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Ano da Fé

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sábado, 28 de fevereiro de 2009

A CIÊNCIA DA FÉ E A FÉ NA CIÊNCIA (parte 3/3)

(continuando)

No post anterior eu respondi afirmativamente às questões: "Pode a Fé explicar a Ciência?" e "Pode a Ciência explicar a Fé?". Passo a explicar porquê...



Claro que a Fé pode explicar a Ciência! Nós acreditamos que Jesus Cristo é o Logos encarnado. Ou seja, acreditamos que a própria Razão (que é Deus) encarnou e se tornou visível. Deste modo, acreditando no Deus cristão, nós acreditamos que todas as coisas (que foram criadas por Ele) possuem uma partícula de Razão. Se as coisas criadas não tivessem essa partícula de Razão, a Ciência não lhes seria aplicável (porque a Ciência parte do pressuposto que as coisas manipuladas cientificamente se comportam de uma forma racionalmente perceptível). Consequentemente, se Cristo nos diz que temos de O procurar, isso é um enorme estímulo à Ciência (porque Cristo é a Razão e nós temos de procurar Cristo).

E isto é comprovado pela História. Exceptuando-se o caso Galileo, a verdade é que a Igreja sempre foi uma grande mecenas das ciências.
Foi ela quem criou o sistema universitário.
Foi ela quem apoiou as grandes investigações medievais e renascentistas.
Ela criou o enquadramento cultural próprio, o húmus do Cristianismo no qual iria florescer o método científico (porque o Cristianismo é, como eu já referi acima, um incentivo à Ciência).
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Tantos grandes cientistas foram clérigos! O enciclopedista Beda, o Venerável; o naturalista Roger Bacon; o médico Pedro Hispano (que se tornaria o Papa João XXI); o escolástico S. Anselmo, o Grande; o multifacetado professor Gerbert de Aurillac (que se tornaria o Papa Silvestre II); o astrónomo Nicholai Copérnico; o geneticista Gregor Mendel; o geólogo Nicolaus Steno; o atomista Rudjer Boscovich; o astrofísico George Lemaître…

Tantos cientistas que foram católicos devotos! O médico Louis Pasteur, o matemático Blaise Pascal, o químico Antoine-Laurent Lavoisier e… sim, o próprio Galileo!

Não seria possível que a civilização ocidental tivesse alcançado os níveis científicos do Iluminismo se a mesma civilização tivesse vivido os séculos de obscurantismo que nos querem fazer crer que a Igreja fomentou. A Ciência não nasce espontaneamente… é uma construção! Somos anões sobre os ombros de gigantes!


E o inverso: Será que a Ciência pode explicar a Fé?

Os teístas acreditarão que terão entrado agora num beco sem saída… porque a Fé não pode ser explicada pela Ciência. Parece que, finalmente, o ateu venceu a parada!

Não tão rápido. É que eu digo: a Ciência pode explicar a Fé, sim!



Recordemos a definição do método científico (vide post 2). Nós não provamos uma dada hipótese. Nós calculamos a probabilidade de um dado fenómeno ser devido ao acaso (partindo do pressuposto que a hipótese está errada).

Muitos adeptos da chamada teoria do Intelligent Design gostam de usar este raciocínio para provar a existência de Deus. Eles consideram que a complexidade do universo torna pouco provável que o mundo seja um fruto puro do acaso. Logo, Deus deve existir. Eu, por meu lado, prefiro não me meter em promiscuidades entre Fé e Ciência.

Porque eu sinto-me perfeitamente à vontade com o acaso. Eu acho que o universo está constantemente a ser modelado pelo acaso. O acaso é constituído por todas as causas que podem influenciar o fenómeno estudado e que eu não estou a considerar na hipótese (sejam essas causas conhecidas ou desconhecidas). Ora Deus é uma dessas causas desconhecidas que eu não consigo manipular e cuja amplitude eu não posso medir. Ao remeter Deus para o domínio do acaso, eu torno-me livre para pesquisar causas naturais para o fenómeno. Deus é aquela variável que pode influenciar tudo, pelo que eu devo procurar as causas de um fenómeno que não a causa “Deus”.

Ilustro o que pretendo dizer com o exemplo da cura da doença. A cura da doença é multifactorial. Eu posso testar a hipótese: “O remédio X é cura para a doença”. Ou seja, eu tento saber se, de facto, o remédio X é uma causa para a cura da doença. Mas ao fazê-lo, eu tomo consciência de que existem outras causas possíveis para a cura da doença que não o remédio X. A estas causas possíveis eu chamo “acaso”. E entre uma dessas causas possíveis está Deus. Por muitas causas que eu encontre para a cura da doença, enquanto houver “acaso” (i.e. causas possíveis desconhecidas para a cura), existe a possibilidade de Deus entrar na equação.


“Acaso é o nome que Deus usa quando não quer assinar as Suas obras”


Anatole France



Nesta altura, o leitor confuso pergunta-me: “Oh Alma peregrina… mas tu tinhas dito que se podia provar Deus pelo método científico!”

Pois disse. E reitero o que disse.

Só que as pessoas estão constantemente a tentar provar Deus como fariam para provar uma qualquer causa natural de um fenómeno natural. Continuam a tentar analisar a composição química do guisado da mamã! Mas o Deus revelado na Bíblia é um Deus pessoal, que pretende estabelecer um contacto pessoal connosco! Um contacto pessoal chamado “religião”.

Portanto, o cientista deve provar Deus de uma forma pessoal. É claro que os ateus já tentaram uma coisa semelhante! Eles dizem: “Se Deus existe, Ele que me fulmine com um relâmpago!”
Como Deus não o faz, o ateu aceita (muito satisfeito com a sua própria inteligência) que provou que Deus não existe.

Tolice!

Um cientista não tem dogmas. Quando aplica o método científico, ele está preocupado em descobrir a verdade, não em provar a sua hipótese a todo o custo. O que o ateu faz não é provar a sua hipótese... é um exercício de masturbação mental. Ele faz isso, porque sente prazer em provar a si próprio que Deus não existe. Mas o ateu já sabia qual iria ser o resultado da sua experiência (já outros o tentaram). Se o ateu considerasse que havia alguma hipótese de ser fulminado por um relâmpago, jamais tentaria Deus a fazê-lo. Impõe-se a questão: se o ateu já sabia a resposta, por que experimentou?

Por outro lado, o ateu tenta provar um deus que não existe. O ateu tenta provar a existência do deus que faz tudo o que lhe mandam. Ao tentar provar a existência de Deus, o ateu recusa as premissas dos religiosos (“Não tentarás o Senhor, teu Deus” Mt 4:7). Esta atitude é absurda e dogmática! Para testar uma hipótese, o cientista deve aceitar as premissas de tal hipótese.

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Relembro que acreditamos num Deus pessoal. Vou dar outro exemplo: imaginemos um cientista que não acredita que o género feminino exista. Portanto, tenta provar isso. Vai a um bar e vê uma mulher. Mas não acredita que aquela seja uma mulher, pois pode ser um travesti. Por isso, pega numa régua e põe as mãos nas cuequinhas da mulher para medir o… enfim, vocês sabem! Passadas umas boas bofetadas, o nosso cientista louco escreve no seu bloquinho: “Hipótese confirmada! A Mulher não existe! Apenas existem travestis com maus feitio!”

