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Ano da Fé

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sábado, 17 de janeiro de 2009

MARTÍRIO

Qualquer pessoa que se dedique a pesquisar a história do Cristianismo primitivo, acabará por tropeçar inevitavelmente numa lista quase infindável de mártires. Na verdade, o sangue dos mártires começa a correr logo no 7º capítulo dos Actos dos Apóstolos (o primeiro livro de crónicas da Igreja): tratou-se do apedrejamento de S. Estevão, o primeiro diácono. Mas este destino não se confinou aos degraus mais baixos da hierarquia: S. Pedro (o primeiro papa, sobre o qual Cristo construiu a Sua Igreja) foi crucificado de pernas para o ar. E todos os Apóstolos (os primeiros bispos), incluindo S. Paulo e excluindo S. João sofreram mortes diversas e verdadeiramente horripilantes. Numa pesquisa muito superficial do assunto, descobri que o primeiro papa a não ser martirizado foi nomeado em 259 d.C. (embora, é certo, muitos estudiosos não reconheçam o martírio de alguns dos papas anteriores). E os leigos vêm acrescentar muitos mais nomes: quem nunca ouviu falar dos cristãos atirados às feras nos antigos circos romanos, perante plateias sedentas de sangue?

Cada uma dessas histórias foi (e com razão) adicionada ao nosso património cristão mediante a canonização destes homens e mulheres extraordinários. Cada um deles é uma fonte de inspiração para as nossas vidas! Mesmo para quem não creia, é difícil não admirar a forma como estas pessoas se agarraram às suas convicções, sem vacilar e sem prejudicar ninguém.




E porquê tanto sangue derramado, perguntar-me-ão? Há várias explicações possíveis. Os historiadores gostam de divagar em torno da recusa em prestar o devido culto ao Imperador (o qual era considerado um deus). Devem ter razão... isso seria uma boa justificação para o ódio quase irracional de Nero, Calígula ou Diocleciano. Ao não aderirem a este culto, os cristãos tornavam-se subversivos e uma ameaça ao Estado. Os preconceitos da população, escorados pela ignorância e pela nossa necessidade inata de culpar alguém pelos males inculpáveis, reforçaram ainda mais este cadinho letal. Afinal de contas, os cristãos eram devassos que se ocultavam nas trevas das catacumbas para comerem carne e beberem sangue humanos!
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Porém, talvez uma explicação mais racional seja a que G.K. Chesterton dá: que quem proclama o Amor está condenado a receber o Ódio. Isto porque, como dizia S. Francisco de Assis, "o Amor não é amado".

Se quisermos ser místicos, podemos afirmar que os cristãos são um motivo de preocupação para Satanás, que se apressa a levantar hostilidades contra a Igreja dos fiéis, a fim de a impedir de salvar almas do Inferno.




Penso que todas estas explicações são plausíveis...




Seja como for, o cristão parece condenado a uma sina temível a partir do momento em que recebe o Baptismo. O próprio Cristo (que, recorde-se, também foi martirizado) previu isto, em vários pontos do Evangelho:



"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, Me odiou a Mim."

Jo 15:18




"Não julgueis que vim trazer a paz à terra. Vim trazer não a paz, mas a espada. "

Mt 10:34




"Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas. Cuidai-vos dos homens. Eles vos levarão aos seus tribunais e açoitar-vos-ão com varas nas suas sinagogas. Sereis por Minha causa levados diante dos governadores e dos reis: servireis assim de testemunho para eles e para os pagãos."

Mt 10:16-18




"Sereis odiados de todos por causa de Meu nome, mas aquele que perseverar até o fim será salvo."

Mt 10:22




E porque trago este assunto tão desagradável ao nosso conhecimento? Porque, muito simplesmente, nós vivemos embriagados numa ilusão de "progresso inevitável". Pensamos que vivemos no séc. XXI, que essas coisas não sucedem nos dias de hoje! Que esse trágico capítulo da nossa História terminou com o Édito de Milão de Constantino...




Infelizmente, não é assim. Não quero assustar nenhum dos meus leitores para longe do Cristianismo. O meu objectivo é apenas fornecer os detalhes do que a decisão do nosso "Sim" a Cristo significa, para que possamos fazer uma escolha informada.


É que todos os motivos que eu dei anteriormente para justificar a perseguição aos cristãos no Império Romano são transversais a todas as épocas e lugares.


Segundo este artigo aqui, dos 70 milhões de martírios católicos, 45,5 milhões ocorreram no séc. XX. Nestes escassos anos do séc. XXI, já morreram 132 católicos. Segundo declarações de Nina Shea da House’s Puebla Program on Religious Freedom, os cristãos são o grupo religioso mais perseguido dos dias de hoje. Bem sei que a nossa população e a nossa Igreja são muito mais vastas nestes dias... mas, caramba! Estamos no séc. XXI!!! Este tipo de fenómenos deveria estar perdido entre as brumas da memória e, contudo, teima em surgir recorrentemente, como uma úlcera gangrenada!


