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Ano da Fé

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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

CITAÇÕES DO MÊS

"Com certeza é justo o princípio de que as dívidas devem ser pagas. Não é lícito, porém, pedir ou pretender um pagamento, quando esse levaria de facto a impôr opções políticas tais que condenariam à fome e ao desespero populações inteiras. Não se pode pretender que as dívidas contraídas sejam pagas com sacrifícios insuportáveis. Nestes casos, é necessário - como, de resto, está sucedendo em certa medida - encontrar modalidades para mitigar, reescalonar ou até cancelar a dívida, compatíveis com o direito fundamental dos povos à subsistência e ao progresso"
Beato Papa João Paulo II
Centesimus Annus, 35
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"Tanto uma regulamentação do sector capaz de assegurar os sujeitos mais débeis e impedir escandalosas especulações, como a experimentação de novas formas de financiamento destinadas a favorecer projectos de desenvolvimento, são experiências positivas que hão-de ser aprofundadas e encorajadas, invocando a responsabilidade própria do aforrador. Também a experiência do microfinanciamento, que mergulha as próprias raízes na reflexão e nas obras dos humanistas civis (penso nomeadamente no nascimento dos montepios), há-de ser revigorada e sistematizada, sobretudo nestes tempos em que os problemas financeiros podem tornar-se dramáticos para muitos sectores mais vulneráveis da população, que devem ser tutelados dos riscos de usura ou do desespero. Os sujeitos mais débeis hão-de ser educados para se defender da usura, do mesmo modo que os povos pobres devem ser educados para tirar real vantagem do microcrédito, desencorajando assim as formas de exploração possíveis nestes dois campos. Uma vez que existem novas formas de pobreza também nos países ricos, o microfinanciamento pode proporcionar ajudas concretas para a criação de iniciativas e sectores novos em favor das classes débeis da sociedade mesmo numa fase de possível empobrecimento da própria sociedade."
 
Papa Bento XVI
Caritas in Veritate, 65

terça-feira, 23 de outubro de 2012

PROBLEMAS NOVOS, ALTERNATIVAS ANTIGAS


«O Senhor disse a Moisés no monte Sinai:“Diz aos israelitas o seguinte: (…) Contarás sete anos sabáticos, sete vezes sete anos, cuja duração fará um período de quarenta e nove anos (…) O quinquagésimo ano será para vós um jubileu (…) A terra não se venderá para sempre, porque a terra é minha, e vós estais em minha casa como estrangeiros ou hóspedes. Portanto, em todo o território de vossa propriedade, concedereis o direito de resgatar a terra. Se teu irmão se tornar pobre e vender uma parte de seu bem, seu parente mais próximo que tiver o direito de resgate se apresentará e resgatará o que o seu irmão vendeu. Se um homem não tiver ninguém que tenha o direito de resgate, mas procurar ele mesmo os meios de fazer o seu resgate, contará os anos desde que fez a venda, restituirá o excedente ao comprador, e se reintegrará na sua propriedade. Se não encontrar, porém, meios de indemnizar, a terra vendida ficará nas mãos do comprador até ao ano jubilar; sairá do poder deste no ano do jubileu, e voltará à posse do seu antigo dono. (…). Se teu irmão se tornar pobre junto de ti e se se vender a ti, não exigirás dele um serviço de escravo. Estará em tua casa como um operário, e como um hóspede estará a teu serviço até o ano jubilar. E sairá então de tua casa, ele e seus filhos com ele; voltará para a sua família e para a herança de seus pais. (…) Não receberás de teu irmão juros nem ganho; mas temerás o teu Deus, para que o teu irmão viva contigo. Não lhe emprestarás com juros o teu dinheiro, e não lhe darás os teus víveres por amor ao lucro.”
Lv 25:1,8,11,23-28,36-37,39-41

Quando li esta passagem bíblica pela primeira vez, há muitos anos, senti que esta lei dos anos jubilares não era justa. Parecia que os devedores acabavam sempre por sair beneficiados, porque as suas dívidas ficavam liquidadas no ano jubilar. Todavia, depois de ver a situação actual, consegui vislumbrar a sabedoria de Deus oculta neste texto, tantas vezes ignorado.

Nos últimos tempos, a classe política tem-nos vendido 2 mitos, que são aceites acriticamente como dogmas.
1)  A crise económica é uma crise de dívida. Gastámos mais do que as nossas possibilidades
2) Não existe alternativa à austeridade

Estes 2 "mitogmas" são utilizados para obrigar as populações a aceitar condições desumanas de vida, a desistirem dos mais elementares direitos ao trabalho, saúde e educação, tudo em nome do desígnio nacional de vencer a crise económica.

Mas as pessoas apercebem-se de que a crise prolonga-se e prolonga-se e todos os seus sacrifícios parecem ser para nada.

Então, para encontrar uma via ética e humana para vencer a crise económica, devo desconstruir os dois mitos.

1) "Gastamos mais do que as nossas possibilidades"

É verdadeira a velha metáfora que compara a economia nacional com a economia familiar. Ou seja, não se pode gastar mais do que aquilo que se tem. É um facto.