O cientista inteligente que quisesse provar a sua hipótese, tentaria seduzir a mulher no bar, namora-la e, eventualmente, leva-la para a cama. Deste modo, além de provar a sua hipótese, acederia a uma experiência agradável para si próprio e para a mulher…
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O ateu pensa que, só porque Deus não faz o que ele quer, então Deus não existe.

Isto torna-se muito visível nas considerações arbitrárias que o ateu faz acerca do que é “racional” e “irracional”. Em que se fundamenta o ateu para definir a religião como “irracional”? Quais são os seus critérios? O facto de Deus não ser passível de ser provado cientificamente? Mas quem disse que tudo o que é verdade tem de ser passível de ser provado cientificamente?

Por acaso, os homens das cavernas podiam provar cientificamente a existência da Célula? Não! Será que a teoria celular era falsa antes da descoberta do microscópio?

Por acaso, os homens das cavernas podiam provar cientificamente a existência de Plutão? Não! Será que Plutão não existia antes da descoberta do telescópio?

Vejo muitos materialistas a justificarem a doutrina “irracional” das aparições marianas com a doutrina “racional” dos O.V.N.I.S. Mas por que será que os O.V.N.I.S. são “racionais”? A resposta é esta: porque o homem moderno pode viajar para outros planetas! Logo, os O.V.N.I.S. são entidades que são compreensíveis para o homem moderno! No entanto, um materialista da época das cavernas, que não sabia sequer como construir um avião, diria que os O.V.N.I.S. seriam “irracionais”! Porque nenhum homem sabe como voar, então a existência de entidades racionais que saibam voar é falsa!

Os materialistas apresentam uma fé mais absurda que a dos religiosos! Eles acham que a realidade não foi criada por Deus! Eles acham que a realidade é criada pela mente deles! Eles acham que a realidade é criada pela nossa tecnologia!


O materialista objectará que, apesar de tudo, as hipóteses da Célula e de Plutão são passíveis de ser provadas cientificamente, mas que Deus nunca o será! Portanto, a Célula e Plutão são “racionais” porque existe a possibilidade de as provar cientificamente. Mas Deus é “irracional” porque, por mais que o Homem evolua, nunca o conseguirá provar cientificamente. A essas pessoas eu digo: tal como a Célula precisa de um microscópio para ser provada, tal como Plutão necessita de um telescópio para ser provado, também Deus precisa de uma ferramenta para ser provado! A essa ferramenta chama-se Fé! Temos um Deus pessoal, que gosta de ser seduzido, namorado e amado como a mulher no bar! Estas são as premissas da nossa fé!



Então, como se pode provar a existência de Deus? Seguindo as Suas instruções! O verdadeiro cientista limpa-se dos dogmas das etiquetas arbitrárias “racional” e “irracional” e tenta provar, sem certezas apriorísticas, a hipótese “Deus existe” através da aceitação das premissas da fé. O verdadeiro cientista experimentará, passando uma temporada rezando fervorosamente (não dizendo “Deus, faz o que te peço” mas “Deus, seja feita a Tua Vontade”), participando nos Sacramentos, trabalhando em grupos religiosos de ajuda comunitária, respeitando os Mandamentos, estudando humildemente a Bíblia, implorando a Graça divina…
… depois avaliará objectivamente os resultados.

Se, depois desta experiência, ele continuar a achar que Deus não existe, pelo menos ganhará um maior respeito pelos teístas.



Deste modo, peço desculpa, mas termino. Vou despir a minha bata e dirigir-me para casa, a fim de saborear o guisado da minha mamã.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

VIA CRUCIS NA BLOGOSFERA

Antigamente, quando a piedade popular se encontrava mais acesa na alma portuguesa, não havia terrinha (por mais insignificante que fosse) onde não se encontrassem cruzeiros. Tais cruzeiros eram usados na 6ª Feira Santa para celebrar a Via Sacra. Deste modo, pretendia-se ilustrar que nenhuma terrinha era insignificante o suficiente para não ser abrangida pelo Supremo Sacrifício de Cristo. O Amor de Deus a todos chegava, o que apenas engrandecia o próprio Ser Humano.

De igual modo, também não havia local de culto, por mais humilde que fosse, que não apresentasse (no mínimo) umas figurinhas evocativas dessa Via Sacra. Ou seja, o Supremo Sacrifício de Cristo encontrava-se no centro e no alicerce de toda a nossa prática religiosa. Esquecer a Via Sacra era esquecer quem somos.

De facto, a Via Sacra é uma tradição enraizada na nossa Cristandade e que reflecte um património cultural e espiritual de uma grande riqueza histórica.



Infelizmente, tal tem tendência a perder-se. Vivemos numa época que idolatra a auto-gratificação. Isto é evidente ainda hoje. Veja-se a forma como tantos celebram o Carnaval (não raras vezes de forma excessiva e despudorada) e tão poucos jejuam na Quaresma. Mas que é o Carnaval, senão uma preparação (um oásis material para temperar forças) para o espírito penitencial da Quaresma? Pois é... a inversão de valores é patente neste exemplo. Os nossos actos não são ditados pelo seu significado, mas antes pelo prazer que despertam em nós. Não importa que Carnaval sem Quaresma não tenha significado... o que importa é que Carnaval sem Quaresma dá prazer. E saliento a inversão de valores ainda nisto: já não precisamos de desculpa para celebrar, mas para penitenciarmo-nos (quando deveríamos praticar o oposto).

No entanto, não me limitarei (como também é costume nos dias de hoje) a denunciar males. Antes, procurarei alternativas.

E penso ter encontrado essa alternativa aqui, neste espaço virtual que simultanemente existe e não existe. Felizmente, a teologia católica (ao contrário de algumas teologias protestantes de índole puritanista) não vê as coisas materiais e a tecnologia como maléficos, profanidades mundanas que nos visam afastar de Deus. Na verdade, nós vemos na tecnologia um "meio" para atingir Deus, desde que os nossos propósitos sejam honestos.

Deste modo, achei que deveríamos colocar uma Via Sacra também aqui na Blogosfera. E digo, "deveríamos" porque a Igreja é uma comunidade e todos nós estamos interessados na propagação da Boa Nova.

Eis o que proponho: cada blogger que deseje participar nesta iniciativa deverá colocar um comment neste post ou enviar uma mensagem para pilgrimsoul1@gmail.com. Há 14 vagas (uma para cada estação, incluindo-me a mim). Depois de preenchidas estas vagas, irei sortea-las pelos participantes. Cada qual, então, deverá fazer um breve post que procure reflectir sobre a importância da estação que lhe coube na vida cristã. Peço que os posts sejam breves, a fim de não tornar esta Via Sacra demasiado pesada.

Cada um deveria, na 5º Feira Santa, postar a sua reflexão no seu próprio blog. E, em cada reflexão, colocar um link para o post do blogger que tenha a estação seguinte. Uma Via Sacra que unirá a bloggosfera católica! É claro que, para isto resultar, é fundamental que haja um compromisso de TODOS os 15 bloggers postarem as suas estações na 5ª Feira Santa.

Que me dizem?

MENSAGEM DE D. MANUEL CLEMENTE PARA A QUARESMA 2009

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE O PAPA BENTO XVI PARA A QUARESMA DE 2009


"Jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome"
(Mt 4, 1-2)





Queridos irmãos e irmãs!


