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Ano da Fé

Ano da Fé
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domingo, 23 de dezembro de 2012

TOLKIEN / JACKSON E A ESPERANÇA





 
Frodo: I can't do this, Sam.

Sam: I know. It's all wrong. By rights we shouldn't even be here. But we are. It's like in the great stories, Mr. Frodo. The ones that really mattered. Full of darkness and danger, they were. And sometimes you didn't want to know the end. Because how could the end be happy? How could the world go back to the way it was when so much bad had happened? But in the end, it's only a passing thing, this shadow. Even darkness must pass. A new day will come. And when the sun shines it will shine out the clearer. Those were the stories that stayed with you. That meant something, even if you were too small to understand why. But I think, Mr. Frodo, I do understand. I know now. Folk in those stories had lots of chances of turning back, only they didn't. They kept going. Because they were holding on to something."

Frodo: What are we holding onto, Sam?

Sam: That there's some good in this world, Mr. Frodo... and it's worth fighting for.

CITAÇÃO DO MÊS (e do Natal)

 
"Scrooge is not only as modern as Gradgrind, but more modern than Gradgrind. He belongs not only to the hard times of the middle of the nineteenth century, but to the harder times of the beggining of the twentieth century - the yet harder times in which we live. Many amiable sociologists will say, as he said, «Let them die and decrease the surplus population». The improved proposal is that they should die before they were born.
 
It is also notable that Dickens gives the right reply; and that with a deadly directness worthy of a much older and more subtle controversionalist. The answer to anyone who talks about surplus population is to ask him whether he is the surplus population; or if he is not, how he knows that he is not. That is the answer that the Christmas Spirit gives to Scrooge"

G.K. Chesterton
in "A Introduction to A Christmas Carol"
1922

COZINHA DO CHEF SOLIDÁRIO


segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

JESUS DE NAZARÉ - A INFÂNCIA DE JESUS

Já havia recomendado o magnífico livro Jesus de Nazaré, pelo então Cardeal Ratzinger... tal como recomendo a 2ª parte: Jesus de Nazaré - da entrada em Jerusalém até à Ressurreição.

Logo, não poderia deixar de recomendar o 3º volume "Jesus de Nazaré - A Infância de Jesus", com o qual o Papa Bento XVI completa a sua Cristologia, tão academicamente brilhante, quanto clara para o cristão comum.

Já muito foi dito nos media acerca deste livro. Como de costume, tudo o que dito pelos media foi desinformação (para não lhe chamar coisa pior).


Mas penso que, desta vez, os meus comentários são inúteis. O que é preciso é deixar as palavras do Papa falarem por si.

Portanto, os jornais dizem que o Papa proibiu as representações da vaquinha e do burrinho no Presépio?

O que diz o livro?

"Nenhuma representação do presépio prescindirá do boi e do jumento."

Está lá!
Textualmente!
Pág. 61 da editora Principia, tradução portuguesa!

Então, de onde vem a polémica?

Daqui: "Aqui, no Evangelho, não se fala de animais, mas a meditação guiada pela fé, lendo o Antigo e o Novo Testamento correlacionados, não tardou a preencher esta lacuna, reportando-se a Isaías 1,3: «o boi conhece o seu dono, e o jumento o estábulo do seu senhor; mas Israel, meu povo, nada entende!» (...) Portanto, na singular conexão entre Isaías 1,3; Habacuc 3,2; Êxodo 25,18-20 e a manjedoura aparecem os animais como representação da Humanidade, por si mesma desprovida de compreensão que, diante do Menino, diante da aparição humilde de Deus no estábulo, chega ao conhecimento e, na pobreza de tal nascimento, recebe a epifania que agora a todos ensina a ver. Bem depressa a iconografia cristã individuou este motivo. Nenhuma representação do presépio prescindirá do boi e do jumento"

Sim.
O Papa diz que, nos evangelhos, não se fala de animais.
E (caramba!) está a dizer a verdade!
Quem não se acreditar, que leia os evangelhos! Fala-se lá de animais? Não!
O Papa limitou-se a constatar um facto.

Mas depois de constatar esse facto, o Papa explica por que motivo o boi e o jumento se tornaram ícones cristãos do presépio.
E, por isso, defende a relevância dessas figuras.
Mais do que isso, enriquece-nos com o significado mais profundamente teológico do boi e do jumento.

O Papa fez o oposto do que foi noticiado!

***

Outra polémica: Noticiaram que o Papa dissera que um dos reis magos era espanhol.

Vamos lá ler o que o Papa escreveu:

"Assim como a tradição da Igreja leu, com toda a naturalidade, a narrativa de Natal tendo por horizonte de fundo Isaías 1,3 e deste modo chegaram ao presépio o boi e o jumento, também leu a narrativa dos magos à luz do Salmo 72,10 e de Isaías 60. (...) Se a promessa contida nestes textos estende a proveniência destes homens até ao Extremo Ocidente (Társis = Tartessos, na Espanha), a tradição encarregou-se de desenvolver ainda mais a universalidade destes soberanos, interpretando-os como reis dos três continentes então conhecidos: África, Ásia e Europa".

Portanto, a tradição da Igreja leu, na vinda dos reis magos, uma prefiguração da universalidade da mensagem de Cristo.
Jesus não vinha só para os judeus, mas para o Mundo inteiro.
Tal como estava prometido na profecia de Isaías e no Salmo 72.
Essa promessa estende a proveniência dos adoradores gentios até Espanha, no Extremo Ocidente.

Certo?

A promessa fala de Espanha.
Os verdadeiros reis magos podem não ter vindo de Espanha, mas a promessa da universalidade de Cristo, que eles simbolizavam, mencionava Espanha.
A promessa.
Não os reis magos.

Como tal, as representações tradicionais dos reis magos começaram a incorporar estes elementos teológicos. Pese embora, na Bíblia, não saibamos a real proveniência desses sábios.

***

Última polémica: A ideia de que Jesus não nasceu no ano 1 d.C., mas 4 anos antes.
 
Diz o Papa: "Um primeiro problema ainda é bastante fácil de esclarecer: o recenseamento teve lugar no tempo do Rei Herodes, o Grande, que, porém, morreu já no ano 4 a.C.. O início da nossa contagem do tempo - a determinação do nascimento de Jesus - remonta ao monge Dionysius Exiguus que claramente errou alguns anos nos seus cálculos. Portanto, temos de fixar a data histórica do nascimento de Jesus alguns anos antes."

Mas isto é alguma novidade para algum católico bem informado?

Já se sabia isto há muito!!!

Que é que isso interessa?

Os cálculos de um monge, o estabelecimento da nossa actual maneira de contar o tempo, nada disso faz parte da doutrina da Igreja. Nunca foi formulado dogmaticamente. E é completamente irrelevante para a nossa fé. O que é importante é que Deus se fez História no meio de nós! Se foi no ano 1 d.C. ou no 4 a.C. é completamente irrelevante. O que importa é que aconteceu! Isso é que é depósito de Fé!

