mas a Verdade ilumina a Caridade, com a luz da Razão e da Fé.

4 – Só se a Caridade for entendida na Verdade (logos) será possível à Caridade ser comunicada (dia-logos). Sem Verdade, a Caridade não é fonte de comunicação nem de comunhão. Pelo contrário, sem Verdade, a Caridade torna-se apenas uma mescla de bons sentimentos que, sendo subjectiva, é excluída dos projectos públicos. A Caridade na Verdade exige a adesão aos valores cristãos.

5 – A Caridade é Amor recebido (graça) por Deus. Nós fomos criados pelo Amor do Pai e recriados pelo Amor do Filho. Ao termos recebido o Amor como graça de Deus, somos chamados a dá-lo também aos nossos irmãos. A Caridade é Amor recebido e dado. À Doutrina Social da Igreja cabe tentar aplicar este conceito de Caridade à sociedade (caritas in veritate in re sociali). Sem Verdade, a actividade social torna-se vítima de interesses privados subjectivos e lógicas de poder, o que tem efeitos destrutivos na sociedade.

6 – Existem dois eixos da Doutrina Social da Igreja nos quais o princípio da Caritas in Veritate é fundamental: a Justiça e o Bem Comum. A Justiça é parte essencial da Caridade e não existe Caridade sem Justiça (não faz sentido dar ao Outro o que é “meu”, sem antes dar ao Outro o que é “dele” por justiça). No entanto, a Caridade transcende a Justiça, pois completa-a com a lógica do dom e do perdão. A Justiça permite a construção da Cidade do Homem.

7 – Amar alguém é procurar o seu bem. Portanto, o Bem Comum é um Amor que procura o bem de todos os indivíduos, enquanto membros da comunidade social (que é o único local onde eles podem encontrar o seu próprio bem). Nesse sentido, há indivíduos que podem manifestar a sua caridade na procura do Bem Comum, nomeadamente a nível político. A Caridade, neste âmbito, permite a construção da Cidade de Deus (a qual transcende a Cidade do Homem).

8 – É fundamental relembrar a encíclica Populorum Progressio do Papa Paulo VI, cujo tema era o desenvolvimento humano integral dos povos (um desenvolvimento que tem como primeiro e principal factor o anúncio de Cristo). O objectivo da encíclica Caritas in Veritate é actualizar a Populorum Progressio 40 anos depois da sua publicação (algo que o Papa João Paulo II já havia feito 20 anos após a publicação da Populorum Progressio, com a encíclica Sollicitudo Rei Socialis).

9 – Só através da Caridade na Verdade é possível um desenvolvimento humano integral. A Igreja não pode imiscuir-se nos deveres do Estado, mas tem um dever fundamental na defesa da Verdade, para que se crie uma sociedade à medida do Homem. Por isso, o Amor à Verdade leva a Igreja a anunciar também a sua Doutrina Social, que tem implicações políticas.

Capítulo I – A Mensagem da Populorum Progressio

10 – A releitura actual da Populorum Progressio deve ter em atenção as novas realidades que entretanto se geraram… mas não pode esquecer as suas raízes, i.e. a Tradição Apostólica.

11 – A publicação da encíclica Populorum Progressio deu-se quase imediatamente após o Concílio Vaticano II, tendo sido inspirada por este (particularmente pela constituição pastoral Gaudium et Spes). O Concílio Vaticano II reconheceu duas verdades que são reafirmadas na Populorum Progressio:
a) “a Igreja inteira, em todo o seu ser e agir, quando anuncia, celebra e actua na caridade, tende a promover o desenvolvimento integral do homem” – pelo que a acção da Igreja para o desenvolvimento não se esgota na acção sócio-caritativa. Portanto, a limitação abusiva da acção da Igreja (seja por perseguições religiosas, seja pela proibição do seu papel público para além das actividades sócio-caritativas) é um obstáculo ao desenvolvimento humano.
b) “o autêntico desenvolvimento do homem diz respeito unitariamente à totalidade da pessoa em todas as suas dimensões” – pelo que o desenvolvimento humano não se pode fechar ao transcendente. Se tal acontecer, o desenvolvimento humano foca-se demasiado no Ter em vez de no Ser. Corre-se o risco de julgar que basta a reforma das instituições humanas para que ocorra o desenvolvimento, sem que se perceba que tal desenvolvimento apenas se pode dar quando todos assumem livremente as suas responsabilidades. Sem Deus, nunca podemos encontrar uma imagem divina no próximo e, logo, teremos mais dificuldades em amá-lo.

12 – Não é correcto dividir a Doutrina Social da Igreja em diferentes fases (nomeadamente uma fase pré-conciliar e outra pós-conciliar). A Doutrina Social da Igreja é “um único ensinamento, coerente e simultaneamente sempre novo”. Ou seja, a Doutrina Social da Igreja é uma componente constante e permanente da Tradição Apostólica que permite interpretar em cada tempo os novos problemas que vão surgindo e as novas soluções que devem ser encontradas.

13 – A encíclica Populorum Progressio não só se insere na Doutrina Social da Igreja, como no próprio magistério do Papa Paulo VI, cujo pontificado se focou nas questões sociais, na necessidade da mensagem cristã para o verdadeiro desenvolvimento e na importância da resistência às debilidades éticas do seu tempo.

14 – Posteriormente, o mesmo Papa Paulo VI publicou a encíclica Octogesima Adveniens, na qual condenava as ideologias utópicas, quando utilizadas na política divorciadas da ética e dignidade humanas. Particularmente condenáveis são a ideologia tecnocrática (que põe a ênfase do desenvolvimento apenas na técnica, sem qualquer orientação ética) e a ideologia anti-tecnocrática (que considera todo e qualquer desenvolvimento como negativo, propondo, outrossim, um regresso à simplicidade da Natureza, esquecendo que o desenvolvimento humano é parte integrante do próprio Homem). Em ambas estas ideologias diametralmente opostas separa-se o desenvolvimento humano da ética e, logo, da responsabilidade que todos temos no desenvolvimento humano.

15 – Também é importante realçar outros dois documentos do Papa Paulo VI que, embora não directamente ligados à Doutrina Social da Igreja, encontram-se interligados com ela:
a) A Encíclica Humanae Vitae, que tratava do significado simultaneamente unitivo e procreativo da sexualidade; Como tal, a base da sociedade assenta na união de um casal aberto à vida
b) A Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, que se focava na evangelização; Como o anúncio do Reino de Cristo é fundamental para o desenvolvimento humano integral, não é possível separar a Doutrina Social da Igreja do espírito missionário

16 – Na Populorum Progressio, o Papa Paulo VI diz-nos que o desenvolvimento é uma vocação, porque Deus chama todo o Homem a desenvolver-se através da sua vida, mas o Homem tem de dar o seu assentimento livre. É precisamente por causa do facto de o desenvolvimento ser uma vocação, que a Igreja tem a legitimidade de intervir nas questões do desenvolvimento.