Lembram-se do culto imperial? Pois bem, ele ainda é exigido em muitos locais! Não é que os césares de hoje pensem que são deuses... mas a verdade é que apenas não se julgam deuses, porque não acreditam em deuses de espécie nenhuma! Todavia, exigem-nos que adoremos César acima de Deus!


É isso que se passa, por exemplo, na China (que, recorde-se, ainda possui um regime comunista), em que existe uma Igreja Oficial, cujo clero é controlado pelo governo. Pouco importa o que Jesus disse sobre Pedro... os cristãos devem oferecer as suas preces no altar do Estado! Quem deseje seguir a verdadeira Igreja Católica arrisca-se a ser preso e, até, martirizado. Sessenta bispos encontram-se presos nos cárceres chineses.


Mas, se os césares deste mundo não são muito amistosos, os barrabás também não. São de salientar as F.A.R.C. (uma milícia de índole comunista que aterroriza a Colômbia). Quem não se recorda do testemunho comovente de Ingrid Betancourt, que enfrentou bravamente este grupo apenas com a sua coragem e o seu terço? Pois bem, muitos católicos (incluindo bispos), ainda permanecem raptados pelas F.A.R.C. e outros já pereceram às suas mãos ou de de grupos semelhantes!

E, noutro continente completamente diferente, 400 cristãos foram massacrados numa missa de Natal, sacrificados para apaziguar as quezílias entre césares e herodes.






Contudo, se o palco internacional está recheado de césares, herodes e barrabás, também não deixa de estar repleto de pilatos. Pois quem ouve falar destes incidentes nos dias de hoje? Quem se insurge contra eles? A que se deve o silêncio prolongado dos media? Bem sei que os meios de comunicação social e a Igreja não têm tido propriamente uma relação amistosa... e bem sei que defender a Igreja hoje pode ser um suícidio da nossa popularidade... mas trata-se de um exercício de justiça! Por que será que os jornalistas sentem uma tamanha legitimidade para arremessar o sapato ao imperialista ocidental, mas mantêm o outro sapato calçado para denunciar os maus tratos inflingidos sobre aqueles que compartilham os ideais ditos "ocidentais"?



Como se justifica que toda a gente saiba sobre as manifestações (porventura legítimas) dos monges budistas no Myanmar, mas ninguém saiba acerca da violenta perseguição que a mesma junta militar aplicou sobre os cristãos? Porque será que continuamos a cair em cima da Igreja por causa de incidentes passados pelos quais ela já se desculpou, mas continuamos a ignorar barbáries destas?








Mas estou a esquecer-me das outras razões para o martírio... é que nem tudo gira à volta do culto imperial! Como eu já afirmei, também há o preconceito, a necessidade de demonizar, de arranjar bodes expiatórios! Segundo a lenda, Nero teria culpado os cristãos pelo incêndio de Roma...


E nos nossos dias? Tome-se o caso da Índia! Qualquer pessoa que conheça a história da Beata Madre Teresa de Calcutá sabe muito bem a resistência que esta grande mulher teve de vencer! É que o Cristianismo é uma ameaça ao Hinduismo, na medida em que "rouba" os fiéis que se encontram condenados às castas inferiores (sem esperança nenhuma de se libertarem do seu rótulo atribuído à nascença) e subverte assim a ordem social estabelecida.

Pois bem, no final do ano passado, um grupo de fundamentalistas hindus aproveitou também para culpar os cristãos pelo assassinato do seu líder. Este infeliz acontecimento provocou uma vaga de violência contra os cristãos na Índia, assassinatos de padres, violações de freiras, incêndios de igrejas, destruição de milhares (saliento, milhares) de casas e milhares (saliento, milhares) de refugiados.





De facto, é uma triste realidade... muitos cristãos ainda não possuem a liberdade para apregoar Cristo ou para O aceitar nas suas vidas. Particularmente nos países muçulmanos. Na Árabia Saudita (um dos países muçulmanos supostamente mais progressistas) são proibidas as bíblias e os crucifixos, a prática religiosa cristã é proibida, a construção de igrejas interdita e a apostasia do Islamismo um crime punível com a morte. A hostilidade pode tomar as proporções de vandalismo ou até de perseguição de massas. E nem os missionários estrangeiros estão livres, mesmo que prometam não evangelizar. Mesmo em países islâmicos mais moderados, os cristãos e outros não-muçulmanos têm um fardo fiscal mais elevado e um estatuto social mais diminuído de acordo com a lei sharia.