***

Portanto, caro leitor, leia o livro. Não se fique apenas pelo que os jornalistas noticiam... porque, como já provei sobejamente, eles só noticiam falsidades sensacionalistas, preconceituosas e ignorantes.

Leia antes o livro. Como pôde ver, pode aprender muitas coisas interessantes com ele. E nada como ir à fonte para conhecer a Verdade.

sábado, 8 de dezembro de 2012

AVÉ MARIA, CHEIA DE GRAÇA!

Porque hoje celebramos o dia da Imaculada Conceição...

(e também o 4º aniversário do meu blog)

 
Avé Maria de Schubert
Avé Maria de Bach-Gounoud
 
Avé Maria de Caccini
 

terça-feira, 27 de novembro de 2012

FIM DO MUNDO EM 2012 - MAIS UMA PETA SENSACIONALISTA




PS1: O vídeo tem uma incorrecção. De facto, os maias previram a chegada (e a vitória) dos espanhóis com uma certa exactidão. Todavia, resta saber se a derrota maia não terá sido uma espécie de "profecia auto-cumprida", uma vez que eles já se julgavam derrotados assim que os espanhóis desembarcaram nas suas costas.

PS2: Por outro lado, é preciso notar que os maias (tal como a maioria das tribos ameríndias da altura) não possuíam uma concepção linear do Tempo, mas uma concepção cíclica. Assim, trata-se do fim de uma Era, não do Fim do Mundo. O Fim do Mundo é uma noção cristã, não meso-americana. Afirmar que os maias previram o Fim do Mundo é imputar-lhes uma ideia que eles não possuíam.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A INQUISIÇÃO MEDIATICO-PROFANA É UM DEUS CIUMENTO


Um dos barões dos media, de seu nome Francisco Pinto Balsemão, resolveu vir a público dizer que é preciso limitar a "desinformação" na Internet. Como? Não disse, mas subentende-se no resto do artigo algum tipo de censura, com o recurso à lei.

Ora, sem dúvida que, na Internet há muita gente que não sabe do que fala, há muita opinião não-fundamentada, há muito "achismo"... enfim, muita "desinformação".

Isso é verdade.

Agora, por que motivo está Pinto Balsemão tão preocupado com esse fenómeno... quando nos media acontece exactamente a mesma coisa?
Não há nos media gente que não sabe do que fala?
Não há nos media muita opinião não-fundamentada?
Não há nos media muito "achismo"?
NÃO SÃO OS MEDIA ACTUAIS A PRINCIPAL FONTE DE "DESINFORMAÇÃO" QUE EXISTE?!?!

É que é preciso ter lata!

Quando este meu humilde blog não tem feito outra coisa nos seus 4 anos de existência que não fosse corrigir constantemente a desinformação dos media!!! Desinformação grosseira, facilmente refutável com factos, que não incentiva a conhecer melhor as realidades, mas que apenas espalha ignorância e preconceito.

Não se acreditam? Vejam só estes links, cheios de deturpações, enviesamentos e invenções várias:

Começa com este... e depois este... e este que está fresquinho... e ainda este... ou o claro enviesamento deste... e a caixa de comentários deste post... e ainda este para terminar.

E é só uma amostra. Muito mais havia para mostrar...

Como este artigo recente. Reparem como o jornalista ignora completamente o que significa o dogma da infalibilidade papal. Reparem como o jornalista ignora que a data do Natal nunca foi dogmaticamente proclamada. Reparem como o jornalista ignora que os cálculos de Dionísio, o Pequeno, foram surpreendemente precisos para as referências históricas que ele tinha na época (só falhou por 4-6 anos!). Reparem como o jornalista ignora que os católicos já sabiam há muito desde pequeno erro no cálculo do ano do Natal... e que isso não abala a nossa fé. Reparem como o jornalista ignora que a data do Natal foi calculada com base na "idade integral" de Jesus, preferindo continuar a espalhar o preconceito sem fundamento histórico, segundo o qual o 25/12 tem como base festividades pagãs. Reparem que o jornalista ignora o conteúdo do livro do Papa Bento XVI, um livro profundo e cheio de conteúdo, escrito por um dos teólogos mais respeitados da actualidade... preferindo uma caricatura reles e rasteira dos escritos do papa.
REPAREM COMO ELE IGNORA ISTO TUDO, É UM POÇO DE IGNORÂNCIA... E AINDA SE ATREVE A CHAFURDAR EM ARROGÂNCIA E CINISMO, COMO SE FOSSE SUPERIOR ÀS COISAS QUE ELE CLARAMENTE DESCONHECE.

Diz Pinto Balsemão que, nessas ditas fontes de desinformação da Net, "há rumores que nunca são confirmados".

É? A sério?

E os rumores nunca confirmados da ligação da pessoa do Papa Bento XVI aos casos de pedofilia, numa clara campanha difamatória de assassínio de carácter?
Foi a Net?
Não! Foram os media!
Quem se esforçou para repôr a verdade?
Quem se esforçou para corrigir a injustiça?
Quem dissipou a desinformação?
Foram os media?
Não! Foi a Net!
Veja-se aqui, aqui e aqui.

Sim! É verdade que, na Net, há muita desinformação! Mas também é verdade que é na Net que se encontram muitos comentadores informados, que sabem do que falam, mas a quem os media jamais pensariam em dar a voz, por não pertencerem à ortodoxia heterodoxa dominante!

***

Isto é tanto mais grave quando se vê que Pinto Balsemão não está preocupado com a desinformação em si. Se assim fosse, estaria também preocupado com a desinformação nos próprios media, dos quais ele é um dos líderes. O que incomoda realmente Pinto Balsemão (e os opinion-makers que se refugiam à sombra dos media tradicionais) é o facto de a Internet, ao que parece, estar a retirar aos media o monopólio... (ahem, quero dizer) o papel fundamental na lavagem de cérebros... (ahem, quero dizer) na formação de opinião pública.

Vejam só estas pérolas do artigo:

não é possível haver sociedade democrática sem haver mediações

a comunicação social ajuda a definir uma agenda pública para a esfera pública

"os meios ditos tradicionais mantenham as suas funções de mensageiro de filtrador, de veiculador de opiniões e de ‘aguilhão’ da opinião pública"

Com que direito vêm estas criaturas, depois, criticar a Igreja por causa da Inquisição e do Index? Cá estão eles a afirmar categoricamente que há uma instituição que está mandatada a interpretar a realidade e a manter o "bom pensamento" dos cidadãos livre de "heresias"!

O que eles querem é continuar a ser os donos das mentes da população. Continuar a mentir e deturpar, sem qualquer contraditório, moldando as ideias das pessoas à imagem e semelhança destes barões. E, ainda por cima, terem as pessoas a pagarem-lhes muitos €€€€€ por esse "serviço". Por isso incomoda-os, incomoda-os tudo o que escape ao seu poder!

***

Até que ponto devemos ser tolerantes com a intolerância?” - disse Pinto Balsemão.

