... as principais conclusões do estudo da Federação Portuguesa pela Vida sobre o abortamento provocado em Portugal desde 2007:
.1). Desde 2007 realizaram-se em Portugal mais de 80 mil abortos legais “por opção da mulher”;
.2). A reincidência do aborto tem vindo a aumentar consideravelmente. Em 2010, houve 4600 repetições de aborto, das quais mil representaram duas ou mais repetições;
.3). As complicações do aborto legal para a mulher têm vindo a aumentar todos os anos, registando-se mesmo uma morte em 2010;
.4). A intensidade do aborto é maior nas mulheres mais instruídas, com idades compreendidas entre os 20 e os 35 anos;
.5). Desde o primeiro ano da implementação da lei houve um aumento de 30% no número de abortos por ano (15 mil no primeiro ano e 19 mil nos últimos anos);
.6). Desde os anos 80, Portugal acumula um défice de 1.200.000 nascimentos, necessários para assegurar a renovação das gerações e a sustentabilidade do País. Desde 2010 que esse gap não é compensado pela emigração.
.7). Os dados do aborto fornecidos pela Direcção Geral de Saúde têm vindo a perder transparência e rigor: não há relatórios semestrais desde 2009 e a informação contida nos relatórios é menor desde 2007.
.
5 comentários:
Em abono da verdade - algumas correcções importantes relativamente ao seu post:
1)As complicações devidas a abortos em Portugal reduziram-se drasticamente com a nova legislação, havendo apenas o registo de uma morte que não está directamente relacionada com o aborto.
2) Nos anos imediatamente anteriores à despenalização morreram 14 mulheres vítimas de abortos ilegais. A última tinha 14 anos.
3)Os números do aborto no mundo não estão relacionados com legislação restritiva. Ou seja as mulheres que querem abortar fazem-no quer o aborto seja legal ou ilegal - a percentagem de abortos por país é sensivelmente a mesma quer eles sejam legais ou ilegais.
http://www.nytimes.com/2007/10/12/world/12abortion.html
( Portugal é um exemplo disso. O Número global de abortos manteve-se estável após a descriminalização até às 10 semanas)
4)A única coisa que varia com a despenalização é a mortalidade das mulheres.Por exemplo, entre 1996 (quando legalizou o aborto) e 2007 a África do Sul viu baixar em 90% a taxa de mortalidade de mulheres que abortaram.
Em Portugal também baixou o número de mortes , internamentos de urgência e complicações de saúde relaciondas com abortos ilegais.
4)A maneira mais eficaz de reduzir o número de abortos não é a criminalização mas a PREVENÇÃO.
- Através de educação para a saúde
- Através do acesso à contracepção eficaz
Aliás evidências científicas indicam que o factor determinante para a redução do número de abortos é o acesso à contracepção eficaz, como a pílula.
http://www.guttmacher.org/pubs/journals/2900603.html
Cara Bluesmile:
1) "As complicações devidas a abortos em Portugal reduziram-se drasticamente com a nova legislação"
Penso que ninguém pôs isso em causa. Na verdade, um dos slides apresentados pela Federação Portuguesa pela Vida demonstra precisamente isso.
O que foi dito foi: "As complicações do aborto legal (portanto, desde 2007) para a mulher têm vindo a aumentar todos os anos, registando-se mesmo uma morte em 2010"
O que é verdade.
2) Eu sei, e coloquei esses números à disposição de debate por duas ocasiões.
http://cachimbodemagritte.com/3006919.html?thread=12443079
http://cachimbodemagritte.com/3450681.html
Ainda acho 14 mortes vs. 80.000 mortes demasiado desproporcional para considerar a lei benéfica.
3) "Os números do aborto no mundo não estão relacionados com legislação restritiva. Ou seja as mulheres que querem abortar fazem-no quer o aborto seja legal ou ilegal"
Esta é uma afirmação que não pode ser provada cientificamente, por muitos dados que associações ligadas ao Planeamento Familiar (entre as quais o Instituto Guttmacher) possam fornecer ao público.
Não é possível quantificar objectivamente a actividade se esta é ilegal.
Mais críticas por parte dos pró-vida a esse argumento podem ser encontradas no próprio artigo do NY Times que você linkou (ah, e esse jornal tem um claro viés liberal e jornais desse cariz têm tendência a não ser fidedignos do ponto de vista científico).
4) "A única coisa que varia com a despenalização é a mortalidade das mulheres."
Ver pontos 1) e 4)
5) (acho eu)
"A maneira mais eficaz de reduzir o número de abortos não é a criminalização mas a PREVENÇÃO"
Não vejo por que tem de ser uma questão de "ou... ou..." e não "e... e..."
Além disso, divergimos sobre o que a prevenção implica. Por exemplo, para mim uma pílula com progestativos ou um DIU são abortivos, pelo que não resolvem o problema.
Pax Christi
Ah, outra coisa...