Lamento se estraguei o vosso dia com este post. Não era a minha intenção. Mas achei que era urgente trazer à vossa consideração estes acontecimentos. Em primeiro lugar, em nome da justiça. Em segundo lugar, como aviso.


É que, enquanto noutros sítios há pessoas dispostas a morrer para ir a uma simples missa, nós no Ocidente continuamos a insurgir-nos contra a Igreja pelo simples facto de ela nos pedir para celebra-la! Uns católicos estão tão gratos pelo dom de Cristo, que estão dispostos a imita-Lo... outros querem a todo o custo que Cristo lhes dê carte blanche para continuarem como são! Uns católicos rezam "Seja feita a Tua vontade"... outros rezam "Faças Tu a minha vontade". Uns católicos são perseguidos pelas F.A.R.C. ... outros sentam-se com elas a comer e a beber na festa d' "O Avante!". Enquanto uns cristãos têm de se debater contra a lei sharia, outros acham que devemos acolhê-la. E há católicos que, enquanto louvam os monges budistas por se revoltarem contra um sistema político injusto, estão constantemente a invocar a separação entre Igreja e Estado sempre que esta ergue a sua voz contra alguma injustiça que vá contra os dogmas modernos.


De facto, enquanto nos países onde decorrem as perseguições, uma maioria dos católicos parece viver intensamente a sua fé, ao ponto de acharem que não vale a pena viver sem essa fé... no Ocidente temos uma demografia bizarra e triste: a Igreja tem, no seu seio, uma esmagadora maioria que professa uma total indiferença perante a fé e uma activíssima minoria profundamente hostil aos ensinamentos da boa doutrina. E isto muito grave! Porque a hostilidade anticlerical e anticristã não é uma realidade apenas do 3º Mundo... ela existe bem na nossa vizinhança! E quem ousa ser ortodoxo no mundo de hoje sabe do que falo!

O caso mais paradigmático ocorreu também há poucas semanas nos E.U.A.. Num estado profundamente liberal (a Califórnia), um referendo chumbou a equivalência legal entre o casamento e as uniões homossexuais. Imediatamente, os araútos da tolerância deram-nos uma amostra daquilo que nos espera se continuarmos a acreditar que os temas fracturantes são inócuos. Veja-se isto aqui e aqui. É que, como o Cardeal Ratzinger disse no seu livro "Jesus de Nazaré", o Mal não se contenta em ser praticado: ele exige que se participe nele. Veja-se aqui e aqui e aqui e aqui. Por outro lado se, noutros países, há bispos que são assassinados, já há no Ocidente bispos que recebem ameaças de morte. E se, em outras partes do mundo, há bispos presos, já há no Ocidente bispos a responder nos bancos de tribunais. É preciso sublinhar repetidamente que o que uma certa elite bem-pensante quer não é a mera tolerância... e sim o redesenhamento integral de toda a sociedade com o silenciamento de todas as vozes discordantes. Eles falam em defender o Amor contra o ódio religioso, mas aquilo que os motiva é o puro ódio à religião!

Não acreditem em mim e sim nos vossos próprios olhos! Há uns meses, deu-se uma manifestação pro-choice em Neuquen na Argentina. No final, a turba resolveu acudir à catedral com o fito de a vandalizar. Devidamente avisado, um cordão de católicos protegeu o lugar de culto enquanto recitavam, única e simplesmente, a Avé Maria. Os manifestantes, por seu lado, insultam, gozam, cospem, arremessam objectos e tentam arrancar violentamente as faixas dos católicos. Quem, neste filme, está a ser intolerante e portador de ódio?

Como eu já disse: o fito deste post não é aterrorizar. É exactamente o oposto! Pela primeira vez na nossa história, poderemos evitar o martírio permanecendo fiéis a Cristo... mas temos de o fazer de uma forma unida e antes que seja tarde demais!

Agradeçamos a Deus as condições que Ele nos deu para O seguirmos (que tantos dos nossos irmãos e antepassados desejariam) e não desperdicemos esse dom! Há muito que podemos fazer pelos nossos irmãos perseguidos, por Deus, pela Sua Igreja... e mesmo por nós próprios! Rezemos pelos que são perseguidos, tentemos apoiar as iniciativas da instituição Ajuda à Igreja que Sofre e evangelizemos, evangelizemos sem cessar e sem vergonha para que o Ocidente permaneça um local de liberdade que possa imanar para o resto do Mundo!

3 comentários:

Alma peregrina disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alma peregrina disse...

Figura:
"O martírio dos 10.000"
Michele Tosini
1550

Canela disse...

É uma fé inabalável, que permite Cristãos doarem a sua própia vida... por ELE!

São escolhidos por ELE mesmo, e, assistidos por Jesus durante o martirio!

Que Deus N. Senhor o abençoe Alma!