Esta frase é absolutamente deliciosa!
Pelo paradoxo!
Será que Pinto Balsemão é intolerante com a sua própria intolerância à intolerância?

Triste.

Ainda por cima, porque esta frase é das mais utilizadas pelos inimigos do Cristianismo!

Significa mais ou menos isto: "Eu sou tolerante. Porque sim. Vocês discordam de mim. São intolerantes. Não vos posso tolerar, vós que discordais de mim".

Claro está que qualquer um consegue ser tolerante desta maneira.

É uma reviravolta orwelliana do significado de "tolerância".

Tal como é uma reviravolta orwelliana este outro excerto do artigo: «Os cidadãos “que defendem a liberdade de expressão” poderão ser levados a exigir que “sejam colocados limites a essa desinformação”, acrescentou.»

***

O que é ainda mais triste, é ver como as pessoas foram completamente (anti)evangelizadas por esta Inquisição profana!

Hoje em dia, todos consideram o dogma da infalibilidade papal algo ridículo, irracional, opressor! Como se não fosse uma dádiva de Deus, Ele ter criado uma bússola para nos guiar num mundo confuso e complexo!

Mas, se é verdade que ninguém acredita no dogma da infalibilidade papal... por outro lado, toda a gente acredita, implicitamente, no dogma da infalibilidade mediática. Mesmo quando este dogma está, constantemente, a ser desmentido. Ainda assim, as pessoas continuam a citar acriticamente os media quando estes atacam a Igreja. Acreditam em tudo o que eles afirmam, sem questionar, sem investigar, sem pensar. Foram habituados pelos media a raciocinarem através de sound-bytes, a não se informarem com coisas mais pesadas do que uns tweets. E depois de engolirem os preconceitos e a desinformação, vêm ainda acusar os cristãos de não saberem "pensar pelas próprias cabecinhas"... Se eles conhecessem toda a herança cultura e intelectual que desprezam! Poor Jerusalem, pobre Portugal! Rejeitas os profetas de Deus para acreditares nestes patéticos e aburguesados propagandistas em causa própria...

Como já disse uma vez numa das minhas Citações do Mês, da autoria de Sto. António Maria Claret:

"O direito de educar as nações, que a Igreja recebeu do próprio Deus na pessoa dos Apóstolos, foi usurpada por uma turba de jornalistas obscuros e charlatães ignorantes"
 
 
***
 
PS: Claro que também pode suceder eu estar a ler uma notícia que descontextualizou as palavras de Pinto Balsemão, para satisfazer o mais rasteiro sensacionalismo mediático. Todavia, se assim fôr, não seria uma ironia deliciosa? É que, se fôr esse o caso, Pinto Balsemão não foi vítima de desinformação de um obscuro blogueiro, mas da desinformação de um site pertencente aos chamados media tradicionais. LOL!

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

NÃO ASFIXIEM PORTUGAL!

Diz um sucessor dos Apóstolos.



NEM TUDO É PARA PRIVATIZAR!



Embora seja verdade que a Doutrina Social da Igreja promove o Mercado Livre, também é  igualmente verdade que o Liberalismo económico não é porta-voz da Igreja, ao contrário do que muitos "direitistas" gostariam de fazer crer.

É que nem tudo é objecto de mercantilização. Não é lícito o lucro que retira ao Homem (imagem e semelhança de Deus) a possibilidade de aceder a bens que são intrínsecos à sua dignidade. Tais bens devem ser acessíveis a todos, mesmo os mais pobres... e se o Mercado Livre não for capaz de suprir essa função, então tais bens devem ser públicos.

Exemplos flagrantes: a Água e a Saúde.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A AUSTERIDADE E A SIMPLICIDADE

Pouco depois deste meu post sobre a usura, estalou uma polémica envolvendo Isabel Jonet, a presidente do Banco Alimentar Contra a Fome.

Aqui estão as palavras da polémica:



Imediatamente a Esquerda se insurgiu contra estas palavras, até ao ponto de exigirem a sua demissão. Porquê? Em primeiro lugar, porque não eram os pobres, mas sim a juventude burgueso-marxista consumista de iPods que era o verdadeiro alvo das críticas de Isabel Jonet... e eles perceberam-no bem. Em segundo lugar, porque a Esquerda tem aversão à caridade (já Marx afirmava que "uma esmola era um dia adiado para a Revolução"), essa virtude do Cristianismo, que é religião que eles abominam. E em terceiro, porque a Esquerda tem que estar sempre a insurgir-se contra alguma coisa, está-lhes no ADN.

Claro que a Direita não ficou atrás na irracionalidade da Esquerda, como lhe é próprio. Defenderam Isabel Jonet (e bem!), mas aproveitaram para canonizar de arrasto o banqueiro Fernando Ulrich. Ou seja, comparam uma senhora que dedicou a sua vida ao combate à pobreza com um dos agentes económicos que fomenta o sistema económico usurário que está na base dessa pobreza. Um homem que, não tendo provado qualquer austeridade, se acha no direito de dizer aos portugueses que "ai aguentam, aguentam" mais austeridade.

Agora, é preciso separar o trigo do joio.
Não é preciso defender a austeridade para concordar com Isabel Jonet.
E não é preciso defender Ulrich para defender Jonet.

Na verdade, se virmos bem, as palavras de Isabel Jonet são uma das críticas mais mordazes a Ulrich et al.

Antes de mais, devo dizer que as palavras de Isabel Jonet não foram as melhores. Os pensamentos dela eram muito profundos e acertados, mas não os expressou da melhor forma. Além disso, não concordo com tudo o que a senhora diz, nem com todas as ideias que ela defende. O meu post será pura e simplesmente sobre as "palavras da polémica".

Posto isto, devo justificar-me. Por que motivo ataco a austeridade, mas defendo as palavras de Isabel Jonet? Por que ataco o sistema económico usurário, mas defendo quem parece que está a defender as medidas desse sistema?

Para responder a essa pergunta, devo fazer uma distinção importante.
A distinção entre austeridade (que eu ataco)...
... e simplicidade (que eu defendo e que Isabel Jonet defendeu).
Se Jonet tivesse feito esta distinção tinha, à partida, evitado muitos dissabores.


1) "Gastamos mais do que as nossas possibilidades"

Quem leu o meu post, vê que eu ataquei o "mitogma" segundo o qual nós, enquanto Estado, gastamos mais do que as nossas possibilidades.

Mas lerá também que eu desmantelo a analogia grosseira que compara a economia do Estado à economia de uma família.

A diferença: a economia do Estado foi desenhada especificamente para perpetuar a dívida. Se o Estado não contrair dívida aos bancos (com juros), então a economia nacional pára. Pura e simplesmente, pára. A economia do Estado está numa dependência doentia à dívida aos bancos.

Mas a economia familiar não é assim. A economia familiar é baseada no princípio são segundo o qual se deve gastar menos do que aquilo que se ganha. Aliás, eu critico a economia do Estado precisamente por não ser uma economia de tipo familiar, em que as dívidas são pagáveis.