17 – A vocação do desenvolvimento exige uma resposta livre e responsável, pelo que nenhuma estrutura ou instituição pode garantir tal desenvolvimento sobrepondo-se a essa liberdade e responsabilidade de cada indivíduo. É esse o perigo das ideologias utópicas que, longe de respeitarem a vocação de cada humano no seu próprio desenvolvimento, consideram os indivíduos como meios para atingirem um fim (o desenvolvimento). Para o Papa Paulo VI a importância das estruturas sociais no desenvolvimento exigia uma igual ênfase na importância da responsabilidade individual nesse desenvolvimento.

18 – Além da liberdade, o desenvolvimento humano integral deve respeitar a Verdade. Deste modo, impõe-se a questão “Qual é a Verdade acerca do desenvolvimento?”. A Verdade é esta: “O desenvolvimento autêntico deve ser integral, ou seja, promover todos os homens e o homem todo”. Deste modo, o Evangelho é fundamental, porque lá Cristo “revelou o Homem ao próprio Homem”. O Homem deve dar o seu “sim” à vocação de desenvolvimento que Deus lhe deu. O Homem não deve parar de se desenvolver, tendo sempre em conta a abertura ao transcendente.

19 – Finalmente, a noção do desenvolvimento humano como uma vocação pressupõe a centralidade da Caridade nesse desenvolvimento humano. Como tal, o subdesenvolvimento que existe nos nossos dias não reside apenas em factores de ordem material, mas sobretudo na falta de Solidariedade, de um pensamento ordenado para o Bem Comum, e de fraternidade. Essa fraternidade não pode ser obtida apenas pelos homens… é só através de Deus que essa fraternidade é possível, porque foi Deus Quem nos ensinou a fraternidade através de Cristo. “A globalização pode tornar-nos vizinhos, mas não nos torna irmãos”.

20 – Por tudo isto, a encíclica Populorum Progressio permanece actual e ilumina todos os subsequentes contributos para a Doutrina Social da Igreja. Resta sublinhar a urgência das reformas tendo em vista a justiça dos povos, porque a fraternidade entre todos os homens é um objectivo urgente e que requer coragem e decisão. A Caridade de Cristo a isso nos impele. Também aqui é imprescindível o exercício da Caridade na Verdade.

Capítulo II – O desenvolvimento humano no nosso tempo.

21 – O Papa Paulo VI tinha uma visão holística do desenvolvimento dos povos: a nível económico, promovia a sua participação activa e em pé de igualdade nos processos económicos internacionais; a nível social, uma evolução para sociedades mais instruídas e solidárias; a nível político, a consolidação de regimes democráticas capazes de assegurar a liberdade e a paz. Por outro lado, a crise económica em que hoje nos encontramos mergulhados nasceu da tecnocracia que coloca o lucro como um fim em si mesmo e não como um meio para atingir o Bem Comum. Deste modo, esta crise económica é uma oportunidade de discernimento que nos possibilitará refundar um novo espírito humanista, o qual permitirá encontrar as soluções para a crise.

22 – O desenvolvimento é policêntrico, ou seja, é demasiado complexo para ser interpretado simplisticamente por meras ideologias. E, embora a riqueza tenha crescido desde os tempos da Populorum Progressio, também cresceram as desigualdades. Estas desigualdades têm origem em interesses económicos e factores culturais tanto dos países desenvolvidos (que tentam reter a riqueza) como dos países em vias de desenvolvimento (que resistem ao desenvolvimento).

23 – Não é suficiente progredir no ponto de vista económico e tecnológico (embora isso seja bom), mas é fundamental progredir também humano (o “desenvolvimento humano integral”). Com a queda do bloco comunista em 1989, o Papa João Paulo II apelou a que esses países (e todos os outros) revissem a sua definição de desenvolvimento à luz destes factos… o que foi posto em prática apenas parcialmente…

24 – Nos tempos do Papa Paulo VI, a globalização ainda se encontrava num estado embrionário. Como a economia era maioritariamente local, o Estado tinha o poder de regular a sua própria actividade produtiva e económica. Hoje em dia, com um mundo globalizado, o poder do Estado encontra-se limitado nesta matéria. Por isso, dada a crise económica actual, talvez seja prudente, em vez de colocar uma confiança excessiva nos poderes públicos do Estado… tentar avaliar qual é a verdadeira função do Estado e estimular a actividade de estruturas intermediárias (p.ex. organizações) que são mais representativas dos cidadãos e os tornam mais activos na sociedade.

25 – Numa tentativa de aumentar a produção e o capital, e de aumentar a competitividade num mundo globalizado, muitos países optaram por uma desregulamentação do mercado de trabalho, permitindo a deslocalização das empresas para países em que os custos de produção são mais baixos. Tal desregulamentação produziu um enfraquecimento dos sistemas de segurança e previdência públicos e privados, bem como dos sindicatos, impedindo-os de executar a sua função de procurar a justiça social. Por outro lado, ao aumentar a desumanização do trabalho e o desemprego, esta desregulamentação produz muitos problemas psicológicos, económicos, familiares e espirituais aos indivíduos. Os governantes não devem nunca esquecer que “primeiro capital a preservar e valorizar é o homem, a pessoa, na sua integridade” e que “com efeito, o homem é o protagonista, o centro e o fim de toda a vida económico-social

26 – Também a nível cultural o mundo modificou-se muito desde a publicação da Populorum Progressio: as culturas já não são impermeáveis, mas existe uma grande interacção cultural. Isto é positivo, mas pode acompanhar-se de dois grandes erros:
a) O ecletismo cultural – que considera todas as culturas como iguais e intercambiáveis, o que redunda num relativismo que acaba por destruir o diálogo entre as culturas
b) O nivelamento cultural – que procura homogeneizar todas as culturas, perdendo-se, assim, a riqueza cultural da diversidade
Ambos os erros separam a cultura da natureza humana, reduzindo o indivíduo a um dado contexto cultural.

27 – A fome ainda é um mal muito disseminado a nível mundial. Alimentar o faminto é uma das obras de misericórdia que um cristão deve ter. Nos países em vias de desenvolvimento, a fome não é gerada apenas por uma escassez material, mas também por falta de suporte organizacional e institucional. Nesse sentido, será fundamental investir na agricultura dos países pobres e dota-los de infra-estruturas e tecnologias que lhes permitam uma reforma agrária. Aqui encontra-se uma das soluções para a presente crise económica internacional… não só os países pobres poderiam escapar à fome e ganhar alguma autonomia, como os países ricos poderiam encontrar nesta nova produção dos países pobres um sustento em termos de matéria-prima. Deste modo, países desenvolvidos e subdesenvolvidos cooperariam para sair da crise. O direito ao alimento e à água é um direito humano, porque está intimamente ligado ao direito à vida.

