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Ano da Fé

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domingo, 1 de novembro de 2009

MEU DEUS, SÃO TANTOS!!!

9 comentários:

O Império disse...

Caro Kephas.

De forma a tornar as nossas futuras conversas mais interessantes, queria lhe pedir, por favor, que me recomendasse um livro que tenha as interpretações oficiais da Igreja Católica relativas a todas as passagens da bíblia.

Obrigado

Um abraço

Alma peregrina disse...

Caro O Império:

Como eu já lhe disse, a Igreja não anda por aí a fazer declarações a torto e a direito. A Igreja não tem de estar sempre a emitir posições oficiais. Ela apenas o faz quando uma dada corrente teológica se afasta tanto de uma interpretação correcta que força a intervenção eclesiástica.

Por exemplo, no caso de Caim. Segundo o método hermenêutico, devemos procurar o sentido com que o hagiógrafo escreveu essa passagem. Será que Caim era uma personagem real? Eu acredito que sim, mas não faço ponto de honra nisso. Não me custa a acreditar na estória de Caim, porque acredito que algum humano teve de ser o primeiro a matar o seu irmão. Nesse caso, a estória de Caim pode ser a história do primeiro homem que matou.

Mas a literalidade da peça não é obrigatória! Será que era só isso que o hagiógrafo teve em mente quando escreveu esta estória? Obviamente que não!

Caim é também a história dos nossos dias, a história do homem que, invejando o seu irmão, não hesita em destrui-lo (mesmo que apenas a nível psicológico ou social). Do homem que diz que não é "guarda do seu irmão". Enfim, do homem que se afasta de Deus e que alimenta um coração rancoroso.

No Expresso deste último fim de semana, o Padre Carreira das Neves forneceu uma bela interpretação histórica. É sabido que Caim fundou uma cidade, após o seu fratricídio. A estória de Caim e Abel poderia representar algo que se passava na cultura primitiva do hagiógrafo e que ainda se passa nos dias de hoje. O domínio das grandes urbes (ninhos de pecados) sobre o povo rural, simples, singelo, que apresenta a Deus o melhor que tem. Nesse aspecto, esta estória pode ter o seu quê de socialista, o que alegraria o Sr. Saramago.

Todas estas interpretações são possíveis e recebidas de braços abertos pela Igreja.

Será que o facto de Caim simbolizar as grandes cidades implica que Caim não tenha sido uma figura histórica? Não!
Será que, se Caim não foi realmente uma figura histórica, isso retira a verdade ao texto (visto que a estória se pode aplicar a tantos acontecimentos verdadeiros da nossa História)? Não!
A Bíblia contem sempre a Verdade, ou várias verdades, para quem a desejar compreender. E as várias verdades não são incompatíveis entre si, antes complementam-se.

O que a Igreja não pode tolerar é que o texto seja violentado de forma a ser interpretado de uma forma completamente oposta à intenção do hagiógrafo. E, sobretudo, que a conclusão da tese já esteja definida a priori. Foi o que sucedeu com Saramgo. Ele definiu a conclusão da tese ("Deus é mau", algo que é claramente oposto à intenção do hagiógrafo) e depois partiu à procura de porções bíblicas que justificassem essa conclusão. Em vez de ler a Bíblia e concluir a partir daí, ele conclui a partir da sua opinião pré-concebida e depois vai ler a Bíblia.

Se um cientista fizesse isso com o método científico, caíria logo em desgraça.




Mas, se me permite que lhe sugira um livro (um livro que é um exercício de Teologia simples e válido, bom para "principiantes" e que abarca toda a Bíblia) sugiro-lhe "O Homem Eterno" de G.K. Chesterton.


Cumprimentos

O Império disse...

Boa tarde Kephas.

Percebo o que me disse. Mas continuo a não estar convencido. E embora eu leia a bíblia há muitos anos, tenho ainda que perceber como "funciona" o vosso ponto de vista. Como lhe disse na nossa primeira conversa eu pertenci a duas igrejas cristãs. Por isso lhe pedi uma referência.

Agradeço-lhe a referência que me deu.

Quanto a Saramago, não sabemos como foi o percurso dele. Não sabemos se ele partiu do pressuposto que deus é mau e depois leu a bíblia. É muito natural que tenha sido o contrário se tivermos em conta a idade dele e o contexto histórico da sua juventude. Como Saramago disse: "Eu estou empapado de valores Cristãos." porque ele foi educado num ambiente católico.