É verdade que as famílias também foram sujeitas a empréstimos usurários. Nesses casos, a moratória da dívida também se deve aplicar a elas. Sem dúvida.

Mas também é verdade que as famílias não têm o "cordão umbilical" que o Estado tem. A economia da família não está intrinsecamente ligado à dívida ao banco. Uma família não precisa de estar continuamente a contrair dívidas ao banco para que a economia familiar funcione.


2) Consumismo e Austeridade: 2 faces da mesma moeda

As famílias portuguesas estão super-endividadas. Mas porquê? Simplesmente porque nos últimos 30 anos, os bancos impingiram-lhes a miragem do crédito fácil:
"Não pode pagar isto? Não há problema! Paga em prestações!"

Isto gerou um bem-estar material sem precedentes. Sem dúvida. Mas também gerou uma mentalidade materialista, hedonista e consumista. E foi essa mentalidade que "educou" os jovens de hoje, incapazes de diferenciar entre necessidades e luxos. Uma geração à sombra da gratificação imediata.

Foram esses jovens que Isabel Jonet criticou. Não os verdadeiros pobres.

São esses jovens que acreditam que comer bifes todos os dias é um direito humano. São esses os que querem ir a um concerto de rock, mesmo quando só têm dinheiro para pagar uma radiografia. Peço ao benévolo leitor que veja o vídeo e diga se não é isso que ela disse.

Quanto a Ulrich, ele encarna a instituição bancária. A instituição que fomentou o crédito. A instituição que gerou este consumismo materialista e hedonista. A instituição que, agora, é a causa da austeridade.

Jonet defendeu a simplicidade. Ulrich abomina a simplicidade, sem a qual não teria lucros.
Ulrich defende a austeridade. Mas a austeridade vem da simplicidade? Não, vem do consumismo! Que Ulrich defende!

Como posso defender Jonet e criticar Ulrich, perguntais vós?

Como posso proceder de outro modo? - digo eu.

3) Necessidades e Luxos

Isabel Jonet defendeu a simplicidade.

Ela disse: se só houver dinheiro para uma radiografia, não se deve gastar num concerto de rock.
O concerto de rock é um luxo. Ninguém morre por falhar um concerto de rock.
Uma radiografia é necessária para a saúde. É uma necessidade.

Ela disse: se não se tiver dinheiro para comer bifes todos os dias, não se deve comer bifes todos os dias.
Comer bifes não é uma necessidade. Existem outras comidas mais baratas  (E não, não me refiro a papas Nestum!)

Mas a austeridade não tem nada a ver com luxos.

A austeridade gera desemprego. Um emprego não é um luxo (por muito que os capitalistas nos queiram fazer crer do contrário). Um emprego é uma necessidade, porque uma pessoa sem emprego não é auto-suficiente, não é capaz de prover o seu próprio sustento, não é capaz de constituir uma família, não é capaz de se auto-realizar, não é capaz de contribuir para o Bem Comum.

A austeridade gera pobreza para os mais vulneráveis. Os reformados, as crianças, os doentes... Estes é que causaram o aumento das papas Nestum de que a jornalista falou. Esses não têm luxos! Têm necessidades.

4) O exemplo

Finalmente, há a questão do exemplo. Que a mim, me parece de extrema importância.

Ulrich disse aos portugueses: "ai aguenta, aguenta".
Ulrich acha que os portugueses aguentam mais austeridade.
Mas, Ulrich já deu o exemplo?
Ulrich já cortou nos seus luxos?
Já provou, ele próprio a austeridade?
Já fez algum corte no seu modo de vida? E não, não me refiro a cortezinhos simbólicos! Refiro-me a cortes que o coloquem num patamar semelhante aos dos portugueses a quem ele diz para "aguentarem".
 
Isabel Jonet, por seu lado, fez uma confissão pessoal.
Falou nos seus próprios filhos, falou em como eles lavam a escova dos dentes com água corrente, em vez de no copo.
Assumiu-se, ela própria, como parte do problema.
Coisa que Ulrich jamais fez.

Isabel Jonet é dirigente de uma IPSS. Ou seja, coordena um movimento da própria sociedade para ajudar os mais desfavorecidos. Uma organização descentralizada, não governamental. Assim sendo, Jonet liberta recursos do Estado. Ela ajuda a resolver a actual crise económica.
Ulrich é dirigente de um banco. E os bancos, além de serem a causa da actual crise económica... ainda pedem bail-outs ao Estado quando estão prestes a entrar em falência por causa das suas especulações. Os bancos são subsidiodependentes do Estado, onerando-o ainda mais. Depois ainda têm a lata de defender o Mercado Livre.

Isabel Jonet fala com conhecimento de causa. Fala de realidades que ela conhece.
Ulrich fala do alto do seu trono de marfim, intocável e implacável, manipulando pessoas como se fossem números.

***

Vamos ter de empobrecer? Sim, vamos! Mas não à custa de austeridades injustas, cruéis e usurárias! A essas, opôr-me-ei sempre, enquanto me restar um fôlego de consciência cristã!

Talvez a palavra certa não seja "empobrecer". Vamos ter, isso sim, de nos tornar mais simples.

Quando o fizermos, reconheceremos os verdadeiros valores da vida. Aqueles que trazem a verdadeira felicidade. Aqueles que deitámos fora outrora, porque eram "antiquados" e "retrógrados".

Nesses dias deixaremos, talvez, de ter de labutar tanto para "ter" e, assim, teremos mais tempo para "ser". Nesses dias deixaremos de ser escravos de bancos, troikas, burocratas e outros senhores engravatados. Nesses dias, haverá poucos luxos... mas as necessidades estarão asseguradas.

Nesses dias, este "jardim à beira-mar plantado" deixará de ser um deserto espiritual, mas estará repleto daqueles "lírios do campo" de que o Mestre nos falou. Venha a nós o Seu Reino, o d'Ele que foi o mais humilde de todos os homens.

Entretanto, peço aos meus leitores que continuem a contribuir para o Banco Alimentar Contra a Fome. Mesmo que discordem das palavras de Isabel Jonet, não devem impedir que as ideias pessoais de um dirigente obscureça todo o trabalho meritório que esta IPSS tem vindo a desenvolver. Nem seria justo que os pobres fossem penalizados pelas palavras de Jonet...

Porque um boicote ao Banco Alimentar só penalizaria os pobres.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

PEQUENOS

A propósito deste meu post...

... vem este magnífico post do Pedro Arroja, que citarei na íntegra, pois que complementa perfeitamente bem o que eu quis dizer previamente.
 
 
"Pequenos
Por: Pedro Arroja 

 
Uma das principais conclusões que resultam da doutrina católica é a de que todos as instituições e processos económicos e sociais devem ser mantidos pequenos, e que não devem crescer para além daquele tamanho em que não existe homem que os consiga controlar.
Para a doutrina católica, a comunidade económica e social de base é tipicamente pequena - a família. A empresa típica do catolicismo é também pequena -a empresa familiar. O mercado privilegiado da doutrina católica é ainda pequeno - o mercado local. E o Estado próprio do catolicismo, sendo um Estado subsidiário, é ainda tipicamente pequeno.