28 – O direito à vida está no centro do verdadeiro desenvolvimento. Por isso, é preocupante uma tendência recente para limitar ao máximo a abertura à vida, nomeadamente através da contracepção, do aborto e da eutanásia. Particularmente nos países desenvolvidos, esta mentalidade tornou-se já disseminada e é exportada para os países subdesenvolvidos como Progresso. Também lamentáveis são as acções de várias Organizações Não Governamentais que pressionam os Estados neste âmbito, por vezes forçando esterilizações em mulheres (mesmo sem que estas o saibam) ou condicionando a ajuda económica às políticas antinatalistas implementadas pelos governos dos países em vias de desenvolvimento. A dignidade da vida humana é a razão da importância do desenvolvimento. Sem abertura à vida, não existe motivação nem empenho pelo verdadeiro desenvolvimento humano.

29 – Também intrinsecamente ligado ao desenvolvimento está o direito à liberdade religiosa. Neste âmbito há, mais uma vez, dois erros que atentam contra este direito:
a) O fanatismo religioso – que propaga a violência e, portanto é um obstáculo ao desenvolvimento e cooperação entre os povos.
b) A promoção do ateísmo prático – que retira Deus da equação do desenvolvimento e que, ao retirar recursos espirituais às pessoas, impede o desenvolvimento humano integral (que, como já foi dito, tem a sua origem em Deus). Particularmente lamentável é a exportação deste ateísmo prática para os países subdesenvolvidos sob o disfarce de Progresso.

30 – Além dos vários domínios do desenvolvimento humano integral, é fundamental fazer interagir todos os diversos níveis do saber humano, para que a acção social se norteie por uma doutrina coerente. O saber, só por si, não consegue atingir o desenvolvimento humano integral sem ser temperado pelo amor. Mas o amor não exclui o saber, antes complementa-o.

31 – Isto quer dizer que a Ética e a Ciência devem ser harmonizadas, e é a Caridade quem está em melhor posição de o fazer. O saber deve ser interdisciplinar, sem excluir também os domínios da Metafísica e da Teologia, sem os quais a Ciência não consegue contribuir para o desenvolvimento INTEGRAL do Homem. A Doutrina Social da Igreja tem, nesse aspecto, um importante componente interdisciplinar.

32 – Os novos problemas sociais requerem novas soluções, as quais devem sempre ter em consideração esta visão holística do Ser Humano. A dignidade da pessoa humana, nomeadamente, obriga a que estas soluções não aumentem as desigualdades sociais nem o desemprego. E isto não apenas devido a motivos humanistas (que, apesar de tudo, são os mais importantes), mas também por motivos económicos. As desigualdades sociais destroem a coesão social (alimentando ideologias antidemocráticas), as relações de confiança e cooperação (sem a qual a produção de bens está em risco) e a criatividade. Deste modo, medidas a curto prazo que visem aumentar a competitividade de um país diminuindo a tutela dos direitos dos trabalhadores, irão provocar recessão económica a longo prazo. É urgente uma reflexão sobre o sentido da economia e os seus fins. E é preciso ter em conta que “custos humanos acarretam sempre custos económicos”.

33 – Assim, passados quarenta anos desde a publicação da encíclica Populorum Progressio, vemos que esta previu e alertou (quer intuitivamente, quer expressamente) para muitos dos problemas sociais que encontramos hoje. No entanto, o fenómeno mais importante que esta encíclica pressentiu foi a interdependência mundial (conhecida como globalização). Esta globalização pode ser uma oportunidade para levar a cabo o desenvolvimento humano integral, mas apenas se animada pela Caridade na Verdade. Quarenta anos após a Populorum Progressio, o progresso continua um problema em aberto. Devemos colocar a Razão ao serviço da resolução deste problema.

Capítulo III – Fraternidade, Desenvolvimento Económico e Sociedade Civil

34 – A Caridade na Verdade também coloca o Homem perante a experiência do dom. O Homem, enquanto imagem e semelhança de Deus, foi criado para se dar. Tal facto, por vezes, é ensombrado por uma visão utilitarista do ser humano, segundo a qual a economia não carece de se subordinar à ética. Esta perspectiva utilitarista ignora o Pecado Original do Homem, que foi, precisamente, a presunção de ser auto-suficiente e de construir um mundo melhor apenas com base nas suas próprias forças, sem qualquer intervenção de Deus. Um mundo melhor e mais fraterno, apenas pode ser conseguido através da Caridade na Verdade, que não é mérito do Homem, mas doação de Deus. Por isso, a importância do dom. A economia deve (sem prejuízo do valor da Justiça) integrar também o princípio da Gratuidade.

35 – O Mercado é a “instituição económica que permite o encontro entre as pessoas, na sua dimensão de operadores económicos que usam o contrato como regra das suas relações e que trocam bens e serviços entre si fungíveis, para satisfazer as suas carências e desejos”. Todavia, o Mercado necessita de Solidariedade e de Confiança para funcionar devidamente. Como o Mercado não consegue criar, por si só, esta Solidariedade e esta Confiança, é necessário que ele se abra às energias morais de outros sujeitos, capazes gerar essa Solidariedade e essa Confiança. Não basta a Justiça Comutativa (que regula as relações económicas entre os sujeitos com base na equivalência dos bens e/ou serviços prestados), mas é necessária também uma Justiça Distributiva e uma Justiça Social. Assim, por exemplo, os países ricos não devem considerar os países pobres como um “fardo” mas devem compreender que eles próprios se beneficiam economicamente com a prosperidade dos países em vias de desenvolvimento (como o Papa Paulo VI alertava na encíclica Populorum Progressio).

36 – Portanto, o Mercado não pode, por si só, resolver os problemas sociais (nomeadamente os provocados pela globalização), principalmente se estiver subordinado a uma lógica mercantilista. Todavia, não nos podemos esquecer de que a economia é uma actividade profundamente humana e, logo, benéfica. Consequentemente, não é lícito cair no erro oposto de demonizar o Mercado. O Mercado é bom, mas não é um fim em si mesmo… é um meio, que pode ser deturpado por certas ideologias. É possível introduzir o princípio da Gratuidade no Mercado, sem desvirtuar o seu funcionamento.

37 – A Economia, em todas as suas fases, carece de Justiça porque a Economia, lidando com o Homem, possui sempre um valor moral. Com a globalização dos processos económicos, é cada vez mais difícil que a política assegure esta Justiça na economia, uma vez que a política permanece circunscrita a um dado espaço territorial. Como tal, é fundamental assegurar que o próprio desenrolar de todas as fases do processo económico é efectuado com Justiça. É necessário complementar a Justiça Comutativa com uma Justiça Política (ou seja, com leis justas e formas de redistribuição), não esquecendo a lógica do dom.

38 – Na encíclica Centesimus Annus, o Papa João Paulo II identificou três sujeitos no sistema social: o Mercado, o Estado e a Sociedade Civil, atribuindo a esta última a maior responsabilidade na economia da gratuidade. Hoje, sabe-se que a economia da gratuidade deve ser transversal a todos os três sujeitos. Por um lado, a Solidariedade (que significa que “todos se devem sentir responsáveis por todos”) não pode ser delegada apenas no Estado. Por outro lado, sem Solidariedade, não é possível haver Justiça (a Solidariedade não nasce espontaneamente a partir da Justiça). Por isso, é fundamental que o Mercado permita a participação económica em completa igualdade tanto das empresas privadas que buscam somente o lucro, como das empresas públicas, como ainda de empresas cuja produção é orientada para fins mutualistas e sociais. Caridade na Verdade significa fomentar estas últimas empresas que, sem negar a procura do lucro, visam ir mais além da lógica da troca de equivalentes. Quiçá, estas empresas poderão influenciar as outras, tornando mais visível e praticável a economia da gratuidade.

