Na Grécia Antiga, se um jovem ateniense fosse apanhado a roubar, ele seria severamente castigado. Um jovem que roubasse estaria a cometer uma terrível ofensa à virtude da Justiça e, como tal, uma educação consciente implicaria um desincentivo a tal comportamento. É nesta mentalidade que a nossa Civilização Ocidental vai beber algumas das suas raízes...
Por outro lado, na mesma Grécia Antiga, um jovem espartano que fosse apanhado a roubar seria severamente castigado. Tal também era uma parte indispensável e fundamental da sua educação. Mas, ao contrário do ateniense, o espartano não era punido pelo furto per se... o espartano era castigado por se ter deixado apanhar...
É incrível que duas mentalidades tão distintas co-existissem na mesma nação, mas não nos podemos esquecer que a Grécia não existia como uma entidade cultural homogénea... tratava-se mais de uma partilha de um espaço histórico. Por isso, vemos o desenvolvimento em paralelo de dois paradigmas em educação: um que põe a ênfase nos valores e outro que valoriza uma perspectiva utilitária da vida.
Proponho que avancemos mais uns quantos séculos, mais precisamente até ao séc. XIX d.C. Nessa época, uma antiga polémica tinha estalado de forma totalmente revigorada. Tratava-se do acto de duelar. Qualquer bom leitor de Eça de Queiroz sabe do que estou a falar. Dois cavalheiros, sentindo a sua honra ultrajada, desafiavam-se mutuamente e duelavam sob o olhar atento de duas testemunhas objectivas.
Mas será que se tratava mesmo de salvar a honra? Não se trataria antes de uma forma camuflada de ceder aos piores instintos animais? Não se trataria de um meio "civilizado" de pessoas "civilizadas" se comportarem de forma "não-civilizada" (i.e. como reles brigões de taverna)?
A Igreja (como sempre!) foi o farol da verdadeira civilização e insurgiu-se contra uma tão bárbara prática. Por isso, o Papa Leão XIII redigiu a Encíclica "Pastoralis Oficii" a qual reafirmava a Tradição da Igreja (particularmente desde o Concílio de Trento). Segundo este texto, duelar era um grave pecado contra o Amor Fraternal que deveria unir todos os homens.
É claro que as mentes bem-pensantes da época se apressaram a catalogar o Papa Leão XIII como "utópico". Porque as pessoas iriam brigar de qualquer das formas! Fazia parte da sua natureza! Portanto, mais valia que as pessoas ventilassem os seus instintos violentos de uma forma controlada e sancionada pelas leis do Estado.
Neste início do séc. XXI, devo dizer, com agrado, que a Utopia de Leão XIII se concretizou. É certo que ainda existem casos clandestinos de agressão... mas todos eles são punidos por lei e não me parece que os seres humanos estejam a ter muitos problemas em reprimir as suas tendências animalescas. É possível evoluir sem capitular. Quanto ao "duelar", passou à história como um ritual arcaico e sem sentido.
No entanto, heis que este séc. XXI renasce com as mesmas mentiras sob novas formas. Veja-se o projecto de lei nº 660/X que pretende impôr a obrigatoriedade da Educação Sexual nas nossas escolas.
Saliento um dos primeiros parágrafos da introdução:
"O reconhecimento da igualdade de género, o direito de acesso à contracepção, a promoção da maternidade e da paternidade responsáveis e conscientes, a generalização do planeamento familiar, e a garantia da não discriminação em função da orientação sexual, assumem-se hoje como conquistas dos portugueses, e já se encontram devidamente enquadradas no ordenamento jurídico português."
Todas estas "conquistas dos portugueses" mais não são do que as "conquistas dos ideólogos anticristãos". São o resultado de longos anos de batalhas com o fito de impôr na nossa mentalidade colectiva noções e ideias claramente conflituantes com a nossa moralidade original. É lógico que estes mesmos ideólogos queiram agora impôr estas mesmas noções nas escolas. Eles são os primeiros a criticar a catequese com a justificação de que as crianças são ainda muito influenciáveis e que, quem determina os conteúdos educativos, determina as ideias do futuro. Esta Educação Sexual visa acabar com toda a resistência aos "temas fracturantes" que ainda subsistem e criar um atalho para os "temas fracturantes" futuros... Aliás, as referências a contracepção, planeamento familiar, interrupção voluntária da gravidez, género e orientação sexual são extremamente prevalentíssimas neste projecto de lei.
O que tem isto a ver com a Grécia Antiga ou com os duelos oitocentistas?
Tudo!