A crise económica e financeira actual, em Portugal e no mundo ocidental, foi desencadeada em 2008 pela falência de um banco - Lehman Brothers - que tinha atingido uma dimensão que ninguém controlava. A tal ponto que a falência foi uma surpresa. E uma supresa que, com a globalização dos mercados, produziu efeitos, nalguns casos catastróficos (v.g., na Islândia) em todo o mundo.

Mesmo em Portugal, um país pequeno, houve instituições que nas últimas décadas cresceram desmesuradamente e que hoje não são controláveis. O Estado é a primeira dentre elas. A dificuldade em conter o défice orçamental é que não existe ninguém que tenha capacidade para controlar o Estado. Mas não é apenas o Estado. Existem outras instituições que estão em decomposição porque cresceram para além de qualquer controlo. Aquele que foi o maior banco privado português, e o segundo maior do país, está também agora a desfazer-se numa agonia lenta.

Instituições grandes e processos globalizados - como grandes empresas, grandes bancos, grandes Estados e mercados globais - são a receita certa, quando as coisas correm mal, para que o mundo nos caia sobre a cabeça, e sem que ninguém se possa opôr. É isso largamente o que está a acontecer em Portugal e em outros países do ocidente.

Depois de passada esta crise, com os efeitos devastadores que ela está a produzir, vai ser necessário reconstruir as economias dos países afectados, como Portugal. Seria bom que fosse então escutada a mensagem da doutrina católica de que as instituições e os processos sociais devem ser mantidos pequenos para serem controláveis, porque só mantendo-os sob controlo é possível limitar-lhes os riscos e os danos."

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

CITAÇÕES DO MÊS

"Com certeza é justo o princípio de que as dívidas devem ser pagas. Não é lícito, porém, pedir ou pretender um pagamento, quando esse levaria de facto a impôr opções políticas tais que condenariam à fome e ao desespero populações inteiras. Não se pode pretender que as dívidas contraídas sejam pagas com sacrifícios insuportáveis. Nestes casos, é necessário - como, de resto, está sucedendo em certa medida - encontrar modalidades para mitigar, reescalonar ou até cancelar a dívida, compatíveis com o direito fundamental dos povos à subsistência e ao progresso"
Beato Papa João Paulo II
Centesimus Annus, 35
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"Tanto uma regulamentação do sector capaz de assegurar os sujeitos mais débeis e impedir escandalosas especulações, como a experimentação de novas formas de financiamento destinadas a favorecer projectos de desenvolvimento, são experiências positivas que hão-de ser aprofundadas e encorajadas, invocando a responsabilidade própria do aforrador. Também a experiência do microfinanciamento, que mergulha as próprias raízes na reflexão e nas obras dos humanistas civis (penso nomeadamente no nascimento dos montepios), há-de ser revigorada e sistematizada, sobretudo nestes tempos em que os problemas financeiros podem tornar-se dramáticos para muitos sectores mais vulneráveis da população, que devem ser tutelados dos riscos de usura ou do desespero. Os sujeitos mais débeis hão-de ser educados para se defender da usura, do mesmo modo que os povos pobres devem ser educados para tirar real vantagem do microcrédito, desencorajando assim as formas de exploração possíveis nestes dois campos. Uma vez que existem novas formas de pobreza também nos países ricos, o microfinanciamento pode proporcionar ajudas concretas para a criação de iniciativas e sectores novos em favor das classes débeis da sociedade mesmo numa fase de possível empobrecimento da própria sociedade."
 
Papa Bento XVI
Caritas in Veritate, 65

terça-feira, 23 de outubro de 2012

PROBLEMAS NOVOS, ALTERNATIVAS ANTIGAS


«O Senhor disse a Moisés no monte Sinai:“Diz aos israelitas o seguinte: (…) Contarás sete anos sabáticos, sete vezes sete anos, cuja duração fará um período de quarenta e nove anos (…) O quinquagésimo ano será para vós um jubileu (…) A terra não se venderá para sempre, porque a terra é minha, e vós estais em minha casa como estrangeiros ou hóspedes. Portanto, em todo o território de vossa propriedade, concedereis o direito de resgatar a terra. Se teu irmão se tornar pobre e vender uma parte de seu bem, seu parente mais próximo que tiver o direito de resgate se apresentará e resgatará o que o seu irmão vendeu. Se um homem não tiver ninguém que tenha o direito de resgate, mas procurar ele mesmo os meios de fazer o seu resgate, contará os anos desde que fez a venda, restituirá o excedente ao comprador, e se reintegrará na sua propriedade. Se não encontrar, porém, meios de indemnizar, a terra vendida ficará nas mãos do comprador até ao ano jubilar; sairá do poder deste no ano do jubileu, e voltará à posse do seu antigo dono. (…). Se teu irmão se tornar pobre junto de ti e se se vender a ti, não exigirás dele um serviço de escravo. Estará em tua casa como um operário, e como um hóspede estará a teu serviço até o ano jubilar. E sairá então de tua casa, ele e seus filhos com ele; voltará para a sua família e para a herança de seus pais. (…) Não receberás de teu irmão juros nem ganho; mas temerás o teu Deus, para que o teu irmão viva contigo. Não lhe emprestarás com juros o teu dinheiro, e não lhe darás os teus víveres por amor ao lucro.”
Lv 25:1,8,11,23-28,36-37,39-41

Quando li esta passagem bíblica pela primeira vez, há muitos anos, senti que esta lei dos anos jubilares não era justa. Parecia que os devedores acabavam sempre por sair beneficiados, porque as suas dívidas ficavam liquidadas no ano jubilar. Todavia, depois de ver a situação actual, consegui vislumbrar a sabedoria de Deus oculta neste texto, tantas vezes ignorado.

Nos últimos tempos, a classe política tem-nos vendido 2 mitos, que são aceites acriticamente como dogmas.
1)  A crise económica é uma crise de dívida. Gastámos mais do que as nossas possibilidades
2) Não existe alternativa à austeridade

Estes 2 "mitogmas" são utilizados para obrigar as populações a aceitar condições desumanas de vida, a desistirem dos mais elementares direitos ao trabalho, saúde e educação, tudo em nome do desígnio nacional de vencer a crise económica.

Mas as pessoas apercebem-se de que a crise prolonga-se e prolonga-se e todos os seus sacrifícios parecem ser para nada.

Então, para encontrar uma via ética e humana para vencer a crise económica, devo desconstruir os dois mitos.

1) "Gastamos mais do que as nossas possibilidades"

É verdadeira a velha metáfora que compara a economia nacional com a economia familiar. Ou seja, não se pode gastar mais do que aquilo que se tem. É um facto.

