Aldous Huxley era um escritor agnóstico, sem particular simpatia pela Religião. Ainda assim, escreveu um livro na década de 1930 que é, para mim, um dos expoentes máximos do romance-ensaio.
"Admirável Mundo Novo" é um livro de ficção científica que retrata um mundo futurista, onde toda a população vive feliz. Feliz, que é como quem diz... alienada por um furor consumista e hedonista, que permite aos grandes senhores do Mundo governar sobre tudo e todos. Como Mustafá Mond (um dos dez administradores mundiais) declara: "O segredo do controlo mundial é fazer as pessoas pensar que estão a escolher o caminho que queremos para elas".
Os administradores mundiais conseguem isto, alimentando as pessoas com muitas recreações, divertimentos e orgias. A sexualidade, a pornografia e a toma de drogas ("soma") são as formas preferidas de alienação... sendo que as crianças são condicionadas de tenra idade a aceitar o status quo, através de uma educação sexual de elevado teor prático e de sofisticadas tecnologias praticamente hipnóticas.
Não só as crianças são pré-condicionadas mentalmente, como são fabricadas. Sim, todos os seres humanos são concebidos in vitro, sendo seleccionados de forma eugénica e predestinados a uma dada casta social. Isto serve para libertar as pessoas, uma vez adultas, de qualquer responsabilidade familiar para que todos se possam concentrar nas suas felicidades individuais. O conceito de "Família" está tão destruído, que chamar alguém de "mãe" ou "pai" é mais insultuoso que chamá-lo de "prostituta" ou "chulo".
Para as crianças que possam ser acidentalmente concebidas fora do ambiente asséptico dos laboratórios, por causa de algum erro nas normas de higiene malthusianas, existem torres de abortuários. E, como a Cultura da Morte tem sempre os dois extremos da Vida em consideração, todos aqueles que atingem uma dada idade são submetidos a eutanásia por uma overdose de soma.
Será inevitável dizer que isto torna a população numa massa de pessoas adolescentes e superficiais, incapazes de compreender conceitos tão simples como o de "Amor". Apenas uma elite restrita consegue aceder a conhecimentos tão profundos, isolando-se em ilhas privadas que não permitem à restante Humanidade escapar das malhas do condicionamento mental e compreender a sua alienação.
Existe apenas um pequeno resquício dos antigos valores morais, tradicionais e religiosos... Encontram-se em algumas reservas indígenas, que os brancos desistiram de converter. É numa dessas bolsas culturais que vive o "Selvagem", o filho de uma branca que se perdeu numa viagem de turismo. Quando o Selvagem é reencontrado, é trazido de volta à civilização... uma civilização que não consegue responder aos seus anseios afectivos e metafísicos. Conseguirá ele evitar perder a sanidade neste Admirável Mundo Novo?
Aldous Huxley acertou em todas (absolutamente todas!) as previsões que fez neste livro (talvez exceptuando-se a predestinação pré-natal a uma dada casta social). É interessante notar em como o Mundo futurista de Huxley é o nosso Mundo presente. Demonstra que não é necessário ser-se teísta para se ser profeta... e não é necessário ser-se cristão para se compreender a urgência dos apelos que a Igreja Católica dirige à modernidade! Deve fazer-nos reflectir... e ler.
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"Acredito que, na próxima geração, os líderes mundiais irão descobrir que o condicionamento infantil e a narco-hipnose são mais eficientes enquanto instrumentos de governo do que prisões... e que a luxúria de Poder pode ser completamente satisfeita ao seduzir as pessoas a um amor pela sua servidão, em vez de as flagelar ou bater até à obediência"
Aldoux Huxley
Carta a George Orwell
1969
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