Em que é que consiste esta Educação Sexual? Em promover a "contracepção", a "interrupção voluntária da gravidez", a "aceitação e tolerância" de comportamentos sexuais desviantes... tudo aponta para que se esteja perante uma educação espartana. Não se trata de introduzir nos nossos jovens uma visão da sexualidade de uma forma humana e responsável. Trata-se, isso sim, de os ensinar a terem o máximo de comportamentos promíscuos (os quais "estimulam o desenvolvimento da identidade") com o mínimo de consequências. O mal não é a fornicação ou o adultério... são as DSTs e as gravidezes indesejadas. É mau ter dois jovens de 13 anos a terem relações sexuais desprotegidas... não porque não estão preparados para um compromisso desta índole... mas sim porque estão desprotegidos contra as consequências desse mesmo acto.
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Os valores cedem ao utilitarismo!
No futuro, teremos pessoas incapazes de valorizar o Outro, e que, em vez disso, irão calcular a melhor forma de o usarem para obter o máximo de prazer com o mínimo de responsabilidades! Esparta prepara-se para conquistar a Atenas, a luz da Sabedoria das nossas escolas.
Pois bem, eu digo que, ainda que deixassem de existir gravidezes indesejadas e DSTs, esta Educação Sexual seria um fracasso educativo! Tal como seria um fracasso uma educação que não ensinasse os nossos jovens a serem membros produtivos para a sociedade, mas que os ensinasse a rentabilizar ao máximo o subsídio de desemprego e o rendimento social de inserção! Seria um fracasso, ainda que atingisse os seus objectivos! Porque não estaria a formar adultos, mas a ensinar as pessoas a serem perpetuamente crianças!
Então, as mentes bem-pensantes respondem: "Pois bem, talvez assim seja... mas é utópico pensar que os jovens podem ser educados a ser castos sexualmente. Os jovens vão ter sexo de qualquer das formas... mais nos vale educá-los, no sentido de minorar os danos!". Por outras palavras: "vamos duelar!" Os meus filhos não são capazes de se controlar... vou capa-los e dar-lhes a pílula como ao meu cão ou à minha gata.
É claro que estas mentes bem-pensantes não se questionam por que motivo um jovem não estaria disposto a ser casto, abstendo-se de relações sexuais até ao casamento... mas por outro lado esse mesmo jovem estaria disposto a ser casto, sacrificando o seu prazer com o uso de um incómodo preservativo...
Não, isso não se questiona! Afinal de contas, a Associação de Planeamento Familiar fez estudos patrocinados pela Associação de Planeamento Familiar e formou comissões científicas de pessoas ligadas à Associação de Planeamento Familiar, os quais chegaram à unânime conclusão de que a resolução para todos os problemas é a disseminação de todos os serviços da Associação de Planeamento Familiar, desde que precedidos por uma correcta educação, cujos moldes foram redigidos pela Associação de Planeamento Familiar.
Se, em Portugal, há elevadas taxas de gravidez na adolescência, é porque há pouca Educação Sexual. Se, em Inglaterra (onde esta Educação Sexual está sobejamente implementada) há elevadas taxas de gravidez na adolescência, é porque a Educação Sexual é manifestamente insuficiente e é preciso investir ainda mais no mesmo...
Mas estas mentes bem-pensantes esquecem-se do mais importante (como, aliás, é apanágio deles). Não importa que eles sejam os messias da época moderna que nos vão salvar do nosso atraso e introduzir-nos num futuro áureo! Eles não têm direito sobre os nossos filhos!
Constituição da República Portuguesa:
Art. 36.º, n.º 5 "Os pais têm o direito e o dever de educação e manutenção dos filhos"
Art. 43.º, n.º 2 "O Estado não pode programar a educação e a cultura segundo quaisquer directrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas"
Art. 26.º "A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, ao desenvolvimento da personalidade … à reserva da intimidade da vida privada e familiar"
Não podemos cair na ilusão de que este tema é inócuo. É uma gravíssima intrusão do Estado na intimidade da família. É um atentado ao princípio da subsidariedade que deve presidir a estas complexas relações interpessoais.
Relembro o meu post Martírio, no qual chamei a atenção para graves atropelos aos direitos fundamentais dos cristãos e dos pais por estes lobbys (nomeadamente a notícia de pais de acolhimento que se viram privados dos seus filhos por se recusarem a ensina-los que as práticas homossexuais são equivalentes às heterossexuais).
No meio disto tudo, a Igreja é (como sempre!) o farol do lado da Civilização e da Verdade! Perante este facto tão grave (e que tão pouca resistência encontrou na Assembleia da República, mesmo por parte daqueles que se auto-intitulam democratas-cristãos) a Comissão Episcopal para a Educação Cristã respondeu com um parecer muito apropriado.
Por isso, eu humildemente incito todos os pais de boa vontade (católicos ou não) a revoltarem-se contra este grave atropelamento aos seus direitos fundamentais e a juntarem-se a esta iniciativa do Movimento Portugal Pró-Vida, repondo o respeito que lhes é devido! Rapidamente, porque só dispomos até 20 de Março para agir! A Educação Sexual deve ser facultativa, antes de tudo... e os pais devem ter precedência sobre os pedagogos do eduquês que, nas últimas décadas, têm vindo a desconstruir o nosso sistema educativo.
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