39 – É imprescindível criar uma economia verdadeiramente humana, em que “o progresso de uns não seja obstáculo para o progresso dos outros”. Neste sentido, é de notar que o Mercado apenas pode criar uma lógica de “dar para ter”, enquanto o Estado apenas pode criar uma lógica de “dar por dever”. Ambas são incompletas, fecham-se ao princípio da gratuidade e (se o Mercado e o Estado se puserem de acordo entre si com o único fim de preservarem as respectivas esferas de influência) irão erodir a Solidariedade na Sociedade Civil. “O binómio exclusivo Mercado-Estado corrói a sociabilidade”. É importante uma “progressiva abertura, em contexto mundial, para formas de actividade económica caracterizadas por quotas de gratuidade e de comunhão”, as quais têm origem sobretudo (mas não só) na Sociedade Civil.

40 – É necessária uma profunda mudança na forma actual de se conceber a empresa. O empresário não deve satisfações apenas aos accionistas da sua empresa, mas também aos trabalhadores, aos clientes, à economia envolvente e ao meio ambiente. Um exemplo paradigmático é o da deslocalização de empresas. Por vezes, tal leva em conta apenas os interesses dos accionistas, os quais não se encontram ligados a um único espaço territorial. Embora a deslocalização possa trazer um bem à empresa que não poderia ser obtido no local de origem, é imprescindível evitar a especulação (empobrecendo o país de origem onde foram produzidos os recursos, que então não têm retorno). E, tal como a deslocalização pode trazer bem ao país que recebe o investimento, é fundamental evitar a exploração. Deste modo, embora a deslocalização possa ser lícita, deve ser utilizada com um grande sentido de responsabilidade social.

41 – É preciso elaborar uma concepção do “espírito empresarial” que vá além da do empresário privado capitalista ou da do empresário público. Ou seja, o “espírito empresarial” deve transcender o binómio Mercado-Estado. Este “espírito empresarial” deve ter um significado polivalente e articulado com as diversas realidades. Na verdade, pode-se dizer que todo o trabalhador tem, intrinsecamente à sua actividade, um certo espírito empresarial.
De igual modo (e pelas mesmas razões) também o conceito de “autoridade política” deve ser polivalente e articulado com as diversas realidades, transcendendo o binómio Mercado-Estado. Esta autoridade política pode ser um elemento-chave em muitos países para solucionar a actual crise, mas é importante que esta se articule a nível das diversas instâncias locais, nacionais e internacionais. Além disso, esta autoridade política não deve monopolizar a solução da crise, porque vários agentes culturais, sociais e religiosos. Finalmente, a ajuda internacional não pode ser puramente económica, mas deve focar-se na consolidação do Estado de direito, bem como em instituições políticas e jurídicas que promovam o crescimento económico.

42 – A globalização não é uma realidade condicionada por forças anónimas ou deterministas, mas é a expressão de uma actividade humana: a tentativa da reunião da família humana no sentido de criar um maior bem para todos. Portanto, é um erro tão grande opor-se cegamente à globalização, como apoia-la cegamente. A globalização não é boa nem má em si mesma… a bondade ou a maldade da globalização depende do que se fizer dela. A globalização tanto pode ajudar na redistribuição da riqueza, como da pobreza. Tanto pode ser usada com objectivos egoístas e utilitaristas, como de forma ética e responsável. Uma boa globalização é orientada pela Caridade na Verdade.

Capítulo IV – Desenvolvimento dos Povos, Direitos e Deveres, Ambiente

43 – Há pessoas que alimentam a pretensão de nada deverem a ninguém a não ser a si mesmas, considerando-se apenas portadoras de direitos e sem maturidade para assumir os deveres correspondentes. Quando tal sucede, os direitos “enlouquecem” e entram numa espiral de reivindicações sucessivas e infindáveis. Deste modo, por vezes, vêem-se grandes desequilíbrios a nível dos direitos: nos países desenvolvidos luta-se por direitos arbitrários, supérfluos e, por vezes, até prejudiciais e libertinos, enquanto nos países não desenvolvidos não estão assegurados sequer os direitos básicos. A interpretação dos direitos só é correcta se efectuada em relação aos deveres. “A partilha de deveres recíprocos mobiliza muito mais do que a mera reivindicação de direitos”. E a Solidariedade é um dever.

44 – A problemática do desenvolvimento humano integral, dos direitos e dos deveres abrange ainda o âmbito do crescimento demográfico. Muitos Estados e Organizações internacionais alimentam a noção errada de que o excesso populacional é a principal causa do subdesenvolvimento. Tal política tem vindo a criar graves atentados aos valores irrenunciáveis da Vida e da Família. Além disso, é uma política errada mesmo do ponto de vista económico, como se pode depreender das consequências económicas negativas que o Inverno demográfico tem suscitado em vários países (outrora) desenvolvidos. É necessária uma mentalidade “aberta à vida”, que promova a beleza e a importância da Família e do Matrimónio (entendido como a união entre um homem e uma mulher, que é a célula básica e fundamental de toda a sociedade). O Estado deve promover também a Família e o Matrimónio, quer a nível institucional, quer a nível económico. Finalmente, o Estado não pode impor uma Educação Sexual materialista e redutora, que considere apenas necessário a prevenção das gravidezes indesejadas e das doenças sexualmente transmissíveis, ignorando a complexidade e a intimidade humanas do acto sexual… além de que o Estado não pode usurpar a primazia dos pais neste domínio da Educação Sexual.

45 – A Economia apenas consegue funcionar devidamente se o fizer de uma forma ética. Nesse aspecto, são de louvar as recentes iniciativas que visam introduzir uma ética de mercado, nomeadamente a nível de cursos, formações, certificados e projectos. Todavia, tais iniciativas “éticas” não bastam… é preciso alargar a Ética a toda a economia e não só a essas iniciativas. Além disso, é fundamental definir muito bem o que significa Ética (sob o risco de se poder apelidar de ético mesmo aquilo que não o é). Para a Doutrina Social da Igreja, a Ética fundamenta-se no facto de o Homem ser a imagem e semelhança de Deus. Ou seja, a Ética deve alicerçar-se em dois princípios: a inviolabilidade da dignidade humana e o valor transcendente das normas morais.