O problema é que essa metáfora apenas se aplicaria se a nossa economia nacional fosse uma economia sadia (i.e. de tipo familiar). Mas não é. A economia nacional está construída em regras perversas. Quando o ex-Primeiro Ministro José Sócrates, o da Má Memória, disse numa conferência: "As dívidas não se pagam, gerem-se"... infelizmente e horrivelmente estava a dizer a verdade.

A economia actual não foi concebida para que as dívidas sejam pagas, mas perpetuadas. Exactamente o oposto do livro do Levítico. Como é possível que sejamos menos civilizados hoje do que judeus da Idade do Bronze?

Qual é então a causa da crise económica nacional e mundial? Antes de prosseguir na leitura, peço ao leitor que veja o vídeo aqui em baixo.




Assim, é possível perceber que a economia assenta num princípio, denominado sistema bancário de reservas fraccionadas, segundo o qual os bancos comerciais podem CRIAR dinheiro a partir de nada (ex nihilo), como se fossem deuses monetários.
Os bancos não precisam de ter muitos depósitos para emprestar dinheiro...
... porque eles emprestam mais dinheiro do que aquele que está depositado, que é o mesmo que dizer que criam o dinheiro que emprestam.

Isto gera uma situação terrível.
Como a maior parte do dinheiro da Economia é criada pelos bancos, isso significa que a nossa economia funciona à base de dívidas aos bancos...
... dívidas essas que estão constantemente a ser contraídas para que a Economia avance.
Ou seja, as dívidas não são para se pagar, mas para se gerir.

Agora, peço ao leitor que veja os dois vídeos abaixo:







Mas esta situação tem ainda mais uma variante abominável.
A maior parte do dinheiro é criada pelo banco comercial quando este empresta dinheiro.
Mas o empréstimo exige que se pague juros ao banco.
Mas pagar juros exige dinheiro e quem cria o dinheiro é o banco.
Ou seja, o banco cria o dinheiro para o empréstimo... mas não cria o dinheiro para pagar os juros.
Significa que existirá SEMPRE menos dinheiro em circulação do que a dívida que temos aos bancos.

Em resumo: É MATEMATICAMENTE IMPOSSÍVEL PAGAR A DÍVIDA.

Só mais uma nuance: a completa falta de solidariedade dos bancos comerciais.
Quando um banco ameaça falência, o Estado tem de vir resgatá-lo com bail-outs, que são dinheiro dos contribuintes.
Mas quando as pessoas estão arruinadas por causa das dívidas aos bancos, eles não mexem uma palha para as resgatar.
Isso inclui pessoas que estão a viver na pobreza, no desemprego, na doença, porque a austeridade lhes cobrou impostos acima do razoável, ou fechou as suas empresas ou obrigou a cortes na Saúde.
Essas pessoas estão na miséria por causa das dívidas (individuais ou nacionais) aos bancos, mas eles nada fazem para as aliviar. Nunca lhes passa pela cabeça perdoar as dívidas. Não! Só interessa o lucro!

O Capitalismo é um Socialismo para ricos!

Quando as pessoas precisam de ajuda do Estado, não pode ser... é o Mercado Livre. Mas quando são os bancos, aí já se aceita ajuda do Estado. Os bancos enchem a boca com as teorias do Mercado Livre... onde está o Mercado Livre para os bancos?
 
E os nossos governantes estão dispostos a cortar em tudo.
Cortam nas reformas e nos salários.
Mas nunca na dívida. Isso é impensável! Temos de honrar os nossos compromissos! Temos de ser gente honrada!
E os reformados? Não trabalharam uma vida inteira? Não são credores do Estado?
E os funcionários públicos? Não trabalharam para ganhar o seu salário? Não são credores do Estado?

Há credores e há credores... Há dívidas que são para se cumprir e há dívidas que são para se deitar no lixo. Apenas as dívidas ao banco são para se pagar.
 
***
 
Portanto, não adianta pensar que a crise da dívida se deve a "gastarmos mais do que as nossas possibilidades". Com o sistema bancário de reservas fraccionadas, a crise da dívida surgiria sempre. Porque 1) precisamos da dívida aos bancos para ter a Economia a funcionar e 2) porque é matematicamente impossível pagar a dívida aos bancos.

2) "Não existem alternativas à austeridade"

Esta é outra falsidade. E é tanto mais falsa quando se verifica a austeridade NEM SEQUER É ALTERNATIVA. Os próprios motores da austeridade começam a reconhecer isso.

A austeridade induz recessão.
Quer isto dizer que as pessoas não consomem, não compram, porque têm de poupar.
Por outro lado, estão mais sobrecarregadas e, logo, trabalham pior e produzem menos.
Ou seja, a austeridade faz com que as pessoas tenham menos dinheiro. E, logo, que o Estado tenha menos dinheiro.
Mas se as pessoas têm menos dinheiro e os Estados também... então temos menos possibilidades de pagar as dívidas aos bancos.

O que vai agravar a nossa dívida.

E assim sucessivamente.

Então, qual é a alternativa?