O problema é que essa metáfora apenas se aplicaria se a nossa economia nacional fosse uma economia sadia (i.e. de tipo familiar). Mas não é. A economia nacional está construída em regras perversas. Quando o ex-Primeiro Ministro José Sócrates, o da Má Memória, disse numa conferência: "As dívidas não se pagam, gerem-se"... infelizmente e horrivelmente estava a dizer a verdade.

A economia actual não foi concebida para que as dívidas sejam pagas, mas perpetuadas. Exactamente o oposto do livro do Levítico. Como é possível que sejamos menos civilizados hoje do que judeus da Idade do Bronze?

Qual é então a causa da crise económica nacional e mundial? Antes de prosseguir na leitura, peço ao leitor que veja o vídeo aqui em baixo.




Assim, é possível perceber que a economia assenta num princípio, denominado sistema bancário de reservas fraccionadas, segundo o qual os bancos comerciais podem CRIAR dinheiro a partir de nada (ex nihilo), como se fossem deuses monetários.
Os bancos não precisam de ter muitos depósitos para emprestar dinheiro...
... porque eles emprestam mais dinheiro do que aquele que está depositado, que é o mesmo que dizer que criam o dinheiro que emprestam.

Isto gera uma situação terrível.
Como a maior parte do dinheiro da Economia é criada pelos bancos, isso significa que a nossa economia funciona à base de dívidas aos bancos...
... dívidas essas que estão constantemente a ser contraídas para que a Economia avance.
Ou seja, as dívidas não são para se pagar, mas para se gerir.

Agora, peço ao leitor que veja os dois vídeos abaixo:







Mas esta situação tem ainda mais uma variante abominável.
A maior parte do dinheiro é criada pelo banco comercial quando este empresta dinheiro.
Mas o empréstimo exige que se pague juros ao banco.
Mas pagar juros exige dinheiro e quem cria o dinheiro é o banco.
Ou seja, o banco cria o dinheiro para o empréstimo... mas não cria o dinheiro para pagar os juros.
Significa que existirá SEMPRE menos dinheiro em circulação do que a dívida que temos aos bancos.

Em resumo: É MATEMATICAMENTE IMPOSSÍVEL PAGAR A DÍVIDA.

Só mais uma nuance: a completa falta de solidariedade dos bancos comerciais.
Quando um banco ameaça falência, o Estado tem de vir resgatá-lo com bail-outs, que são dinheiro dos contribuintes.
Mas quando as pessoas estão arruinadas por causa das dívidas aos bancos, eles não mexem uma palha para as resgatar.
Isso inclui pessoas que estão a viver na pobreza, no desemprego, na doença, porque a austeridade lhes cobrou impostos acima do razoável, ou fechou as suas empresas ou obrigou a cortes na Saúde.
Essas pessoas estão na miséria por causa das dívidas (individuais ou nacionais) aos bancos, mas eles nada fazem para as aliviar. Nunca lhes passa pela cabeça perdoar as dívidas. Não! Só interessa o lucro!

O Capitalismo é um Socialismo para ricos!

Quando as pessoas precisam de ajuda do Estado, não pode ser... é o Mercado Livre. Mas quando são os bancos, aí já se aceita ajuda do Estado. Os bancos enchem a boca com as teorias do Mercado Livre... onde está o Mercado Livre para os bancos?
 
E os nossos governantes estão dispostos a cortar em tudo.
Cortam nas reformas e nos salários.
Mas nunca na dívida. Isso é impensável! Temos de honrar os nossos compromissos! Temos de ser gente honrada!
E os reformados? Não trabalharam uma vida inteira? Não são credores do Estado?
E os funcionários públicos? Não trabalharam para ganhar o seu salário? Não são credores do Estado?

Há credores e há credores... Há dívidas que são para se cumprir e há dívidas que são para se deitar no lixo. Apenas as dívidas ao banco são para se pagar.
 
***
 
Portanto, não adianta pensar que a crise da dívida se deve a "gastarmos mais do que as nossas possibilidades". Com o sistema bancário de reservas fraccionadas, a crise da dívida surgiria sempre. Porque 1) precisamos da dívida aos bancos para ter a Economia a funcionar e 2) porque é matematicamente impossível pagar a dívida aos bancos.

2) "Não existem alternativas à austeridade"

Esta é outra falsidade. E é tanto mais falsa quando se verifica a austeridade NEM SEQUER É ALTERNATIVA. Os próprios motores da austeridade começam a reconhecer isso.

A austeridade induz recessão.
Quer isto dizer que as pessoas não consomem, não compram, porque têm de poupar.
Por outro lado, estão mais sobrecarregadas e, logo, trabalham pior e produzem menos.
Ou seja, a austeridade faz com que as pessoas tenham menos dinheiro. E, logo, que o Estado tenha menos dinheiro.
Mas se as pessoas têm menos dinheiro e os Estados também... então temos menos possibilidades de pagar as dívidas aos bancos.

O que vai agravar a nossa dívida.

E assim sucessivamente.

Então, qual é a alternativa?

A alternativa está, hoje como sempre, na Doutrina da Igreja, que o próprio Deus instituiu para nos guiar. Por sinal, está numa doutrina já há muuuuuito tempo esquecida.

3) A Doutrina da "usura"

Os dissidentes utilizam frequentemente o exemplo da usura para dizer que a Igreja Católica pode mudar a sua doutrina. Mas isto é falso. A Igreja nunca mudou a sua doutrina sobre a usura. Nunca. A usura continua a ser tão pecaminosa hoje como ontem.

Mas a Igreja não diz que a economia mudou ? Que agora é lícito emprestar com juros?
Sim.
Mas quem é que disse que usura é "emprestar dinheiro com juros"? Usura não tem nada a ver com isso.

Sugiro a leitura deste excelente post, que demonstra que usura é um conceito complexo e cuja definição ainda está por terminar (pelo menos a nível dos detalhes). O problema é que, na altura da Idade Média, quando a economia era mais simples, toda a gente percebia o que era usura. Desde que a economia moderna se desenvolveu, tornou-se mais difícil saber o que é a usura. Em primeiro lugar porque a sua definição está ainda incompleta. Em segundo lugar porque é difícil saber quando um empréstimo bancário deixa de ser legítimo e passa a ser usurário.
 
É FUNDAMENTAL REABRIR O DEBATE SOBRE O QUE É A USURA, SOBRETUDO APLICADA À ECONOMIA DOS DIAS DE HOJE.

Eu, sinceramente, adopto a definição simplista de Hillaire Belloc e John C. Medáille:

"Usura é emprestar dinheiro com juros para financiar consumos não produtivos."

E é isto que a Igreja Católica ensina. A Igreja sabe que a economia actual funciona à base de bancos comerciais. Mas a função dos bancos comerciais é dar crédito a actividades produtivas.

Imaginemos que um banco empresta 100 € à taxa de 1% a um empreendedor para que este monte uma fábrica. O empreendedor gasta os 100 € para montar a fábrica. O negócio floresce. Produz-se nova riqueza. A fábrica acaba por originar produtos que são vendidos com um valor superior a 101 €. O empreendedor pode pagar a dívida ao banco, incluindo juros. E ficou depois com uma fábrica para o seu próprio sustento. Nada de imoral aconteceu aqui... e foi um empréstimo com juros.