46 – Não se pode diferenciar a Ética das empresas apenas na distinção entre empresas profit e non-profit. Isto porque tem vindo a crescer, nos últimos anos, uma categoria intermédia, ou seja, a de empresas que buscam o lucro, mas que também utilizam os seus recursos e riquezas para o melhoramento da sociedade e a sua humanização. Tais empresas devem ser estimuladas e ser devidamente regulamentadas, sem prejuízo das outras duas categorias (que devem continuar a existir, porque a “pluralidade das formas institucionais de empresa gera um mercado mais humano e simultaneamente mais competitivo.”

47 – As intervenções que visam aumentar o desenvolvimento devem sempre encontrar um equilíbrio entre a Solidariedade (porque os países pobres não conseguem sair sozinhos da sua situação de indigência) e a Subsidariedade (as intervenções devem ter um carácter de proximidade para com as pessoas envolvidas, de forma a que os beneficiários possam assumir os seus deveres no mundo). “São os povos os autores e primeiros responsáveis do próprio desenvolvimento. Mas não o poderão realizar isolados”. Todas as iniciativas neste âmbito deverão ser avaliadas e devidamente monitorizadas, porque não existem fórmulas de sucesso universais.
Também a cooperação internacional realizada a nível de Organismos internacionais ou Organizações Não Governamentais deve ter isso em conta. Nomeadamente, deve existir uma grande transparência a nível destes organismos/organizações, para que os fundos a eles dirigidos não sejam consumidos em pura burocracia.

48 – Também é importante não esquecer a responsabilidade do Homem em relação ao meio ambiente. Este não é (tal como o Homem) um mero fruto de um acaso evolutivo, mas é um dom do Amor de Deus (ou seja, o meio ambiente também é uma “vocação”). Nesse sentido, convém evitar dois erros opostos: o de abusar da Natureza, destruindo-a sem escrúpulos; e o de considerar a Natureza como intocável, por vezes como superior ao Ser Humano. Uma atitude cristã considera que a Natureza está ao dispor do Homem, desde que este respeite o seu equilíbrio intrínseco.

49 – Neste âmbito sobressai a questão da crise energética. O monopólio dos recursos energéticos pelos países mais ricos leva ao subdesenvolvimento dos mais pobres, conduzindo, muitas vezes, a conflitos no seio dos mesmos. É fundamental a pesquisa de novas formas de energia (nomeadamente renováveis) e de formas de aumentar a eficiência energética. Mas a própria comunidade internacional deve zelar para que os recursos energéticos sejam devidamente redistribuídos. Por isso (e também pela questão ecológica) seria aconselhável que os cidadãos de países mais desenvolvidos diminuíssem o seu consumo energético.

50 – O governo responsável sobre a Natureza é um dever, não só para toda a nossa família humana presente, mas também para as gerações futuras. A economia tem como princípio um uso mais eficiente dos recursos. É forçoso que a comunidade internacional coopere no sentido de uma maior protecção ambiental.

51 – É importantíssimo compreender que existe uma relação entre a forma como se trata o meio ambiente e a forma como se trata o Homem. O desrespeito pelo Homem leva ao desrespeito pelo meio ambiente e vice-versa. Por exemplo, muitos recursos naturais são destruídos por causa da pobreza e da guerra, que são problemas humanos. A ecologia ambiental pressupõe uma adequada ecologia humana, porque o Homem também faz parte da Natureza. Nesse sentido, o desrespeito e a manipulação da vida humana é um atentado contra a própria Natureza… são, por isso, condenáveis, os atentados ao direito à vida ou à morte natural ou a destruição de embriões humanos para a pesquisa científica ou o seu uso para as técnicas de procriação artificial. Mais do que um problema económico ou educativo, a ecologia (humana e ambiental) é um problema moral das sociedades e requer uma mudança de mentalidades. Particularmente nos países desenvolvidos, urge abandonar a mentalidade hedonista e consumista tão prevalente aí.

52 – Em resumo, o verdadeiro desenvolvimento é uma vocação, porque é um dom de Deus. Não depende apenas do Homem, mas do Amor e da Verdade, sendo que apenas Deus é totalmente Amor e totalmente Verdade. Nenhum desenvolvimento humano integral pode prescindir de Deus.

Capítulo V – A colaboração da família humana

53 – “Uma das pobrezas mais profundas que o Homem pode experimentar é a solidão”. Esta solidão provém de um encerramento do Homem em si mesmo, fechando-se aos outros e a Deus. Na verdade, muita da pobreza (como já vimos) vem também desta mesma ausência de Deus. Por isso, o Homem apenas se constrói quando cria relações interpessoais com os outros e com Deus. Nesse aspecto, a solução para muitos problemas sociais poderia ocorrer simplesmente se a Humanidade aprendesse a viver em comunhão (constituindo uma verdadeira “família humana”) e se deixasse de rejeitar o significado transcendente e espiritual da sua necessidade de socialização. Só tornando-se como uma família, é possível à Humanidade construir uma sociedade que não absorva a individualidade de cada um (como, infelizmente, acontece em muitos regimes totalitários, alimentados por ideologias que se encerram em si próprias e rejeitam Deus).

54 – Para a constituição de uma verdadeira família humana, é bastante útil considerar o conceito teológico da Santíssima Trindade. Deus (que é a própria Trindade) é um só, e cada uma das Pessoas que constituem a Trindade é pura relação com as outras, através do Amor. É este o modelo que a verdadeira comunhão humana deve seguir.

55 – A religião cristã pressupõe um conceito metafísico de humanidade, em que a relação social é central. Várias religiões e culturas fomentam esse mesmo espírito, que é condição imprescindível para a Caridade na Verdade. Infelizmente, muitas religiões e culturas afastam-se desta Caridade na Verdade, afirmando-se apenas como fontes de bem-estar psicológico, gerando um certo individualismo religioso. Tal contribui para um maior isolamento das pessoas e, como tal, a uma diminuição da sua humanidade e, logo, do seu desenvolvimento. A globalização tem contribuído para disseminar estas formas de sincretismo religioso. Além disso, muitas culturas e religiões atentam mesmo contra a dignidade da pessoa humana. Por isso, é forçoso que se tenha em conta que liberdade religiosa não implica indiferentismo religioso (segundo o qual “todas as religiões são iguais”) mas, pelo contrário, obriga a uma maior responsabilidade e discernimento. O critério para avaliar a Caridade na Verdade é o serviço ao “homem todo e a todos os homens” (como sucede no Cristianismo, que é a religião do Deus feito homem).

56 – “A Fé necessita sempre de ser purificada pela Razão”, mas “a Razão também necessita sempre de ser purificada pela Fé”. Nesta Razão inclui-se também a razão política. Excluir a Fé do exercício dos deveres de cidadania empobrece a política e impede o desenvolvimento humano integral. A interacção social fica em risco. As motivações para a Caridade e para a Verdade desaparecem. Os Direitos Humanos são desrespeitados. Neste erro caem duas vertentes diametralmente opostas: o fundamentalismo religioso (que exclui algumas religiões da sua influência na esfera pública) e o laicismo agressivo (que exclui todas as religiões da sua influência na esfera pública).