No início da Quaresma, que constitui um caminho de treino espiritual mais intenso, a Liturgia propõe-nos três práticas penitenciais muito queridas à tradição bíblica e cristã – a oração, a esmola, o jejum – a fim de nos predispormos para celebrar melhor a Páscoa e deste modo fazer experiência do poder de Deus que, como ouviremos na Vigília pascal, «derrota o mal, lava as culpas, restitui a inocência aos pecadores, a alegria aos aflitos. Dissipa o ódio, domina a insensibilidade dos poderosos, promove a concórdia e a paz» (Hino pascal).


Na habitual Mensagem quaresmal, gostaria de reflectir este ano em particular sobre o valor e o sentido do jejum. De facto a Quaresma traz à mente os quarenta dias de jejum vividos pelo Senhor no deserto antes de empreender a sua missão pública. Lemos no Evangelho: «O Espírito conduziu Jesus ao deserto a fim de ser tentado pelo demónio. Jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome» (Mt 4, 1-2). Como Moisés antes de receber as Tábuas da Lei (cf. Êx 34, 28), como Elias antes de encontrar o Senhor no monte Oreb (cf. 1 Rs 19, 8), assim Jesus rezando e jejuando se preparou para a sua missão, cujo início foi um duro confronto com o tentador.

Podemos perguntar que valor e que sentido tem para nós, cristãos, privar-nos de algo que seria em si bom e útil para o nosso sustento. As Sagradas Escrituras e toda a tradição cristã ensinam que o jejum é de grande ajuda para evitar o pecado e tudo o que a ele induz. Por isto, na história da salvação é frequente o convite a jejuar. Já nas primeiras páginas da Sagrada Escritura o Senhor comanda que o homem se abstenha de comer o fruto proibido: «Podes comer o fruto de todas as árvores do jardim; mas não comas o da árvore da ciência do bem e do mal, porque, no dia em que o comeres, certamente morrerás» (Gn 2, 16-17). Comentando a ordem divina, São Basílio observa que «o jejum foi ordenado no Paraíso», e «o primeiro mandamento neste sentido foi dado a Adão». Portanto, ele conclui: «O “não comas” e, portanto, a lei do jejum e da abstinência» (cf. Sermo de jejunio: PG 31, 163, 98). Dado que todos estamos estorpecidos pelo pecado e pelas suas consequências, o jejum é-nos oferecido como um meio para restabelecer a amizade com o Senhor. Assim fez Esdras antes da viagem de regresso do exílio à Terra Prometida, convidando o povo reunido a jejuar «para nos humilhar – diz – diante do nosso Deus» (8, 21). O Omnipotente ouviu a sua prece e garantiu os seus favores e a sua protecção. O mesmo fizeram os habitantes de Ninive que, sensíveis ao apelo de Jonas ao arrependimento, proclamaram, como testemunho da sua sinceridade, um jejum dizendo: «Quem sabe se Deus não Se arrependerá, e acalmará o ardor da Sua ira, de modo que não pereçamos?» (3, 9). Também então Deus viu as suas obras e os poupou.

No Novo Testamento, Jesus ressalta a razão profunda do jejum, condenando a atitude dos fariseus, os quais observaram escrupulosamente as prescrições impostas pela lei, mas o seu coração estava distante de Deus. O verdadeiro jejum, repete também noutras partes o Mestre divino, é antes cumprir a vontade do Pai celeste, o qual «vê no oculto, recompensar-te-á» (Mt 6, 18). Ele próprio dá o exemplo respondendo a satanás, no final dos 40 dias transcorridos no deserto, que «nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus» (Mt 4, 4). O verdadeiro jejum finaliza-se portanto a comer o «verdadeiro alimento», que é fazer a vontade do Pai (cf. Jo 4, 34). Portanto, se Adão desobedeceu ao mandamento do Senhor «de não comer o fruto da árvore da ciência do bem e do mal», com o jejum o crente deseja submeter-se humildemente a Deus, confiando na sua bondade e misericórdia.

Encontramos a prática do jejum muito presente na primeira comunidade cristã (cf. Act 13, 3; 14, 22; 27, 21; 2 Cor 6, 5). Também os Padres da Igreja falam da força do jejum, capaz de impedir o pecado, de reprimir os desejos do «velho Adão», e de abrir no coração do crente o caminho para Deus. O jejum é também uma prática frequente e recomendada pelos santos de todas as épocas. Escreve São Pedro Crisólogo: «O jejum é a alma da oração e a misericórdia é a vida do jejum, portanto quem reza jejue. Quem jejua tenha misericórdia. Quem, ao pedir, deseja ser atendido, atenda quem a ele se dirige. Quem quer encontrar aberto em seu benefício o coração de Deus não feche o seu a quem o suplica» (Sermo 43; PL 52, 320.332).

Nos nossos dias, a prática do jejum parece ter perdido um pouco do seu valor espiritual e ter adquirido antes, numa cultura marcada pela busca da satisfação material, o valor de uma medida terapêutica para a cura do próprio corpo. Jejuar sem dúvida é bom para o bem-estar, mas para os crentes é em primeiro lugar uma «terapia» para curar tudo o que os impede de se conformarem com a vontade de Deus. Na Constituição apostólica Paenitemini de 1966, o Servo de Deus Paulo VI reconhecia a necessidade de colocar o jejum no contexto da chamada de cada cristão a «não viver mais para si mesmo, mas para aquele que o amou e se entregou a si por ele, e... também a viver pelos irmãos» (Cf. Cap. I). A Quaresma poderia ser uma ocasião oportuna para retomar as normas contidas na citada Constituição apostólica, valorizando o significado autêntico e perene desta antiga prática penitencial, que pode ajudar-nos a mortificar o nosso egoísmo e a abrir o coração ao amor de Deus e do próximo, primeiro e máximo mandamento da nova Lei e compêndio de todo o Evangelho (cf. Mt 22, 34-40).

A prática fiel do jejum contribui ainda para conferir unidade à pessoa, corpo e alma, ajudando-a a evitar o pecado e a crescer na intimidade com o Senhor. Santo Agostinho, que conhecia bem as próprias inclinações negativas e as definia «nó complicado e emaranhado» (Confissões, II, 10.18), no seu tratado A utilidade do jejum, escrevia: «Certamente é um suplício que me inflijo, mas para que Ele me perdoe; castigo-me por mim mesmo para que Ele me ajude, para aprazer aos seus olhos, para alcançar o agrado da sua doçura» (Sermo 400, 3, 3: PL 40, 708). Privar-se do sustento material que alimenta o corpo facilita uma ulterior disposição para ouvir Cristo e para se alimentar da sua palavra de salvação. Com o jejum e com a oração permitimos que Ele venha saciar a fome mais profunda que vivemos no nosso íntimo: a fome e a sede de Deus.