Agora imaginemos que um banco empresta 100 € à taxa de 1% a uma pessoa para passar férias (embora dentro do país). O feriante gasta os 100 € nas férias. Os 100 € entram em circulação. Mas não se produziu riqueza nova. Quando regressa, o indivíduo tem de pagar 101 € ao banco. Sendo que 100 € estão em circulação... mas há 1 € que não existe na economia real. Para que o feriante pague a sua dívida ao banco, alguém terá de ficar 1 € mais pobre.

Pior ainda é quando um banco faz empréstimos com propósitos meramente especulativos. Quando compra um produto com um certo valor e depois usa manigâncias imorais para o vender acima desse outro valor. O banco recebeu um lucro sem ter feito nada para o merecer. Nem mérito, nem trabalho, nem empreendedorismo, nada... E em nada essa actividade beneficiou o Bem Comum. Pelo contrário. É certo que, quando alguém ganha dinheiro sem o merecer, houve outro alguém que perdeu dinheiro sem o merecer também.

Com base nisto, podemos deduzir que grande parte das nossas dívidas actuais são imorais. Como tal, não estamos moralmente obrigados a pagá-las. Tal como o toxicodependente não está moralmente obrigado a pagar a dívida ao dealer. O toxicodependente tem como único imperativo moral, tentar recuperar-se para se tornar um membro activo da sociedade, que contribua para o Bem Comum. Se a dívida ao dealer o impedir de atingir esse objectivo, deve ser pura e simplesmente rasgada.

E não foi isso que os bancos fizeram connosco? Tornarem-nos dependentes deles? Tornarem-nos dependentes do dinheiro deles para porem a nossa Economia a funcionar?

4) Alternativas antigas para problemas novos

Com base em tudo o que eu disse, é fácil traçar alternativas que, rapidamente, nos tirariam desta crise sem nos forçar a austeridades desumanas. Todavia, não vejo nenhum político com interesse em tomar essas medidas.
Em primeiro lugar, porque são medidas demasiado desconhecidas para terem efeito eleitoral.
Em segundo lugar, porque esses políticos são muito próximos dos grandes interesses económicos.
Em terceiro lugar, porque os políticos têm um pala ideológica que os impede de verem soluções novas.
E em quarto lugar, porque um político teria de ser muito hábil e corajoso para o conseguir: assim que estas medidas fossem implementadas, os mercados deixariam de confiar em Portugal e perder-se-ia o espaço de manobra para défices futuros (seria necessário atingir um superávite em menos de 1 ano).

Portanto, estas alternativas têm que começar a impôr-se no campo das ideias. O que não é  tão mau ou ineficaz como parece. Devemos lembrar-nos que até há poucos anos atrás havia meio mundo que estava sob o domínio de uma ideologia político-económica nefasta, o Comunismo. Parecia invencível. Mas caiu, frágil como um castelo de cartas. E, antes de haver iniciativas políticas para fazer frente ao Comunismo, houve ideias. Particularmente as lançadas para a discussão pública pela Doutrina Social da Igreja.

Alternativas que eu recomendo:

1) Acabar de vez com o sistema bancário de reservas fraccionadas. Apenas os bancos centrais devem poder criar moeda central.

2) Pugnar por uma moratória unilateral e incondicional às dívidas públicas, começando pelas dos países do Terceiro Mundo. Pedir auditorias populares à dívida (para saber se houve ou não irregularidades nos empréstimos).

3) Enquanto tal não sucede, fomentar a existência de moedas paralelas. Ponho à vossa consideração a experiência de Wörgl, um sucesso tão desconhecido...
Na verdade, acho que não existe outra maneira de criar riqueza no nosso país, mantendo-nos no Euro... é preciso criar uma moeda paralela a ele. O Euro seria para pagar a dívida. A moeda paralela para manter a economia a funcionar.

4) Promover gradualmente a alternativa aos bancos comerciais: as uniões de crédito.







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5) Impôr aos bancos comerciais a criação de linhas de microcrédito, para estimular a economia com empréstimos realmente benéficos
6) Regular antentamente toda e qualquer actividade especulativa, proibindo-a
7) Combate agressivo e eficaz à corrupção (um sorvedouro de dinheiros públicos, também contrário ao Bem Comum). Educação para uma cidadania sem corrupção.
8) Combate agressivo e eficaz à economia paralela ("dai a César o que é de César" é uma lei de Cristo). Só com esta medida isoladamente, já teríamos um superávite.
9) Poupar em tudo o que é despesismo, que ainda é muito.

10) Indexar o salário dos políticos a uma fórmula que leve em conta o défice público, mas também as taxas de desemprego e de pobreza. Isso havia de motivá-los...
11) Racionalizar a Segurança Social. Ou seja, cortar ao máximo os subsídios (exceptuando reformas, invalidez e subsídios de natalidade) e substitui-los por intervenções VERDADEIRAS de inserção social. Articulação com as IPSSs, CATs, Centros de Alcoologia, Centros de Emprego e as linhas de microcrédito supracitadas.
12) Promover o auto-sustento. Quer individidual, quer nacional. Devemos recuperar a nossa agricultura e as nossas pescas, para sermos o mínimo possível dependentes do exterior. As importações custam dinheiro. Que cada país possa ser auto-suficiente, quanto mais não seja na produção dos bens essenciais.

13) Acabar com off-shores. Que cada qual pague aquilo que lhe é devido. É verdade que os empresários, quando ameaçados com impostos, fogem para ambientes fiscalmente mais agradáveis noutros países menos escrupulosos. É por isso que devemos tentar globalizar esta medida, tal como eles tentaram globalizar a "competitividade" quase chinesa do valor do trabalho.

14) Promover a Família, a verdadeira Família, mediante acções educativas à população. Apenas uma Família fértil e estável pode evitar o inverno demográfico, com o consequente colapso da sociedade portuguesa e pobreza subsequente. PROIBIÇÃO ABSOLUTA DO ABORTAMENTO PROVOCADO.

***

Como pode o meu leitor ver, é possível sair desta crise económica de uma forma humana e sem prejudicar os mais frágeis. Pelo contrário, poupar os mais frágeis e obrigar cada qual a pagar a sua quota parte (o que significa não pagar dívidas injustas) é a única maneira de sair desta crise económica. Aí sim, não existem alternativas.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

PRÉMIOS NOBEL (II) - "ÉTICA", DIZEM ELES. MAS SERÁ?

A questão das células-tronco (aquilo que os media chamam "células estaminais", numa tradução literal e atabalhoada do termo anglo-saxónico "stem cells") sempre levantou grandes questões. Por um lado, tais células indiferenciadas podem, teoricamente, diferenciar-se em qualquer tecido do corpo, regenerando-o e originando curas quase milagrosas. Por outro lado, para obter tais células, é necessário recorrer à destruição de seres humanos em fase embrionária. Isto, claro, levanta questões de ordem ética. Mesmo que as curas milagrosas estejam ao nosso alcance, não podemos aceder-lhes se, para tal, tivermos de recorrer a procedimentos não-éticos.