Este é o relatório que menciona as 14 mortes.
http://webpages.fc.ul.pt/~mcgomes/publicacoes/Artigos%20pdf/Mortes%20Maternas%20-%20DGS.pdf
Na pág. 24 diz e cito:
"A situação legal ou não do aborto nem sempre foi conhecida."
"Em 14 casos a morte ocorreu numa situação de aborto (Tabela 10), o que não quer dizer que tenha havido uma relação de causa‐efeito"
Se você não atribui a morte por abortamento legal a uma causa DIRECTA do aborto, também não o pode fazer, coerentemente, com as ilegais.
"As complicações do aborto legal (portanto, desde 2007) para a mulher têm vindo a aumentar todos os anos, registando-se mesmo uma morte em 2010"
Não é verdade. Não tem havido aumento de complicações relacionadas com abortos até às 10 semanas mas uma clara diminuição. Nos últimos anos são menos as complicações graves (infecções, sepsis, perfurações) associadas ao abordo clandestino.
Caiu também quase para zero a mortalidade das mulheres.Excelentes resultados!
Quanto
a situação anterior antes da descriminalização:
"Cerca de 15% (14/92) das mortes maternas ocorridas entre 2001 e 2007, associaram‐se a
diferentes situações de aborto. Os grupos etários onde a percentagem de abortos
com morte materna foi mais elevado foi o 15‐19 anos com 50% (2/4) e o dos 25‐29 anos de idade
com 25% (4/16)."
(....) A situação legal ou não do aborto nem sempre foi conhecida. É de realçar que este relatório se reporta a um período anterior ànova lei da IVG e que a morte nas mulheres mais jovens foi, em 50% (2 casos em 4),associada a situação de aborto. Espera‐se que, em futuros relatórios, estes números
possam não ter lugar."
2) "Por exemplo, para mim uma pílula com progestativos ou um DIU são abortivos, pelo que não resolvem o problema."
Tem obviamente falta de informação científica rigorosa, pois se pode ter algumas questões em relação ao DIU, relativamenteà pílula anovulatória só a ignorãncia pode explicar que a considre um "método abortivo".De qualquer modo, pode sempre ser incentivado o uso de preservativo é seguríssimo, com taxas elevadas de eficácia e sem quaisquer pruridos desse tipo.
3) "A maneira mais eficaz de reduzir o número de abortos não é a criminalização mas a PREVENÇÃO. Não vejo por que tem de ser uma questão de "ou... ou..." e não "e... e..."
Por uma razão muito simples : A CRIMINALIZAÇÔ NÂO PREVINE O ABORTO.
Os países onde o aborto é criminalizado são os que apresentam taxas mais elevadas de aborto.A américa latina é um exemplo paradigmático.
Cara Bluesmile:
1) Você disse:
"Nos últimos anos são menos as complicações graves (infecções, sepsis, perfurações) associadas ao abordo CLANDESTINO"
Que foi algo que eu já disse que é verdade.
O que eu disse foi:
"As complicações do aborto LEGAL para a mulher têm vindo a aumentar todos os anos, registando-se mesmo uma morte em 2010"
Veja os Caps Lock, há uma diferença.
2) Você citou o relatório, mas não disse nada que pusesse em causa o que eu disse no comentário de 02/02 às 20h52. Tal como a redução da mortalidade para quase zero também ignora o que eu disse no mesmo comentário.
3) «relativamenteà pílula anovulatória só a ignorãncia pode explicar que a considre um "método abortivo".»
As pílulas com progestativos não possuem um efeito isolado de prevenção da ovulação. Também têm um efeito de prevenir a implantação, caso a ovulação (e, seguidamente, a fertilização) tenha tido lugar. Logo, são potencialmente abortivos (e o seu papel abortivo, ou antes, anti-implantatório, é listado como uma das suas acções contraceptivas).
4) "De qualquer modo, pode sempre ser incentivado o uso de preservativo é seguríssimo"
O preservativo é menos eficaz que a pílula ou o DIU. Na verdade, há cada vez menos médicos a recomendar o uso isolado de preservativo.
5) "Por uma razão muito simples : A CRIMINALIZAÇÔ NÂO PREVINE O ABORTO"
Continua a não explicar por que motivo não podemos ter as duas simultaneamente. Mas talvez eu possa subir outro patamar. Talvez possamos ter a prevenção (mediante uma educação e informação adequadas) para evitar os abortos... e a criminalização como reforço ético e civilizacional de que um embrião não possa ser destruído simplesmente porque uma mulher assim o deseja.
Portanto, é perfeitamente possível agir em ambos os campos.
6) "Os países onde o aborto é criminalizado são os que apresentam taxas mais elevadas de aborto.A américa latina é um exemplo paradigmático."
Como já disse, você não pode afirmar uma coisa dessas.
Além disso, os países onde o aborto é criminalizado são, geralmente, países mais pobres, onde as mulheres sentem maiores pressões económicas para abortar.
Pax Christi
Enviar um comentário