57 – O diálogo entre Fé e Razão permite o nascimento da Caridade na colaboração dos católicos com todos os outros homens e mulheres de boa vontade (sejam estes crentes de outras religiões, sejam não-crentes). Todavia, a expressão desta Caridade deve sempre ser efectuada à luz do princípio da Subsidiariedade (ou seja, da liberdade e autonomia dos indivíduos e/ou das organizações intermédias em que os indivíduos livremente se associam). Deste modo, é de evitar todo o tipo de assistencialismo paternalista que sacrifique a liberdade individual ou que subestime a contribuição que cada indivíduo pode dar em prol do Bem Comum. Deste modo, embora o Bem Comum de uma sociedade globalizada implique uma autoridade mundial, esta deverá ser sempre respeitadora da Subsidiariedade de cada um.

58 – É fundamental manter sempre um equilíbrio entre os princípios da Solidariedade e da Subsidiariedade, mesmo quando se trata das ajudas internacionais. Com efeito, quando se desrespeita a Subsidiariedade nestas ajudas internacionais, produz-se uma maior pobreza porque se geram mecanismos de dependência. As ajudas internacionais não devem visar apenas os governos locais, mas também, e sobretudo, os agentes económicos locais (p.ex. as igrejas, as organizações, etc…). Também é preciso pugnar pela integração dos países mais pobres nos mercados internacionais, para que estes possam vir a libertar-se da sua dependência das ajudas externas. Finalmente, é imprescindível que toda a ajuda internacional tenha como fim último o recurso supremo: o Ser Humano.

59 – A ajuda ao desenvolvimento permite também um encontro e um diálogo entre as diversas culturas. Este diálogo deve ser feito num clima de respeito mútuo, em que os países mais ricos devem resistir à tentação de impor a sua cultura sobre a dos países ajudados. Todas as culturas possuem as suas virtudes e os seus defeitos, mesmo as das sociedades tecnologicamente mais avançadas. O discernimento do que há de bom e mau em cada cultura é efectuado à luz da Lei Natural (ou seja, o fundamento ético inscrito no coração de todos os homens). A Fé Cristã pode ajudar neste discernimento.

60 – A ajuda ao desenvolvimento dos países mais pobres é uma solução que cria riqueza para todos, mesmo para os países ricos. Isto porque os países pobres, sendo menos desenvolvidos, têm mais possibilidades de investimento.
Mas este princípio da criação de riqueza na ajuda aos mais necessitados aplica-se também internamente, na organização de sistemas de Solidariedade Social com o mínimo de burocracia e com o máximo de eficiência. Neste sentido, é particularmente louvável o princípio da Subsidiariedade Fiscal, segundo o qual cada contribuinte pode destinar uma fracção dos seus impostos ao financiamento de uma instituição de Solidariedade Social.

61 – A Solidariedade implica também a facilitação de um maior acesso à Educação. Esta Educação não compreende apenas a instrução de crianças ou a formação profissional (que são, de resto, iniciativas bastante meritórias e dignas de apoio). A Educação implica uma formação completa e holística da Pessoa, um desenvolvimento humano integral de cada indivíduo. Muitas vezes a pobreza deriva também de uma falta de educação moral das pessoas. Por isso, é de se evitar o relativismo cultural que empobrece as pessoas ao negar-lhes o fundamento para a sua correcta educação moral.
Um exemplo paradigmático é o Turismo. O Turismo pode ser fonte de descanso, divertimento são e até de encontro e diálogo entre culturas. Neste caso, o Turismo é educativo. Porém, o Turismo pode também ser usufruído de forma consumista e hedonista, podendo, inclusive, ser gerador de comportamentos imorais (como é o caso do Turismo Sexual). Quando tal sucede, o Turismo torna-se deseducativo.

62 – Ainda de salientar é a problemática das migrações. Este fenómeno exige uma forte coordenação internacional, particularmente entre os países de origem e os países de chegada dos migrantes. Os imigrantes contribuem também para o desenvolvimento quer dos países de origem (com o influxo monetário que geram) quer dos países de chegada (com o trabalho que produzem). Acima de tudo, os imigrantes são seres humanos e, por isso, devem ser protegidos. Os seus direitos humanos devem ser respeitados e deve-se fazer um esforço concertado no sentido de harmonizar os diversos sistemas legislativos dos países envolvidos nos fluxos migratórios.
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63 – Também se deve recordar a relação íntima que existe entre pobreza e as violações ao direito humano ao trabalho (desemprego, salários injustos, exploração, trabalho infantil, discriminação no emprego, reformas inadequadas). Por isso, é de repetir o repto que o próprio Papa João Paulo II havia lançado, para que se forme uma coligação internacional dos trabalhadores numa organização (como a Organização Internacional do Trabalho) onde estes façam valer os seus direitos.

64 – Também os próprios sindicatos (que sempre foram apoiados pela Doutrina Social da Igreja) devem adaptar-se às novas realidades da globalização. Particularmente, os sindicatos poderiam fazer render os seus princípios fundadores de Justiça e Igualdade, se estendessem a sua protecção também aos trabalhadores não inscritos nas suas fileiras, nomeadamente os dos países em vias de desenvolvimento. É importante ainda que os sindicatos não se deixem manipular por ideologias político-partidárias: apenas o bem-estar dos trabalhadores deve ser a sua motivação.

65 – As Finanças devem reorganizar-se de forma a reencontrarem o seu fundamento ético (que é criar o máximo possível de riqueza e desenvolvimento). Uma das formas de atingir este objectivo seria investir em iniciativas de carácter humanitário (posto que estas não devem interferir no desenvolvimento dos povos). Acima de tudo, pede-se ao homem financeiro “recta intenção, transparência e busca de bons resultados” e que coloque a sua inteligência ao serviço do Amor ao próximo.
Neste sentido são particularmente louváveis as iniciativas do micro-crédito (nascidas no espírito dos montepios), desde que acompanhadas de uma correcta educação que permita aos seus beneficiários protegerem-se de eventuais abusos e usuras.

66 – Tal como existe uma responsabilidade social da empresa, também existe uma responsabilidade social do consumidor. O acto da compra é sempre um acto moral, além de económico. É fundamental que os consumidores façam valer os seus direitos e que usem o seu poder para trazer um maior bem ao mundo. São de louvar as iniciativas que pretendem aumentar a comercialização de produtos de países pobres, desde que os fundos assim gerados não sejam colocados à disposição de ideologias particulares, mas que sejam postos ao serviço de um verdadeiro desenvolvimento social, económico, tecnológico e educativo desses países pobres. Também positivas são as novas formas de cooperação na compra, à semelhança das cooperativas de consumo criadas no séc. XIX por católicos.