Ao mesmo tempo, o jejum ajuda-nos a tomar consciência da situação na qual vivem tantos irmãos nossos. Na sua Primeira Carta São João admoesta: «Aquele que tiver bens deste mundo e vir o seu irmão sofrer necessidade, mas lhe fechar o seu coração, como estará nele o amor de Deus?» (3, 17). Jejuar voluntariamente ajuda-nos a cultivar o estilo do Bom Samaritano, que se inclina e socorre o irmão que sofre (cf. Enc. Deus caritas est, 15). Escolhendo livremente privar-nos de algo para ajudar os outros, mostramos concretamente que o próximo em dificuldade não nos é indiferente. Precisamente para manter viva esta atitude de acolhimento e de atenção para com os irmãos, encorajo as paróquias e todas as outras comunidades a intensificar na Quaresma a prática do jejum pessoal e comunitário, cultivando de igual modo a escuta da Palavra de Deus, a oração e a esmola. Foi este, desde o início o estilo da comunidade cristã, na qual eram feitas colectas especiais (cf. 2 Cor 8-9; Rm 15, 25-27), e os irmãos eram convidados a dar aos pobres quanto, graças ao jejum, tinham poupado (cf. Didascalia Ap., V, 20, 18). Também hoje esta prática deve ser redescoberta e encorajada, sobretudo durante o tempo litúrgico quaresmal.

De quanto disse sobressai com grande clareza que o jejum representa uma prática ascética importante, uma arma espiritual para lutar contra qualquer eventual apego desordenado a nós mesmos. Privar-se voluntariamente do prazer dos alimentos e de outros bens materiais, ajuda o discípulo de Cristo a controlar os apetites da natureza fragilizada pela culpa da origem, cujos efeitos negativos atingem toda a personalidade humana. Exorta oportunamente um antigo hino litúrgico quaresmal: «Utamur ergo parcius, / verbis, cibis et potibus, / somno, iocis et arcitius / perstemus in custodia – Usemos de modo mais sóbrio palavras, alimentos, bebidas, sono e jogos, e permaneçamos mais atentamente vigilantes».

Queridos irmãos e irmãos, considerando bem, o jejum tem como sua finalidade última ajudar cada um de nós, como escrevia o Servo de Deus Papa João Paulo II, a fazer dom total de si a Deus (cf. Enc. Veritatis Splendor, 21). A Quaresma seja portanto valorizada em cada família e em cada comunidade cristã para afastar tudo o que distrai o espírito e para intensificar o que alimenta a alma abrindo-a ao amor de Deus e do próximo. Penso em particular num maior compromisso na oração, na lectio divina, no recurso ao Sacramento da Reconciliação e na participação activa na Eucaristia, sobretudo na Santa Missa dominical. Com esta disposição interior entremos no clima penitencial da Quaresma. Acompanhe-nos a Bem-Aventurada Virgem Maria, Causa nostrae laetitiae, e ampare-nos no esforço de libertar o nosso coração da escravidão do pecado para o tornar cada vez mais «tabernáculo vivo de Deus». Com estes votos, ao garantir a minha oração para que cada crente e comunidade eclesial percorra um proveitoso itinerário quaresmal, concedo de coração a todos a Bênção Apostólica.

Vaticano, 11 de Dezembro de 2008.
BENEDICTUS PP. XVI

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

CITAÇÃO DO MÊS

(a propósito das minhas reflexões sobre Fé e Razão)

"Existem dois grandes erros: excluir a Razão e excluir tudo excepto a Razão"
Blaise Pascal
in Pensées

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

MENINA DESAPARECIDA

Recebi este mail de um amigo. Por favor, ajudem com as vossas orações e divulgando esta mensagem:


"Boa noite. Esta é a minha irmã Raquel. Pensamos que só acontece aos outros, mas afinal não é verdade. A minha irmã desapareceu no dia 03-02 e desde então não sabemos nada dela. Tem o telemóvel desligado e não foi às aulas. Aguardamos com impaciência notícias dela. A descrição encontra-se nos apelos em anexo. Por favor, peço-vos encarecidamente que divulgem pelos vossos bairros, locais de trabalho e amigos e familiares. Sejam as nossas mãos e os nossos olhos onde não conseguimos chegar. Costumava ser vista com frequência em Benfica, onde frequentava a escola Pedro de Santarém, de onde foi transferida esta semana para a escola D.Pedro V. Ela é a nossa menina. Muitíssimo Obrigada."



"Esta é a Raquel Rodrigues e tem 12 anos. Desapareceu da zona de Palma, perto de Sete Rios no dia 03-02-2009. Tem 1,50m, pesa entre 45 a 48 kilos e vestia calça azul escura, casaco preto, ténis cinzentos e rosa e cachecol vermelho e preto. Saiu de casa para ir para a escola e não voltou. A família está desesperada e os amigos também.

Se a viu, contacte directamente o 112, ou a família, pelos telefones:
Mãe - 968078949
Irmã ­- 968623048

Raquel, se vires este anúncio, volta para casa querida. Estamos cheios de saudades tuas e estamos totalmente desesperados."

UM DESAFIO SEM SENTIDO, MAS TÁ-SE!

A MRB (blog Quadradinhos que não vendem) lançou-me um desafio que consiste no seguinte:
1. Pegar no livro mais próximo
2. Abri-lo na página 161
3. Procurar a 5ª frase completa
4. Copiar a frase
5. Não escolher a melhor frase nem o melhor livro (usar o mais próximo)
6. Passar o desafio a cinco pessoas

Ora, foi com grande agrado que eu descobri que o livro que eu tinha mais próximo era a Bíblia. Isto porque eu uso a Internet para estudar a Bíblia (nomeadamente usando os sites que publiquei na coluna lateral do meu blog).

Infelizmente, a frase não saiu grande coisa. Cá vai:
"Não semearás a tua vinha doutra semente: para que não suceda que tanto o que semeaste como o que nasce da vinha, um e outro se corrompam."
Dt 22:9

Pruôntosh! Já está! Os infelizes a quem cabe agora perpetuar esta charada são:
1) Canela (blog Mar com Canela)
2) Joaquim (blog Que é a Verdade?)
3) MJG (blog Vidas Vividas)
4) Sofia (blog Via Cristo)
5) Sílvia (blog Silvi@)

Pax Christi!

domingo, 15 de fevereiro de 2009

A CIÊNCIA DA FÉ E A FÉ NA CIÊNCIA (parte 2/3)

(continuando)

Muitas pessoas pensam no método científico como “provar uma hipótese”. Na verdade, tal é extremamente raro. Eu apenas posso “provar uma hipótese” se existir um nexo de causalidade linear.
Por exemplo: duas bolas de bilhar. Eu formulo a hipótese: “Se eu fizer uma bola de bilhar chocar na outra, então a segunda vai mover-se”. Neste caso existe um nexo de causalidade linear (o movimento da primeira bola causa o movimento da segunda). Não existe mais nenhuma causa para o movimento da segunda bola de bilhar. Por isso, eu posso “provar a hipótese”, lançando várias vezes uma bola de bilhar contra a outra e observando o movimento gerado pelo choque entre as duas.

Mas, como eu já referi, tal é extremamente raro. Geralmente, não podemos estabelecer um nexo de causalidade linear entre dois acontecimentos. Porque, geralmente, um acontecimento tem várias causas. Dizemos que é “multifactorial”. Portanto, mesmo que eu formule uma hipótese, eu não consigo prova-la, na medida em que o fenómeno (tendo várias causas possíveis) pode acontecer devido a uma variável não testada. Se eu efectuar uma experiência e ela tiver um resultado positivo, eu nunca saberei se o resultado se deveu à causa testada ou a uma outra causa que eu desconheço.

Portanto, na grande maioria dos casos, o método científico NÃO “prova uma hipótese”. Na verdade, o método científico “calcula a probabilidade de o acontecimento ser devido ao acaso”. Parte-se do pressuposto de que a hipótese formulada é errada, a fim de tentar saber se é possível que o acaso seja o responsável por tudo. Não se estudam causalidades, mas associações de fenómenos.

