Penso que não terei sido o único a ficar chocado com a morte do escritor José Saramago... foi uma notícia que me tomou (e ao país) de surpresa. Lamento muito esta morte, mas não pelas razões que são enunciadas de forma protocolar e pré-formatada pelo jet-set nacional.
Não lamento a morte de Saramago por se ter perdido um "vulto da escrita nacional". Não digo que não o fosse. Talvez fosse e talvez venha a ser recordado como um dos maiores escritores portugueses. A História encarregar-se-á de lhe fazer a justiça devida.
Não lamento a morte de Saramago por se ter perdido um "vulto da escrita nacional"... porque ele, para mim, nunca foi um "vulto da escrita individual". Ou seja, ele nunca me interpelou, nunca me apaixonou, nunca me seduziu.
As minhas diferenças em relação a Saramago são muitas e vão desde diferenças religiosas até diferenças estéticas, passando por diferenças ideológicas, políticas, de personalidade e práxis. Todavia, esta não é a hora para as esmiuçar nem para as capitalizar...
Lamento sobretudo o facto de se ter perdido um "irmão". Sim, que raio de pessoa é aquela que gosta do seu irmão por este ser um "vulto da escrita nacional" e não por ser, simplesmente, "irmão"? Não deve a família, acima de tudo, estar acima dessas superficialidades? Esses pensamentos são do Mundo, não do Amor.
E Deus, mais do que todos, está acima dessas ditas superficialidades.
Lá onde Saramago está, de que lhe vale o Prémio Nobel? O Prémio Nobel ficou cá, tal como qualquer pedaço de metal. E tal como qualquer pedaço de metal deste Universo, o Prémio Nobel acabará, um dia, por desaparecer nas correntezas da inclemente Lei da Entropia que a todos envelhece e consome...
Lá onde Saramago está... valer-lhe-á alguma coisa o dinheiro que acumulou com a venda dos seus livros? O dinheiro ficou cá, também...
Lá onde Saramago está... valer-lhe-á alguma coisa o seu prestígio, o seu renome internacional, a sua influência política? Mas Deus não conhece Saramago mais do que a um qualquer sem-abrigo morto de fome em África nesta mesma noite! Nem as palavras de Saramago serão mais eloquentes do que o grito monocórdico de desespero do bebé abortado ontem, que nunca teve influência nenhuma fosse no que fosse...
Lá onde Saramago está... ele só tem duas coisas: ele próprio e as suas obras passadas. Isso é a única coisa que realmente possuímos e a única coisa que realmente podemos levar connosco e apresentar diante de Deus.
Sirva-nos isso de lição!
Sim, Saramago está agora diante de Deus. Espero que, tal como o meu irmão J diz: "Eles possam finalmente entender-se."
No entanto, os tempos não são de braços cruzados nem de lutos fingidos. Disse que Saramago possui apenas duas coisas... e uma dessas coisas são as suas obras passadas. E essas obras permanecem. Obras literárias e obras de qualquer outra índole. Obras que vão ser consumidas avidamente nestes próximos dias, nesta tendência paradoxal que temos de nos banquetearmos com os despojos de cadáveres, sejam eles quais forem...
Não conheço todas as obras de Saramago, nem conheço o seu coração. Não julgo o homem, mas não posso deixar de ter opinião pelas coisas que vi e ouvi. E essa minha opinião não é para o insultar, nem para o diminuir... mas porque penso que é necessário tomar acção!
Sei que Saramago viveu até idade avançada... e que, durante esse percurso, errou muitas vezes. Não só erros privados (esses, todos nós os possuímos)... mas erros públicos também. Erros públicos que ele procurou veicular, a fim de transformar a Nação e a sociedade à imagem e semelhança de tais erros. Erros públicos que ele jamais renegou publicamente...
E sei que Saramago teve, há poucos meses, um qualquer revés de saúde que o colocou às portas da morte... mas que, em vez de tomar a sério esse sinal de aviso, utilizou os poucos dias de vida que lhe restavam para empreender uma última cruzada contra Deus e os Seus ungidos.
Uma vez mais, não digo isto para desprezar o homem, nem para o achincalhar... Digo-o apenas na tentativa de analisar bem a situação, para saber a melhor forma de proceder. Ele cometeu erros graves. Erros que permanecem ainda hoje e que permanecerão por muitos anos...
Também sei outras coisas... Sei que um pai ama mais o seu filho rebelde, precisamente porque se entristece com a sua rebeldia e quer mostrar-lhe o caminho que conduz à Vida. Sei que Deus é o melhor Pai do Mundo e que nenhum pai é capaz de amar mais do que Deus. E sei que Deus proclamou que daria a Salvação a todos os que O buscassem com coração sincero, nem que fosse na undécima hora.
Terá tido Saramago a sua undécima hora? Não sei. Isso é entre ele e Deus.
Mas também sei que Saramago não se pode valer sozinho agora! Tal como nenhum Ser Humano tem a capacidade de se valer sozinho! A Morte é o remédio que cura todos os orgulhos e arrogâncias!
Mas nós... Nós que ainda militamos neste Mundo... Nós que ainda temos obras por fazer e obras por mostrar... Nós ainda podemos fazer alguma coisa!!! PEÇO ENCARECIDAMENTE A TODOS AQUELES QUE VISITAM ESTE BLOG QUE TENHAM A CARIDADE DE OFERECER UMA ORAÇÃO POR ESTE HOMEM...
Saramago não é um Prémio Nobel, não é um comuna, não é um paladino da liberdade de expressão, não é um censor, não é um grande escritor, não é um traidor da Pátria, não é português, não é espanhol, não é um homem de sensibilidade extraordinária, não é um homem arrogante, não é um revolucionário, não é um reaccionário, não é um demónio anticlerical, não é um santo imaculado...
... é, outrossim, alguém que precisamos no Céu a interceder junto de Deus para aplacar os demónios que permaneceram em muitas palavras que escreveu... nas palavras que provocam ressentimento e divisão, seja para os ateus, seja para os católicos. São parte da sua obra... apenas arrependimento contrito pode apagar obras passadas, neste mundo ou no próximo.
... é, outrossim, uma alma igual à nossa, cheia de virtudes e de defeitos. Uma alma infinitamente amada por Deus e que, provavelmente, nunca o percebeu... e que corre o risco de jamais o perceber. E isso é triste!
... é, outrossim, um irmão nosso, sendo que os laços fraternais que nos unem devem sobrepôr-se a quaisquer quezílias e mesquinhezes nossas.
Pai Nosso...
2 comentários:
Meu caro amigo
Fez-me bem ler este texto.
Saramago não era homem que eu apreciasse por tantas razões, mas ao saber da sua morte a minha primeira reacção foi essa mesma: rezar por ele e pela sua família.
Que esteja em paz é o que lhe desejo mesmo depois de ter semeado tanta divisão.
Um abraço amigo em Cristo
Caro Joaquim:
Obrigado pela visita e pelas palavras...
Rezemos então a uma só voz por este irmão nosso, que acabou a sua caminhada neste mundo.
A propósito do post que comentei no blog "Que é a Verdade?", acho que irias gostar de ler um dos posts abaixo que fala de Gabriel Garcia Moreno.
Pax Christi.
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