Parece-me, pelo seu comentário, que a igreja dá-nos a todos a liberdade de interpretar a bíblia usando o método hermenêutico e procurando o sentido que o hagiógrafo lhe queria dar. Isso deixa em aberto muitas possibilidades…

Mas uma coisa eu tenho a certeza. As crianças não podem ler a bíblia sozinhas. Dou-lhe o meu exemplo, tinha cerca de 7 anos quando li as estórias bíblicas principais. E, por exemplo, as passagens de Lot, Jó e Abraão impressionaram-me muito. Em particular a estória de Lot. Na altura, quando li que a mulher de Lot morreu por ter olhado para a cidade, imaginei logo o pavor dos filhos dela e a tristeza atroz sabendo que a mãe deles tinha morrido transformada numa estátua de sal. Coloquei-me logo na posição dessas personagens (os filhos de Lot) e temi pela minha mãe. Tive medo que deus transformasse a minha mãe numa estátua de sal caso ela fizesse alguma asneira. Pode dizer que é ingenuidade mas repare que são reacções de uma criança, as minhas reacções há uns anos atrás e que moldaram parte da minha atitude perante o cristianismo.

Vou procurar ler o livro que me sugeriu.

Cumprimentos

Alma peregrina disse...

Caro O Império:

Tem razão em que eu não conheço o percurso de Saramago. Mas já conheci tantas pessoas como ele, que já tenho uma certa ideia de como a sua mente funciona.

Mas se Saramago realmente procurou aprender alguma coisa da Bíblia, então fez bom uso dela.

Quanto às crianças, eu compreendo o que você disse. Eu era um pré-adolescente quando me pus a ler o Apocalipse sem supervisão. Foi 1 semana de insónias! Eheheheh

O problema é que não podemos ler partes isoladas da Bíblia. Temos de ler a Bíblia no seu contexto todo. Uma boa forma de você se acalmar em relação ao medo de a sua mãe se transformar numa estátua de sal era precisamente pensar que esse Deus era o mesmo que encarnou e Se deixou crucificar por nós.

A transformação da mulher de Loth tem um significado. O que será que acontece àqueles que, tendo tido a oportunidade de se afastarem de uma vida de pecado, páram e olham para trás? Por que será que o hagiógrafo se deu ao trabalho de escrever isso? O que é que ele quis dizer? Isso é a base da Teologia.

Em breve vou publicar um post sobre "O Homem Eterno" de Chesterton. É um grande escritor, com uma forma muito peculiar de raciocinar.

Cumprimentos

O Império disse...

Caro Kephas.

Compreendo a sua ideia e a sua intenção quando me diz que "Uma boa forma de você se acalmar em relação ao medo de a sua mãe se transformar numa estátua de sal era precisamente pensar que esse Deus era o mesmo que encarnou e Se deixou crucificar por nós."

Mas a ideia de que alguém se deixou torturar, crucificar e morrer por mim era e é igualmente aterradora. Quando era criança tinha um sentimento de culpa pelo que aconteceu com Jesus Cristo.

Vou voltar temporariamente ao domínio dos "Ses" e digo-lhe se eu fosse vivo na época da morte de Jesus faria tudo que estivesse ao meu alcance para evitar que ele passasse pelo que passou e que morresse da forma como morreu (como vê continuo com a minha mundividência e com a minha aversão ao sofrimento).

Independentemente do que se diga sobre os ensinamentos de Jesus, sempre achei desde criança (e ainda acho) que a imagem de Cristo na cruz e os próprios crucifixos eram mórbidos e aterradores.

Se me dissessem "deus vai morrer pelos teus pecados, pela tua salvação" eu responderia: "não quero que ninguém tome a responsabilidade dos meus pecados"

Mas é apenas o meu ponto de vista... Que se enquadra na minha mundividência e na minha aversão ao sofrimento.

Um abraço

Alma peregrina disse...

Caro O Império:

Tem toda a razão do que afirma no seu "se". De facto, evitar a Cruz foi algo que foi tentado pelos discípulos de Jesus, sem êxito.

Procure pensar desta forma: você diria à sua mãe "eu não quero que tu sofras com uma gravidez e um parto para me dar a vida"?

Pode ser. E isso seria muito louvável da sua parte.