67 – Portanto, o fenómeno da globalização (e a necessidade de se constituir uma verdadeira “família humana”) obriga a uma reforma da ONU, bem como das actuais instituições económicas e financeiras internacionais. É necessária uma Autoridade Mundial (como já era postulado pelo Beato Papa João XXIII), com a função de “sanar as economias atingidas pela crise (…), realizar um oportuno e integral desarmamento, a segurança alimentar e a paz, garantir a salvaguardo do meio ambiente e regulamentar os fluxos migratórios”. Tal Autoridade Mundial, todavia, deve actuar de forma moral, reger-se pelos princípios da Solidariedade e da Subsidiariedade, procurar o Bem Comum, respeitar a Lei Natural e nortear-se pelo desenvolvimento humano integral. Esta Autoridade Mundial deve ainda ser reconhecida e respeitada por todos.

Capítulo VI – O desenvolvimento dos povos e a técnica

68 – O desenvolvimento dos povos depende do desenvolvimento de cada indivíduo. Todavia, embora cada um de nós tenda naturalmente para o seu próprio desenvolvimento, este não pode ser deixado única e simplesmente ao critério de uma liberdade arbitrária (quer a nível individual, quer a nível tecnológico, quer a nível económico). A liberdade apenas é devidamente praticada quando exercida no contexto da Lei Natural. “O desenvolvimento da pessoa degrada-se, se ela pretende ser a única produtora de si mesma”. O mesmo sucede com os povos e nações.

69 – O desenvolvimento humano está intrinsecamente ligado ao desenvolvimento da técnica. Isto porque a técnica é um factor profundamente humano, que mais não é do que a materialização do agir do Homem. Através da técnica, o Espírito domina a Matéria, libertando-se das condicionantes do mundo material. A técnica é uma vocação do Ser Humano, na qual ele se realiza plenamente.

70 – Embora a técnica produza muitos frutos bons, a verdade é que ela pode ser usada de uma forma eticamente irresponsável. Isto é particularmente verdade quando existe uma perspectiva tecnocrática, que confunde a Verdade com o factível. Neste caso surge uma mentalidade utilitarista que acaba por negar o verdadeiro desenvolvimento. A técnica pode tornar-se a ideologia de amanhã, produzindo uma visão redutora (porque não holística) do Ser Humano. É imperativo que a técnica seja usada no quadro de uma liberdade responsável e humana.

71 – Assim, pode surgir a tentação de resolver todos os problemas sociais e económicos apenas com uma evolução técnica ou com uma reforma das estruturas sociais. Embora tais acções sejam importantes, não é possível esquecer que não é possível o verdadeiro desenvolvimento sem uma equivalente reforma moral. Se os agentes económicos, políticos e científicos não agirem de forma ética, os problemas sociais irão sempre continuar, independentemente da eficiência técnica da sociedade.

72 – De igual modo, a Paz também não pode ser encontrada apenas com recurso a soluções técnicas (p.ex. diplomacia, acordos políticos, etc.) se estas não forem complementadas com um serviço ao Bem Comum.

73 – Um dos vértices da técnica que tem tido maior expansão com a globalização é os meios de comunicação social. Também estes podem ter uma influência destrutiva se se colocarem numa perspectiva tecnocrática, em que se lhes confere uma liberdade absoluta. Nestes casos, a liberdade dos media acaba mesmo limitada, quer por factores económico (i.e. as audiências) quer políticos (nomeadamente a transmissão de certas ideologias). Por outro lado, os mass media podem ser um factor de humanização (permitindo uma maior comunicação e informação) se estiverem ao serviço do Bem Comum, ou seja, da Caridade na Verdade.

74 – Um dos domínios onde mais se sente esta tensão entre a liberdade absoluta da técnica e a responsabilidade ético-moral é a bioética. Dada a possibilidade cada vez maior de o Homem se produzir a si mesmo, chamando a si o papel de Deus, impõe-se a escolha entre duas visões do Ser Humano: uma visão aberta ou fechada à transcendência. Apenas uma visão da Ciência aberta à transcendência pode incorporar em si uma verdadeira Razão. “Fascinada pela pura tecnologia, a razão sem a fé está destinada a perder-se na ilusão da própria omnipotência, enquanto a fé sem a razão corre o risco do alheamento da vida concreta das pessoas”.

75 – Caso contrário, a absolutização da técnica conduzirá a uma relativização da dignidade humana, ao permitir a manipulação da vida humana. “Enquanto os pobres do mundo batem às portas da opulência, o mundo rico corre o risco de deixar de ouvir tais apelos à sua porta por causa de uma consciência já incapaz de reconhecer o humano”. Por isso, são condenáveis os avanços tecnológicos que relativizem a vida humana, nomeadamente os embriões (aborto, fertilização in vitro, clonagem, hibridização humana e a pesquisa sobre embriões) e as pessoas doentes e terminais (eutanásia). Particularmente preocupante é uma mentalidade que se vai insinuando e que pretende utilizar o aborto e a eutanásia para fins eugénicos, considerando algumas vidas como não dignas de ser vividas. Esta mentalidade nega a dignidade intrínseca de toda a vida humana. “Como poderá alguém maravilhar-se com a indiferença diante de situações humanas de degradação, quando se comporta indiferentemente com o que é humano e com aquilo que não o é?

76 – Além do conceito de vida humana, o desenvolvimento depende do conceito de alma humana. Actualmente, existe muito a tendência para reduzir a vida interior do Homem a certos fenómenos psicológicos e neurológicos. Tal facto faz com que as nações ricas (embora materialmente opulentas e plenas de ajudas sociológicas e psicológicas) vivam numa constante opressão da alma. Isso conduz a um vazio da alma que se traduz numa dependência de drogas e entretenimento, em neuroses e em alienação psicossocial. O Homem é corpo e alma, sendo que a alma necessita do encontro com Deus. “Além do crescimento material, o desenvolvimento deve incluir o espiritual”.

77 – A absolutização da técnica conduz a um materialismo que dificulta às pessoas o conhecimento das coisas sobrenaturais. E, todavia, todo o Homem já experimentou o transcendente. Experimentou-o em cada novo conhecimento ou amor, que parece transcender o mero conhecimento e o mero amor, transformando-se num “querer mais”. Também a nível colectivo, os povos da Terra devem desejar esse “querer mais”, ou seja, abrir-se à dimensão espiritual que permeia todas as coisas. Só assim será possível um verdadeiro desenvolvimento humano integral, na Caridade na Verdade.

Conclusão

78 – Assim, é possível concluir que o verdadeiro desenvolvimento apenas pode ser conseguido se se fundamentar num novo humanismo… um humanismo que não consegue ser atingido se a Humanidade se fechar a Deus. “O humanismo que exclui Deus é um humanismo desumano” porque rapidamente cede às modas do momento. Pelo contrário, um humanismo aberto a Deus permite-nos descobrir a Caridade e a Verdade, e, consequentemente, compreender a necessidade de construir uma família humana (porque todos somos irmãos, sendo filhos de Deus) como uma vocação, um dom, um chamamento. “O amor de Deus chama-nos a sair daquilo que é limitado e não definitivo, dá-nos coragem de agir continuando a procurar o bem de todos”.