Por exemplo: Eu penso que um dado remédio X cura uma dada doença. Logo, eu formulo a hipótese: “O remédio X cura a doença”.
Mas tanto a doença como a cura são multifactoriais (dependem da predisposição genética do indivíduo, do sistema imunitário, do meio ambiente, da virulência do micróbio, das suas resistências aos antibióticos, dos outros medicamentos utilizados, etc…).
Portanto, dada a complexidade do fenómeno estudado, é possível que o remédio seja uma cura para a doença, mas que não cure todos os doentes. Por outro lado, também é possível que o remédio não seja uma cura para a doença, mas que a cura surja em alguns doentes tratados com o remédio.
Por isso, eu tenho que dar o remédio aos doentes e anotar quantos se curaram e quantos não se curaram. Se eu notar que existe uma percentagem significativa de doentes que se curam quando tratados com o remédio X… eu tenho de verificar se estas curas não se devem a outras causas que não o remédio. Ou seja, eu tenho de verificar se aquilo que eu observei não é devido ao acaso.
O acaso é aquilo que o cientista usa para denominar o conjunto das causas (geralmente desconhecidas) responsáveis pelo fenómeno e que podem interferir na experiência, falseando os resultados. Por isso, eu tenho de calcular a “probabilidade de o fenómeno ser devido ao acaso”. Se essa probabilidade for pequena, então o acaso terá pouca influência, o que leva a pensar que a causa experimentada terá muito mais influência.

Tudo isto serviu apenas para salientar que o método científico assenta no cálculo de probabilidades.

Mas não existe nada mais absurdo do que as probabilidades!

Tomemos o exemplo mais comum: atirar uma moeda ao ar. É fácil chegar à conclusão de que existe uma probabilidade de 50% de sair “cara” e de 50% de sair “coroa”. Mas o que é que isto quer dizer? O que significa realmente? A maioria das pessoas não se dá conta de como isto é um raciocínio absurdo!

É que não existe essa coisa das probabilidades! As probabilidades são uma ilusão, uma ferramenta que nós inventamos para nos ajudar a solucionar certos problemas! É interessante notar que uma das acusações mais frequentes que os ateus fazem é a de que a religião é uma ilusão, uma ferramenta que nós inventamos para nos ajudar a solucionar certos problemas!

Por que são as probabilidades uma ilusão? Porque não existem! Não existem no mundo real! Antes de eu atirar uma moeda ao ar, ela não pode ser “cara” ou “coroa”! E depois de ela cair, só há duas opções: ou sai “cara” ou sai “coroa”. Esta é a realidade! Ponto final!

Ao afirmar que existe uma probabilidade de 50% de sair “cara” ou “coroa”, o que eu estou a fazer é uma projecção. Estou a criar um universo virtual no interior da minha mente. Esse universo virtual é exactamente igual ao nosso, com uma diferença: nesse universo eu lancei a moeda. O mais engraçado é que, nesse universo, eu lancei a moeda uma única vez, mas a moeda caiu um número infinito de vezes. Em metade desse número infinito, a moeda saiu “cara”. Na outra metade, a moeda saiu “coroa”. Pior, quando eu lanço a moeda no mundo “real”, o universo virtual desfaz-se para sempre (porque a projecção dá lugar ao facto real).

Parece-me que este mundo de probabilidades desafia qualquer lógica. É completamente surreal!
E, no entanto, o cientismo confia cegamente nesse mundo absurdo para suportar um método com o qual pretende explicar toda a realidade.
As pessoas não se dão conta do número de medicamentos que são utilizados na prática clínica e que, segundo a lógica, são completamente contraproducentes! Mas se o uso de tais medicamentos é ilógico, por que os usam os médicos? Porque o método científico provou que esse medicamento resulta! Os cientistas deram um salto no vazio lógico, porque têm fé no que o oráculo das probabilidades lhes profetizou!



Outra forma de fazer notar como a Ciência nos pode fazer acreditar em coisas absurdas está na dicotomia Astronomia/Astrologia. Toda a gente sabe que a Astronomia é uma ciência enquanto a Astrologia é uma superstição! Mas a Astrologia é mais científica que a Astronomia! A Astronomia limita-se a observar e, em Ciência, os estudos observacionais são os mais falíveis. A Astrologia, por seu lado, nota um padrão de coincidências entre a posição das estrelas e a vida das pessoas! Se esse padrão se repetir vezes suficientes para que um indivíduo julgue que se trata de algo mais do que acaso, então esse indivíduo pode argumentar, sem sombra de dúvida, que a Astrologia é uma ciência. Não importa que não exista qualquer lógica que relacione os astros com o destino dos humanos! Se a probabilidade de se tratar de um acaso for baixa, então a associação entre as duas variáveis será provada. Paradoxalmente, no caso da Astrologia, a superstição é afastada pela Religião e não pela Ciência.




Ora se, como eu já disse (no post anterior e neste), os postulados científicos podem ser tão ilógicos como os postulados teológicos, então por que havemos de etiquetar uns como absurdos e outros como racionais?

O ateu dirá: “Porque os postulados científicos estão provados cientificamente enquanto os postulados teológicos não estão provados cientificamente”.

E isso é correcto. Eu nunca tentei provar cientificamente os postulados teológicos. Tentei apenas provar que, comparados com a Ciência, esses postulados teológicos não são ilógicos.



Nesta objecção do ateu, ele levantou um outro ponto válido. Já se sabe que os sistemas estruturadores do pensamento (excepto a Lógica) não se podem explicar a si mesmos. Mas será que os sistemas estruturadores do pensamento podem explicar-se uns aos outros? A Fé não se pode explicar a si mesma… mas poderá a Fé explicar a Ciência? A Ciência não se pode explicar a si mesma… mas poderá a Ciência explicar a Fé?

A resposta é: sim!

(continua)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

JESUS DE NAZARÉ


O primeiro livro que eu gostaria de sugerir aos leitores do meu blog é (como não poderia deixar de ser) "Jesus de Nazaré" pelo Cardeal Ratzinger (agora Papa Bento XVI), editado pela Esfera dos Livros.

Quem conhecer o nosso actual papa, saberá que ele é um teólogo de alta craveira que ajudou a moldar o rumo do Concílio Vaticano II e cujo intelecto é muito admirado na comunidade teológica.

O sonho dele sempre foi escrever uma obra de exposição e sistematização da Cristologia (a parte da Teologia que concerne ao estudo de Cristo).

Infelizmente (ou será felizmente?!?!) o Espírito Santo sempre afastou Sua Santidade do seu projecto, quer com cargos fundamentais na Cúria, quer com as próprias chaves de S. Pedro.

Todavia, ainda assim, o Cardeal Ratzinger teve a oportunidade de publicar esta mini-obra de Cristologia, bastante acessível e elucidativa ao público em geral.

Quem a ler poderá ficar a conhecer melhor o significado (quer teológico, quer bíblico, quer histórico) do Baptismo de Jesus, das Tentações no Deserto, das Bem-Aventuranças, do Pai Nosso e do Sermão no Monte. Também descobrirá o significado de alguns dos títulos de Jesus (como "Filho de Deus") e a relação entre os actos de Jesus e as festas judaicas. Finalmente, verá respostas às acusações infundadas que visam pôr em oposição o Jesus Histórico e o Cristo da Fé. Em resumo, uma ferramenta inestimável para quem queira instruir-se na sua fé.