Porém, quando alguém ama uma pessoa, está disposto a fazer todos os sacrifícios por ela. E a pessoa amada não tem "querer" nessa situação. A escolha da pessoa amada refere-se unicamente a este ponto: "eu aceito ou não este sacrifício"?

Jesus morreu por si e isso você não pode mudar. O que você pode escolher é aceitar ou não essa dádiva. Se a aceitar, então não tem nada que se sentir culpado. Foi por amor que Jesus Se sacrificou e o amor verdadeiro não tira satisfações.

É paradoxal... mas uma das doutrinas mais difíceis de aceitar é esta: o bom cristão tem de ter a humildade para aceitar o amor de outrém (seja de Deus, seja dos irmãos). Se não o fizer, como pode exigir que Deus ou os seus irmãos aceitem o amor dele? Sem essa humildade, o amor deixa de ter pernas para andar, deixa de ter asas para voar.

Vejo que você formou uma ideia muito errada da religião. Você não tem que sentir culpa nem medo. Tem que sentir amor e bondade. Tudo o que o afaste do amor e da bondade é má teologia.

Cumprimentos

O Império disse...

Bom dia Kephas.

Parece-me que para quem acredita num deus de amor e bondade, como premissa, é sempre possível encontrar uma justificação para determinada passagem, é sempre possível encontrar um propósito maior para um acontecimento terrível.

Foi como aconteceu com a madre Teresa de Calcutá. Pelo que eu soube quando ela expressou as suas duvidas da sua fé no fim da sua vida, a igreja católica disse-lhe que ela estava a passar pelo mesmo que Cristo ("Meu pai, porque me abandonaste?").

Tal como Hitchens disse: um sistema em que até as duvidas dos peritos servem para confirmar a doutrina, é um sistema incontestável. Mas por esse mesmo motivo é muito frágil.

Para alguém como eu, que nunca acreditou em deus, é muito difícil ficar convencido com este tipo de argumentação circular.

Fazia-lhe uma pergunta: para si, onde encontra as evidências para acreditar em deus? Não lhe estou a pedir provas. O que é que o leva a acreditar em deus a um nível pessoal? Que indícios, que evidências emocionais, intuitivas, etc.?

Alma peregrina disse...

Caro O Império:

"Parece-me que para quem acredita num deus de amor e bondade, como premissa, é sempre possível encontrar uma justificação para determinada passagem, é sempre possível encontrar um propósito maior para um acontecimento terrível."

Certo. Por outro lado, se esse Deus de Amor e Bondade realmente existe, então de facto há um propósito maior para cada acontecimento terrível.

As duas explicações são possíveis e legítimas.

A partir daí, você é que decide acreditar ou não. Isto é que é livre arbítrio. Isto é que é a Fé. E não pode ser refutada, nem para um lado, nem para o outro. Por exemplo, quando os ateus não sabem a explicação de um dado milagre, dizem que "deve existir uma explicação científica, mas nós ainda não sabemos qual é". Cá estão as "dúvidas" dos especialistas a confirmarem uma fé.





Quanto às evidências, bem, são evidências de foro demasiado pessoal para as pôr a nu aqui. Mas posso dizer que já tive um certo vício, de cuja pecaminosidade eu discordava da Igreja... e Deus curou-me desse vício de um dia para o outro e eu passei a compreender a Liberdade de uma forma completamente diferente. Outra evidência é a de que eu já senti o Amor de Deus a fluir através de mim para os meus irmãos. Não o meu amor, mas o Amor de Deus. Um amor incomensurável, mesmo a quem me foi um obstáculo, mesmo para quem me odeia. Antes da minha conversão, seria impossível eu experimentar um tal amor por qualquer pessoa. Em boa verdade, a cada dia que passa, vou encontrando mais uma e outra evidência da existência de Deus, a cada passo que eu dou na minha evolução enquanto pessoa. É impossível relatar a quem não experimentou.

Por isso, é a sua escolha se você acredita com base no meu testemunho ou não.


Cumprimentos.

Alma peregrina disse...

Traduzindo: toda e qualquer mundividência assenta em premissas axiomáticas. Quem não concorda com tais premissas, não consegue concordar com essa mundividência. É por isso que diferentes mundividências chegam a diferentes conclusões com base nos mesmos achados. Isto é verdade tanto para ateus, como para religiosos.