Costumo socorrer-me do seguinte exemplo: é muito fácil erradicar o VIH/SIDA da face da Terra. Basta matar todos os seropositivos, convencionando-os como não-humanos. Mas isso é claramente errado. De igual modo, não é ético salvar um indivíduo necessitado de um transplante, matando um outro indivíduo que, embora compatível, se encontre inscrito no Registo de Não-Dadores.

Mas as questões não são puramente éticas. Apesar do entusiasmo (imerecido) que as hESCs ("human embryonic stem cells", i.e. células-tronco embrionárias humanas) têm suscitado nos media e na comunidade científica, a verdade é que têm sido verdadeiros "abortos". Promessas na cura da diabetes, esclerose múltipla, Alzheimer... tudo falhou. Além de terem um efeito secundário grave: células indiferenciadas malignizam facilmente, induzindo tumores e cancros. Há sempre ensaios a decorrer, estão há anos a dizer "agora é que é, agora é que é!", mas... nada...

Pelo contrário, as células-tronco adultas, derivadas de medula óssea ou de sangue do cordão umbilical são perfeitamente éticas, porque são recolhidas da própria pessoa que beneficia do tratamento, sem a destruir.

Ao contrário das hESCs, as ASCs ("adult stem cells" i.e. células-tronco adultas), têm produzido benefícios tangíveis. Veja-se aqui, aqui, aqui e aqui, só para se ter alguns exemplos. Além de serem mais seguras, já que não malignizam.

É verdade que as ASCs são mais diferenciadas que as hESCs, pelo que, teoricamente, não se conseguirão diferenciar em todos os tecidos do corpo (ao contrário das hESCs). Isto faz com que os cientistas continuem a rejeitar as ASCs e a preferir as hESCs, apesar de as ASCs serem éticas e serem as únicas com resultados até agora.

Após esta introdução, é possível dizer que há um terceiro tipo de células-tronco: as "induced pluripotent stem cells" - iPSCs.

As iPSCs são células adultas que foram forçadas a "regredir", ou seja, a tornarem-se mais embrionárias. Tornando-se menos diferenciadas, é possível obter todos os benefícios das células-tronco embrionárias, sem destruir embriões.


MAS ATENÇÃO!!!

É que, para produzir estas iPSCs foi necessário recorrer a um vírus, o qual foi replicado com o auxílio de células-tronco embrionárias. Veja-se o artigo da revista Cell, na secção "Experimental procedures", subsecção "Cell culture".

É verdade que nenhum embrião foi destruído explicitamente para produzir as iPSCs. As células-tronco embrionárias utilizadas já existiam em cultura há muitos anos, derivadas de um aborto electivo ocorrido na década de 1970 (ver pág.s 80-81 deste paper).

Mas o facto de o embrião não ter sido destruído explicitamente para produzir as iPSCs (o embrião já tinha sido destruído há muito tempo), não justifica o facto de as iPSCs usarem material biológico de um embrião abortado. É possível que se aplique o mesmo princípio ético que eu mencionei acima... não é lícito obter transplantes a partir da destruição de terceiros. Um médico não poderia transplantar um órgão de um indivíduo especificamente morto para o efeito, mesmo que a morte desse indivíduo já tivesse ocorrido.

Ou, como a doutrina bio-ética da Igreja define na instrução Dignitas Personae:

"Uma situação diferente verifica-se, quando os investigadores empregam «material biológico» de origem ilícita, que foi produzido fora do seu centro de investigação ou que se encontra no comércio. A Instrução Donum vitae formulou o princípio geral, a observar nestes casos: «os cadáveres de embriões ou fetos humanos, voluntariamente abortados ou não, devem ser respeitados como os restos mortais dos outros seres humanos. De modo particular, não podem ser objecto de mutilação ou autópsia se a sua morte não for assegurada e sem o consentimento dos pais ou da mãe. Além disso, deve-se sempre salvaguardar a exigência moral de que não tenha havido nenhuma cumplicidade com o aborto voluntário e que seja evitado o perigo de escândalo».

A tal propósito, não basta o critério da independência formulado por algumas comissões éticas, ou seja, afirmar que seria eticamente lícita a utilização de «material biológico» de proveniência ilícita, sempre que exista uma clara separação entre os que produzem, congelam e fazem morrer os embriões e os que investigam a evolução da experimentação científica. O critério de independência não basta para evitar uma contradição na atitude de quem afirma não aprovar a injustiça cometida por outros e, ao mesmo tempo, aceita para o seu trabalho «material biológico» que outros obtêm mediante semelhante injustiça. Quando o ilícito tem o aval das leis que regulamentam o sistema sanitário e científico, há que marcar distância dos aspectos iníquos do sistema, para não dar a impressão de uma certa tolerância ou aceitação tácita de acções gravemente injustas. Isso, de facto, contribuiria para aumentar a indiferença, se não mesmo o favor, com que tais acções são vistas em certos ambientes médicos e políticos.

Às vezes, objecta-se que as considerações precedentes parecem pressupor que os investigadores de recta consciência teriam o dever de se opor activamente a todas as acções ilícitas realizadas no âmbito da medicina, alargando assim excessivamente a sua responsabilidade ética. O dever de evitar a cooperação com o mal e o escândalo, diz respeito, na realidade, à sua actividade profissional ordinária, que devem equacionar rectamente e mediante a qual devem testemunhar o valor da vida, opondo-se também às leis gravemente injustas. Portanto, o dever de recusar o referido «material biológico» – mesmo na ausência de uma certa relação próxima dos investigadores com as acções dos técnicos da procriação artificial ou com a dos que praticaram o aborto, e na ausência de um prévio acordo com os centros de procriação artificial – resulta do dever de, no exercício da própria actividade de investigação, se distanciar de um quadro legislativo gravemente injusto e de afirmar com clareza o valor da vida humana. Por isso, o critério da independência acima referido é necessário, mas pode ser eticamente insuficiente."
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(Mais um artigo interessante sobre o assunto encontra-se aqui)
 
Isto é tanto mais grave, quando certos investigadores nesta área (e que colocam as preocupações bio-éticas na dianteira do seu trabalho) afirmam que as iPSCs poderiam ser obtidas sem recurso às hESCs, mas às próprias ASCs. Embora desconheça se isso é verdade, não vejo porque motivo terão de ser utilizadas hESCs para cultivar o vírus que produz as iPSCs.
 
O debate ético em torno desta questão ainda não está, obviamente, encerrado. Mas parece estar inclinado contra as iPSCs. Pelo menos enquanto não se encontrarem alternativas às células embrionárias para produzir iPSCs (o que, penso, não demorará muito a surgir). Portanto, para já, um católico com as devidas preocupações bio-éticas deve manter uma distância prudente das iPSCs, até que a Igreja Católica se possa pronunciar, após um debate sereno e sem viéses.