OBRIGADO PAPA!!!
P.S.: Infelizmente, o livro é muito escasso no que diz respeito aos significados da Encarnação, da Paixão e da Ressurreição... no entanto, tenho a leve suspeita (e posso estar enganado) de que este livro é apenas o primeiro...


Eis a sinopse, escrita pelo próprio Ratzinger:

"Quis fazer a tentativa de apresentar o Jesus dos evangelhos como o Jesus real, como o «Jesus histórico» em sentido verdadeiro e próprio. Estou convencido – e espero que também o leitor possa dar-se conta do mesmo – que esta figura é muito mais lógica e, do ponto de vista histórico, até mais compreensível do que as reconstruções com que deparámos nas últimas décadas. Penso que precisamente este Jesus – o dos evangelhos – seja uma figura historicamente sensata e convincente. Somente se aconteceu algo de extraordinário, se a figura e as palavras de Jesus superaram radicalmente todas as esperanças e expectativas de então é que se explica a sua crucifixão e a sua eficácia. Cerca de vinte anos após a morte de Jesus, já encontramos, no grande hino a Cristo da carta aos Filipenses (2, 6-11), uma cristologia plenamente desenvolvida, na qual se proclama que Jesus era igual a Deus, mas despojou-Se a Si mesmo, fez-Se homem, humilhou-Se até à morte na cruz, e agora é-Lhe devida a homenagem da criação inteira, a adoração que, no profeta Isaías (45, 23), Deus proclamara como devida apenas a Si mesmo. Com razão a pesquisa crítica se põe a pergunta: O que é que aconteceu nestes vinte anos que se seguiram à crucifixão de Jesus? Como se chegou a esta cristologia? A acção de formações comunitárias anónimas, cujos mentores se procura descobrir, na realidade não explica nada. Como é possível que grupos desconhecidos pudessem ser tão criativos, convencer e deste modo impor-se? Não é mais lógico, mesmo do ponto de vista histórico, que a grandeza do fenómeno se encontre no princípio e que a figura de Jesus, na prática, tenha feito saltar todas as categorias disponíveis e deste modo tenha sido possível compreendê-la apenas a partir do mistério de Deus?"

domingo, 8 de fevereiro de 2009

A CIÊNCIA DA FÉ E A FÉ NA CIÊNCIA (parte 1/3)

Incomoda-me que as pessoas estejam sempre a falar do divórcio entre Ciência e Religião. Porque nunca o vi. Sempre fui um apaixonado por ciência, mesmo em miúdo, quando explorava enciclopédias só pelo gozo. No entanto, eu também era um miúdo que lia histórias ilustradas da Bíblia só pelo gozo. Um miúdo que frequentava as aulas e a catequese com igual rigor. Um miúdo que tanto fantasiava com Adão e Eva como com dinossáurios. Nunca achei que ambas as posições fossem contraditórias, porque tal questão nem sequer se me afigurou na mente. Tal como nunca se me afigurou que houvesse alguma contradição entre a Matemática e o Português. E a existência de uma tal contradição entre Ciência e Religião nunca se me afiguraria se os teóricos do ateísmo não me tivessem apontado esse facto.

Ora, hoje em dia tenho uma licenciatura numa área científica e a minha posição é… exactamente a mesma! Não vejo e não consigo conceber toda essa oposição entre Fé e Razão que as pessoas parecem forçar no debate da questão. Não consigo! Os meus detractores bem podem dizer que eu tenho a minha mente compartimentalizada… mas a verdade é que ninguém sai do expediente no laboratório com a bata vestida, a fim de analisar a composição do guisado da mamã. Aplicar a Ciência a todos os domínios da nossa Humanidade é absurdo, impraticável e inumano!

Senhoras e senhores, depois de 25 anos de estudos (e sim, até um cérebro fetal “estuda”… é isso que ele faz quando integra estímulos simples na sua rede neural básica), cheguei a uma conclusão fascinante! O Mundo é mágico! Vivemos num Mundo mágico! Uma magia escrita num livro: o primeiro capítulo chama-se Ciência, o último denomina-se Religião.

Por isso, e tentando desfazer os equívocos apresentados pelos ateus, proponho-me a explicar porque não vejo oposição entre Fé e Razão. É minha intenção não ser demasiado prolixo, mas tal é difícil quando se aborda um tema tão complexo. Também devo realçar que, apesar de tudo, ainda sou um noviço e a minha formação ainda é demasiado superficial para o meu gosto… mas penso que será o suficiente para ser bem fundamentada.



Ora bem, um dos maiores trunfos que os ateus têm no debate (e que, geralmente, tira os argumentos aos teístas) é o facto de a Fé não se conseguir explicar. A Fé acredita. A Fé não explica. A Fé é algo que o teísta sente, mas que não é capaz de apresentar de uma forma aliciadora para quem exige provas dela (o que parece ser uma exigência sensata e justa). O teísta encontra-se num círculo vicioso. “Eu tenho Fé porque acredito” e “Eu acredito porque tenho Fé”. Perante este argumento circular, o ateu pensa que ganhou a batalha. Mas nem por isso…

Para já, convém realçar que quem se encontra preso no círculo vicioso não é o teísta, mas o ateu. Mas esse argumento não é meu, pelo que não me irei apropriar dele (e, além disso, é demasiado longo para explanar aqui). Quem quiser conhecer o círculo vicioso do ateu, deve ler o capítulo acerca da loucura d’”A Ortodoxia” de G.K. Chesterton.

Por isso, irei focar-me na forma como o teísta deve resolver o argumento circular da explicação da Fé. Não é muito difícil. É que a Fé é um dos sistemas de estruturação do pensamento.

Existem vários destes sistemas de estruturação do pensamento. A Fé e a Ciência são dois deles. Outros são, por exemplo, a Linguagem (que é o mais importante deles todos; porque além de estruturar o pensamento, a linguagem é fundamental para o próprio pensamento), a História, a Matemática, a Arte, etc… Estes sistemas são muito complexos e permitem explicar vastas porções da realidade. Cada um deles tem um método e apenas consegue explicar a realidade nos termos em que esse método é aplicável. Paradoxalmente, embora estes sistemas sejam ferramentas essenciais para que o Homem possa estruturar a realidade, eles enfermam de um grande defeito… não se estruturam a si mesmos.

O principal exemplo disso é a Linguagem. A linguagem pode referir-se a todo o universo. Quando eu digo: “O universo é belo” eu estou a meter o universo todo numa única frase. Mas a linguagem não pode referir-se a si própria. Já os antigos gregos sabiam que os maiores paradoxos surgem quando a linguagem é auto-referencial. Se eu digo: “Esta frase é verdadeira”, então gera-se um paradoxo. É que essa frase apenas é verdadeira se o seu conteúdo for verdadeiro. Mas esse conteúdo está contingente da veracidade da própria frase. Ou seja, a veracidade desta frase não é verificável. No entanto, a frase existe e foi concebida pela imaginação de um humano. A ideia está lá e pretende transmitir alguma coisa (o que, por si só, é linguagem).

