Detesto ter de interromper o mês que eu queria dedicar exclusivamente à pobreza, mas as deturpações jornalísticas obrigaram-me a isso, uma vez mais...
Andam todos os jornais (e toda a gente) num rebuliço porque se diz que o Papa "finalmente" "permitiu" o uso do preservativo em certas circunstâncias. Decerto tais pessoas pensam que, em breve (numa questão de anos, mas mais cedo ou mais tarde), a Igreja vai "compreender" a benignidade dos contraceptivos e, eventualmente, liberalizar a sua visão da sexualidade para outras áreas fracturantes. Caem na heresia do Modernismo, segundo a qual a Igreja Católica tem de adaptar a sua verdade aos tempos modernos e não somente à Doutrina de Cristo transmitida pela cadeia apostólica... heresia essa condenada pelo Papa S. Pio X.
Ora, o Papa Bento XVI nunca (e eu repito NUNCA) "permitiu" o uso do preservativo. O que sucede é que vai ser publicado em breve um livro chamado "A Luz do Mundo", no qual o Papa é entrevistado por um jornalista seu amigo, o Peter Seewald. No decurso dessa entrevista, surge o seguinte excerto:
São estas as frases da controvérsia. Mas, como se pode ver, nada nesta frase permite o uso do preservativo. O comentário do Papa foca-se, outrossim, na transformação moral de uma pessoa com uma vida sexual depravada, que finalmente começa a compreender que a sua sexualidade implica alguma responsabilidade. O acto, per se, não é lícito, mas pode ser um primeiro passo para exorcizar o relativismo moral associado à sexualidade.
Se dúvidas houvesse quanto à interpretação a dar a estas frases, basta ler as frases que precedem o excerto e as frases que lhe seguem:
"A pura fixação no preservativo implica uma banalização da sexualidade, que é, afinal, a fonte perigosa da atitude que não vê a sexualidade como uma expressão do Amor, mas apenas como uma droga que as pessoas administram em si próprias. É por isso que luta contra a banalização da sexualidade é também uma parte da luta para assegurar que a sexualidade é tratada como um valor positivo, com um efeito positivo no Ser Humano como um todo.
(...)Ela (A Igreja Católica) não o vê (o uso do preservativo) como uma solução moral ou real, mas em certos casos, pode existir uma intenção de reduzir o risco da infecção, um dos primeiros passos no movimento em direcção a uma forma diferente, mais humana, de viver a sexualidade"
A Doutrina da Igreja não mudou uma vírgula. A condenação da Igreja ao uso do preservativo mantém-se. O que sucede é que a condenação do preservativo baseia-se no seu efeito contraceptivo. A Igreja é contrária à contracepção, mas não à prevenção de doenças. Como tal, o uso de preservativo enquanto profilaxia (e apenas como tal) é lícito.
Deste modo, se um prostituto se envolver numa relação homossexual, o preservativo não terá qualquer efeito contraceptivo... mas poderá ter um efeito profiláctico contra a SIDA. Este caso está claramente fora do âmbito da Humanae Vitae, pelo que esta resposta do Papa não muda nada... no máximo dos máximos, apenas acrescenta, sem nada alterar. O uso de preservativo como um profiláctico pode ainda ser legítimo em casos em que já não existe o objectivo procriativo da sexualidade para conferir ao preservativo um efeito contraceptivo: por exemplo, quando a mulher é pós-menopáusica ou estéril porque submetida a uma histerectomia por problemas ginecológicos.
Ou seja, uma vez mais, too much ado about nothing. E, entretanto, as pessoas vão ficando mais confusas e o Pecado vai-se aproveitando.
Para ver o desmentido do Vaticano acerca das declarações do Papa, clique aqui e aqui
2 comentários:
ola Pedro|||! como estas? ainda em Aveiro??
Vim aqui porque sabia que irias escrever algo sobre este assunto do preservativo !!!
:) és fiel às tuas crenças ! :)obrigada por partilhares*
Olá, Margarida!
Há quanto tempo!
Pois é... acho que estou a ficar muito previsível eheheh...
Espero que também esteja tudo bem contigo.
Pax Christi
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