79 – “O desenvolvimento tem necessidade de cristãos com os braços levantados para Deus em atitude de oração, cristãos movidos pela consciência de que o amor cheio de verdade — caritas in veritate –, do qual procede o desenvolvimento autêntico, não o produzimos nós, mas é-nos dado

domingo, 5 de julho de 2009

ANO SACERDOTAL

"Na próxima solenidade do Sacratíssimo Coração de Jesus, sexta-feira 19 de Junho de 2009 – dia dedicado tradicionalmente à oração pela santificação do clero – tenho em mente proclamar oficialmente um «Ano Sacerdotal» por ocasião do 150.º aniversário do «dies natalis» de João Maria Vianney, o Santo Patrono de todos os párocos do mundo. Tal ano, que pretende contribuir para fomentar o empenho de renovação interior de todos os sacerdotes para um seu testemunho evangélico mais vigoroso e incisivo, terminará na mesma solenidade de 2010. «O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus»: costumava dizer o Santo Cura d’Ars."
Papa Bento XVI, 16/6/2009 d.C.




Foi com estas palavras que o nosso amado pontífice proclamou este ano de 2009-2010 como um Ano Sacerdotal.
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Mas o que significa isto?


Significa que precisamos reconhecer uma grave crise na nossa Igreja... uma crise que afecta todos e que é fonte de grandes pecados e males na nossa sociedade moderna. A nossa Igreja é santificada pelo serviço das almas generosas que resolvem entregar toda a sua vida a Deus e apenas a Deus. É a estes valentes que Deus usa para distribuir a Sua Graça aos fiéis, através dos Sacramentos. Falo, é claro, dos sacerdotes... peça-chave da Presença Divina neste mundo.
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Mas todos nós sabemos que essa magnífica instituição que é o sacerdócio está, nos dias de hoje, sofrendo uma grande tribulação.


1) a falta de vocações sacerdotais. A cada ano que passa, há cada vez menos jovens a ingressar nos seminários... e muitos padres abandonam o seu ministério por uma miríade de razões. A nossa mentalidade actual, excessivamente materialista e hedonista, não compreende o valor de uma vida de sacrifício oferecida por Amor aos outros. As famílias, demasiado secularizadas e focadas no sucesso visível e palpável, não incentivam os seus filhos a considerarem esta opção. O nosso clero vai envelhecendo. Os que restam não têm capacidade humana para preencher o vácuo gerado por esta crise. Cada vez mais paróquias definham, privadas de um pastor.


2) o descrédito do próprio sacerdócio. Isto é motivado, não só pela costumeira má-língua dos paroquianos, como por uma elite de opinion-makers que usam os seus púlpitos nos media para pregarem o seu (anti)evangelho anticlerical. É óbvio que este golpe na reputação dos sacerdotes afasta ainda mais as vocações que pudessem para aí encaminhar-se de outra forma.
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3) os próprios sacerdotes que atraem sobre si estes infortúnios. Falo, claro, daqueles padres que produzem escândalos entre os fiéis, fazendo-os abandonar a Igreja Una e Santa que Deus estabeleceu na Terra. Nomeadamente, os lamentáveis e condenáveis casos de pedofilia nos E.U.A. e Irlanda. Mas não só. Também me refiro aos padres que não aderem ao Magistério e que se aproveitam do seu ministério ordenado para pregar uma religião pessoal e, por vezes, até herética. Ao adicionar ainda mais ao relativismo da época, estes padres aumentam a confusão e individualismo dos jovens, desvalorizando a vocação sacerdotal que pudesse existir neles.
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Mas não basta reconhecer a crise... é preciso agir sobre ela. Esse é o motivo pelo qual o nosso sábio Papa se decidiu por esta valorosa e pertinente iniciativa: o Ano Sacerdotal. Este será um ano que incidirá particularmente na Pastoral Vocacional e num estímulo à cooperação dos leigos para a santificação e dignificação desta fundamental instituição do Sacerdócio.
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Eu confesso... o meu coração não tem a generosidade e a coragem suficientes para este tipo de entrega...
Mas...
Eu amo muito a minha igreja e desejo contribuir na medida das minhas capacidades.


Por isso, achei por bem divulgar este site, construído para esta ocasião, e que durante o ano aparecerá na barra lateral do meu blog.


Também achei pertinente difundir o exemplo de vida do santo padroeiro desta iniciativa e de todos os padres: o Santo Cura d'Ars João Maria Vianney





(bem como o exemplo de vida de tantos e tantos santos sacerdotes, como S. Padre Pio de Pietrelcina, S. Josemaria Escrivá, S. Marcellin Champagnat, S. Luis Alberto Hurtado Cruchaga, Beato Charles de Foucauld e o Beato Edoardo Poppe).




Finalmente, pensei que seria importante trazer este filme à consideração dos meus leitores, para que reflictam nele e o divulguem.
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Gostaria, para terminar, de deixar um apelo também a todos os meus leitores que, comigo, partilham a vocação de leigos... este ano sacerdotal também nos envolve a nós! Também nós temos um papel fundamental a desempenhar! Particularmente na Nova Evangelização desta sociedade secularizada, para que a semente do Reino de Deus possa novamente despontar no meio de nós, sob a forma das conversões e entusiasmo religioso que geram as vocações sacerdotais. Mas não só...


O meu amigo Ecclesia Dei propõe uma campanha de oração pelo sacerdócio. Oremos, pois. Pelas vocações e pela santificação dos padres já ordenados. A oração é mais poderosa do que se imagina!


Em especial para as leitoras, a minha amiga Mar com Canela propõe um exercício interessante...


Não só por amor à nossa igreja, mas também porque a recompensa é grande!






Celebremos, pois, este Ano Sacerdotal. E celebremos todos os nossos sacerdotes! Demos graças a Deus por esta dádiva divina, bem como por todas as restantes.
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"Senhor Jesus:
Vós quisestes dar à Igreja, em São João Maria Vianney, uma imagem vivente e uma personificação da caridade pastoral.
Ajudai-nos a viver bem este Ano Sacerdotal, em sua companhia e com o seu exemplo.
Fazei que, a exemplo do Santo Cura D’Ars, possamos aprender como estar felizes e com dignidade diante do Santíssimo Sacramento, como seja simples e quotidiana a vossa Palavra que nos ensina, como seja terno o amor com o qual acolheu os pecadores arrependidos, como seja consolador o abandono confiante à vossa Santíssima Mãe Imaculada e como seja necessária a luta vigilante e fiel contra o Maligno
."

Ámen.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

AS COISAS BOAS VÊM ÀS 3... E DE BORLA!

Se eu vos dissesse que é possível a uma pessoa, fazer as seguintes 3 coisas simultaneamente e de graça:
1) Divertir-se
2) Aprender
3) Alimentar os famintos

... o que me diriam?

Provavelmente quereriam saber como o fazer, não?

Pois bem, é por isso que, a partir de hoje, na barra lateral deste blog, os meus leitores podem aceder a este site. Aí, poderão responder a uma série de questões sobre os mais variados temas. E, o que é melhor, por cada resposta certa, os patrocinadores do site doam uma certa quantidade de arroz para zonas carenciadas do Mundo.

Bora lá!