De igual modo, a Ciência não pode ser explicada pelo método científico. Nunca ninguém submeteu o método científico a um ensaio aleatorizado e duplamente cego. Na verdade, fazê-lo seria paradoxal: significaria que estaríamos a usar um dado método para provarmos a veracidade desse próprio método (“Esta frase é verdadeira”, lembram-se?). De igual modo, é paradoxal que os materialistas afirmem que apenas devemos acreditar no que está provado cientificamente, quando não existem provas científicas que validem essa atitude. Significa que os materialistas não podem acreditar em nada, porque nem a Ciência que eles usavam como referência pode ser acreditada. Eles dizem que devemos acreditar apenas na Ciência, mas tal implica “acreditar” na Ciência, sem exigirmos provas científicas dela. Há aqui uma “fé” na Ciência… a Ciência não parece ter de se submeter às provas que ela própria impõe ao resto do universo.

A Linguagem fala, mas não pode falar-se a si própria sem se tornar paradoxal. A Ciência prova pelo método científico, mas não pode provar-se a si própria pelo método científico sem se tornar paradoxal. A Fé acredita, mas não pode acreditar-se em si mesma sem se tornar paradoxal.

É interessante notar que, na supra-citada obra de Chesterton (“A Ortodoxia”), o autor já aponta certas correntes filosóficas (vg: o niilismo) como um “suicídio do pensamento” porque colocavam o pensamento a questionar-se a si mesmo.

Se o meu caro leitor já está confuso, basta pensar no que acontece quando se filma uma televisão e se projecta o filme nessa mesma televisão. Ou quando se colocam dois espelhos frente a frente. Esses fenómenos são paradoxais e desafiam a nossa Razão e, todavia, existem…



Mas o ateu lança a seguinte objecção: “O método científico não precisa de ser submetido ao método científico, porque é a forma mais lógica de explicar a realidade”.

Para isto, basta ao teísta questionar: “O método científico é a forma mais lógica de explicar a realidade? Porquê?”

Geralmente, o ateu não encontrará uma resposta adequada para essa questão, porque nunca se questionou sobre isso. Ele sempre aceitou isso como sendo uma verdade auto-evidente. Pode ser muito divertido vê-lo a responder uma variante do “Porque sim”. Será colocar o ateu na mesma posição embaraçosa em que se encontrava o teísta quando tinha de responder “Porque sim” à Fé.



No entanto, o ateu levantou um ponto muito válido: a Lógica. Penso que a Lógica é o único sistema de estruturação do pensamento capaz de se explicar a si mesmo. E também é a Lógica que explica o método científico no qual assenta a Ciência. A Lógica funciona como uma “ponte” que liga todos os restantes sistemas.

De igual modo, a Lógica pode ser usada para explicar a Fé. É assim que o teísta sai do seu círculo vicioso. O ateu parte do pressuposto (é uma verdade que ele adquiriu dogmaticamente) de que a Fé não tem Lógica. Mas isso não é verdade! Quem quiser ver montanhas de argumentos lógicos para explicar a Fé, pode ler este site aqui:
http://www.peterkreeft.com/



Nessa altura, o ateu vai dizer que, por mais que nós tentemos usar a Lógica para explicar a Fé, a Fé vai sempre obrigar-nos a acreditar em coisas ilógicas. Ora aqui começa a aparecer uma coisa muito engraçada! É que o ateu nunca vai encontrar nada de ilógico na Fé! Porquê? Por causa da Ciência! Exacto! A Ciência vai dar as mãos à Fé, comprovando ao ateu que não existe nada de ilógico na Fé. Porque tudo o que é ilógico na Fé pode ser encontrado na Ciência! Vivemos num Mundo mágico, como eu já disse!

Exemplos de coisas ilógicas em que a Fé nos obriga a acreditar:
1) A Santíssima Trindade (Deus é simultaneamente uno e trino)
2) A Encarnação de Deus (Cristo ser simultaneamente Homem e Deus)
3) A Omnipresença de Deus
4) A Omnisciência de Deus
5) A Eternidade de Deus

Se o ateu considerar estas coisas como ilógicas na Fé, também terá de as considerar ilógicas na Ciência. Não poderá, em nome da coerência interna do seu pensamento, afirmar que um facto é ilógico na Fé, enquanto é lógico na Ciência.

Se o ateu afirma que a Encarnação de Deus ou a Santíssima Trindade são ilógicas, porque uma entidade não pode possuir duas propriedades mutuamente exclusivas…
… como pode o ateu acreditar na Física Quântica, que assenta no postulado segundo o qual o fotão (a partícula de luz) é simultaneamente uma onda e uma partícula?

Se o ateu postula que a Omnipresença divina é ilógica, porque uma entidade não pode ocupar simultaneamente vários pontos no espaço…
… como pode o ateu considerar lógico o electrão, que está simultaneamente em todos os pontos da nuvem electrónica ao mesmo tempo?

Se o ateu assevera que a Omnisciência de Deus é ilógica, porque um ser não pode ter um tão vasto conhecimento de tantas coisas…
… como pode o ateu asseverar que, com as actuais redes de telecomunicações, nós podemos saber quase instantaneamente tudo o que se passa nos locais que a Humanidade já alcançou?

Se o ateu defende que a Eternidade de Deus é ilógica, porque não faz sentido que uma entidade esteja fora do Tempo…
… como pode o ateu defender a Teoria da Relatividade, os buracos negros e tantos outros postulados científicos que demonstram que o Tempo não é algo linear e constante?

De facto, o ateu declara que a Religião faz-nos crer em situações absurdas, sem que ele se aperceba que o Mundo da Ciência é muito mais absurdo do que qualquer religião poderia ser.

(continua...)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

NOTÍCIAS DIVERSAS.

Ultimamente tenho estado muito ocupado, pelo que não pude dar a certas notícias a atenção que elas merecem (uma vez que, como todas as notícias sobre a Igreja, foram tratadas de forma completamente ignorante, superficial e preconceituosa).



1) O Cardeal Patriarca de Lisboa D. José Policarpo terá pedido cautela às jovens portuguesas (cristãs católicas) no que toca a casamentos com os muçulmanos. Ele disse: "Cautela com os amores. Pensem duas vezes em casar com um muçulmano, pensem muito seriamente, é meter-se num monte de sarilhos que nem Alá sabe onde é que acabam".

Imediatamente veio a malta do costume denunciar as palavras do Cardeal como "racistas", "discriminatórias" e "islamofóbicas". E, o que é mais surpreendente, falar de casos de violência em casamentos católicos e felicidade entre casamentos mistos de cristãos e muçulmanos.

Em primeiro lugar: esta intervenção decorreu numa tertúlia... qualquer um que veja as imagens na T.V. compreende que se tratava de uma conversa informal. Qualquer um consegue ver que não se trata de uma declaração oficial.

Segundo: Não se tratou de uma proibição dos casamentos entre cristãos e muçulmanos. Foi apenas um conselho.

Terceiro (e mais fundamental): O conselho fundamenta-se, não tanto em situações de violência (que, apesar de poderem ocorrer, são transversais a todas as culturas, infelizmente) mas nas desigualdades culturais. É claro que a mentalidade pós-moderna, que considera todas as religiões como iguais e que parece tratar a escolha de uma religião como a escolha de um clube de futebol, certamente não compreenderá as objecções do Cardeal. Mas a verdade é que a estabilidade de um casamento fundamenta-se na concórdia, a qual é sumamente facilitada por um sentimento de partilha de identidade cultural. Devemos recordar a inflexibilidade dos muçulmanos no que diz respeito a este tópico: uma mulher cristã que se case com um homem muçulmano deverá converter-se ao Islão. É óbvio que uma cristã praticante e consciente jamais se sujeitaria a estas exigências! E penso que será essa a essência dos "casos dramáticos" que o Cardeal mencionou.

Penso que a intervenção do Cardeal foi uma referência ao §1634 do Catecismo da Igreja Católica:
"A diferença de confissão entre os cônjuges não constitui obstáculos insuperável para o casamento, desde que consigam pôr em comum o que cada um deles recebeu em sua comunidade e aprender um do outro o modo de viver sua fidelidade a Cristo. Mas nem por isso devem ser subestimadas as dificuldades dos casamentos mistos. Elas se devem ao fato de que a separação dos cristãos é uma questão ainda não resolvida. Os esposos correm o risco de sentir o drama da desunião dos cristãos no seio do próprio lar. A disparidade de culto pode agravar ainda mais essas dificuldades. As divergências concernentes à fé, à própria concepção do casamento, como também mentalidades religiosas diferentes, podem constituir uma fonte de tensões no casamento, principalmente no que tange à educação dos filhos. Uma tentação pode então apresentar-se: a indiferença religiosa."

Voilá! Um pouco de conhecimento sobre as matérias tratadas e todas as notícias começam a fazer um pouco mais de sentido.



2) O Presidente da República Cavaco Silva criticou a nova lei do divórcio, na abertura do VI Congresso da Confederação das Instituições de Solidariedade, postulando a relação entre pobreza e divórcio. Na realidade, o Presidente acertou na mouche: todos os estudos demonstram uma relação inequívoca entre pobreza e taxas de divórcio.

Para quem tiver tempo, paciência e habilidade com o inglês, recomendo este artigo: "The War between State and Family - how government divides and impoverishes" de Patricia Morgan do Institute of Economic Affairs. Ver também este artigo da Heritage Foundation (que é, está certo, uma organização de pendor conservador, mas que levanta questões muito válidas).

Cavaco Silva seria um político de grande envergadura e respeitabilidade, se não padecesse de um crónico Síndrome de Pilatos. Penso que a "cooperação estratégica" apenas faz sentido quando é respeitada por ambos os órgãos de soberania (e não é extensível a todos os domínios). Infelizmente, ainda prevalece a noção errónea de que os "temas fracturantes" são fait divers.

Ainda numa nota relacionada com esta notícia, é de salientar a re-eleição do Padre Lino Maia para presidir à Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social, decorrida no supracitado Congresso. Este é um homem que conhece profundamente a problemática da pobreza e com um currículo impressionante neste campo. Este é um nome para fazer calar aqueles que estão sempre a protestar contra as "riquezas imensas do Vaticano".



3) Parece que a legalização do aborto não acabou com a prática clandestina. E parece que os estabelecimentos clandestinos não são meros vãos de escada, mas clínicas. E parece que, afinal, sempre é possível agir criminalmente sobre os responsáveis deste acto hediondo sem punir as mulheres.

Ou seja, o movimento pró-vida disse sempre a verdade e a Associação de Planeamento Familiar mentiu sempre. Entretanto, já milhares de crianças foram mortas em Portugal ("as ilusões pagam-se caras" como diria Cavaco Silva). Tal como no caso do divórcio, apenas beneficiam os cegos ideológicos que, na sua torre de marfim, se auto-maravilham com a sua obra socialmente "progressista".




Para já, o Papa Bento XVI nunca foi nazi. Ele foi arrancado do seminário e recrutado à força no Corpo Anti-Força Aérea. E desertou (pondo em risco a própria vida) mal viu a oportunidade. O pai de Ratzinger era anti-nazi e um dos seus primos (com Síndrome de Down) foi morto por campanhas de eugenia nazis.
A mentira que se tem vindo a difundir desde a sua eleição como Papa, segundo a qual Ratzinger foi um convicto nazi são uma difamação de uma infâmia imensurável!

Outro ponto: o Papa Bento XVI não "reabilitou" ninguém. Ele levantou uma excomunhão, tentando dar passos significativos na resolução de um cisma que ainda hoje sangra profundamente na nossa Igreja: a separação entre os seguidores fiéis do Magistério (nomeadamente do Concílio Vaticano II) e os tradicionalistas lefebvrianos.

Isto não significa que o Papa subscreva todas as opiniões dos bispos lefebvrianos cuja excomunhão foi levantada. Nem significa que estes bispos já estejam em plena comunhão com a Igreja Católica. Longe disso!

A razão da excomunhão foi a eleição inválida de 4 bispos pela Arcebispo Marcel Lefebvre, que havia criado a Sociedade S. Pio X como resposta às reformas do Concílio Vaticano II. A razão da excomunhão NÃO foi a posição dos 4 bispos sobre o Holocausto nazi.

A excomunhão tem a ver, como o próprio nome indica, com a comunhão com a Igreja Católica. Estes bispos não estavam em comunhão com a Igreja, porque haviam chamado a si uma autoridade que era contrária à própria Igreja. Como tal, a presença ou ausência de excomunhão depende dos passos dados na gestão da questão religiosa com a Sociedade de S. Pio X. A excomunhão não depende de mais nenhum factor.

Noções ou crenças bizarras (ou simplesmente estúpidas) não são motivos de excomunhão (graças a Deus!). Não é por acreditar que o Holocausto nazi não existiu que uma pessoa deixa de estar em comunhão com a Igreja. Tal como uma pessoa que acredite que o Homem não foi à Lua. Ou que acredite que as pessoas estão a ser substituídas por homens-lagarto que querem conquistar a galáxia.

Os actos que podem levar a excomunhão estão muito bem delineados no Catecismo e, entre eles, encontra-se a consagração episcopal ilícita:

§1463 – "Alguns pecados particularmente graves são passíveis de excomunhão, a pena eclesiástica mais severa, que impede a recepção dos sacramentos e o exercício de certos atos eclesiais".

§1382 - "O Bispo que, sem o mandato pontifício, confere a alguém a consagração episcopal e, igualmente, quem dele recebe a consagração incorrem em excomunhão latae sententiae reservada à Sé Apostólica".

A historicidade do Holocausto nazi não é dogma e, francamente, não tem nada a ver com a notícia relatada. Toda esta situação é apenas uma forma de ganhar manchetes sensacionalistas à custa de preconceitos fabricados pelos próprios media. Não sei qual foi o motivo que levou o Papa a levantar a excomunhão dos bispos lefebvrianos, mas sei que, ao contrário do que é conhecimento comum, a Igreja tem tendência a ser bastante inclusiva no que diz respeito a diferentes pontos de vista. De que outra forma é possível justificar tanta desobediência aos preceitos da Igreja sem qualquer excomunhão formal? A Igreja deseja a salvação de todos e, por isso, procura acolher todos. É interessante notar que muitos dos que tentaram lucrar com este incidente diplomático são renegados liberais com telhados de vidro.



Espero, com este post, ter contribuido para elucidar os meus leitores, sem ter dito nenhuma asneira. Se tiver sido o caso, as vossas correcções serão bem vindas.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

JESUS ESTÁ ESCONDIDO EM SUA CASA!

A Mar com Canela teve a amabilidade de me enviar estes links, com uma palestra muito engraçada e elucidativa do falecido Padre Léo:

Parte 1

Parte 2

Para quem quiser rir... e pensar!