A alternativa está, hoje como sempre, na Doutrina da Igreja, que o próprio Deus instituiu para nos guiar. Por sinal, está numa doutrina já há muuuuuito tempo esquecida.

3) A Doutrina da "usura"

Os dissidentes utilizam frequentemente o exemplo da usura para dizer que a Igreja Católica pode mudar a sua doutrina. Mas isto é falso. A Igreja nunca mudou a sua doutrina sobre a usura. Nunca. A usura continua a ser tão pecaminosa hoje como ontem.

Mas a Igreja não diz que a economia mudou ? Que agora é lícito emprestar com juros?
Sim.
Mas quem é que disse que usura é "emprestar dinheiro com juros"? Usura não tem nada a ver com isso.

Sugiro a leitura deste excelente post, que demonstra que usura é um conceito complexo e cuja definição ainda está por terminar (pelo menos a nível dos detalhes). O problema é que, na altura da Idade Média, quando a economia era mais simples, toda a gente percebia o que era usura. Desde que a economia moderna se desenvolveu, tornou-se mais difícil saber o que é a usura. Em primeiro lugar porque a sua definição está ainda incompleta. Em segundo lugar porque é difícil saber quando um empréstimo bancário deixa de ser legítimo e passa a ser usurário.
 
É FUNDAMENTAL REABRIR O DEBATE SOBRE O QUE É A USURA, SOBRETUDO APLICADA À ECONOMIA DOS DIAS DE HOJE.

Eu, sinceramente, adopto a definição simplista de Hillaire Belloc e John C. Medáille:

"Usura é emprestar dinheiro com juros para financiar consumos não produtivos."

E é isto que a Igreja Católica ensina. A Igreja sabe que a economia actual funciona à base de bancos comerciais. Mas a função dos bancos comerciais é dar crédito a actividades produtivas.

Imaginemos que um banco empresta 100 € à taxa de 1% a um empreendedor para que este monte uma fábrica. O empreendedor gasta os 100 € para montar a fábrica. O negócio floresce. Produz-se nova riqueza. A fábrica acaba por originar produtos que são vendidos com um valor superior a 101 €. O empreendedor pode pagar a dívida ao banco, incluindo juros. E ficou depois com uma fábrica para o seu próprio sustento. Nada de imoral aconteceu aqui... e foi um empréstimo com juros.

Agora imaginemos que um banco empresta 100 € à taxa de 1% a uma pessoa para passar férias (embora dentro do país). O feriante gasta os 100 € nas férias. Os 100 € entram em circulação. Mas não se produziu riqueza nova. Quando regressa, o indivíduo tem de pagar 101 € ao banco. Sendo que 100 € estão em circulação... mas há 1 € que não existe na economia real. Para que o feriante pague a sua dívida ao banco, alguém terá de ficar 1 € mais pobre.

Pior ainda é quando um banco faz empréstimos com propósitos meramente especulativos. Quando compra um produto com um certo valor e depois usa manigâncias imorais para o vender acima desse outro valor. O banco recebeu um lucro sem ter feito nada para o merecer. Nem mérito, nem trabalho, nem empreendedorismo, nada... E em nada essa actividade beneficiou o Bem Comum. Pelo contrário. É certo que, quando alguém ganha dinheiro sem o merecer, houve outro alguém que perdeu dinheiro sem o merecer também.

Com base nisto, podemos deduzir que grande parte das nossas dívidas actuais são imorais. Como tal, não estamos moralmente obrigados a pagá-las. Tal como o toxicodependente não está moralmente obrigado a pagar a dívida ao dealer. O toxicodependente tem como único imperativo moral, tentar recuperar-se para se tornar um membro activo da sociedade, que contribua para o Bem Comum. Se a dívida ao dealer o impedir de atingir esse objectivo, deve ser pura e simplesmente rasgada.

E não foi isso que os bancos fizeram connosco? Tornarem-nos dependentes deles? Tornarem-nos dependentes do dinheiro deles para porem a nossa Economia a funcionar?

4) Alternativas antigas para problemas novos

Com base em tudo o que eu disse, é fácil traçar alternativas que, rapidamente, nos tirariam desta crise sem nos forçar a austeridades desumanas. Todavia, não vejo nenhum político com interesse em tomar essas medidas.
Em primeiro lugar, porque são medidas demasiado desconhecidas para terem efeito eleitoral.
Em segundo lugar, porque esses políticos são muito próximos dos grandes interesses económicos.
Em terceiro lugar, porque os políticos têm um pala ideológica que os impede de verem soluções novas.
E em quarto lugar, porque um político teria de ser muito hábil e corajoso para o conseguir: assim que estas medidas fossem implementadas, os mercados deixariam de confiar em Portugal e perder-se-ia o espaço de manobra para défices futuros (seria necessário atingir um superávite em menos de 1 ano).

Portanto, estas alternativas têm que começar a impôr-se no campo das ideias. O que não é  tão mau ou ineficaz como parece. Devemos lembrar-nos que até há poucos anos atrás havia meio mundo que estava sob o domínio de uma ideologia político-económica nefasta, o Comunismo. Parecia invencível. Mas caiu, frágil como um castelo de cartas. E, antes de haver iniciativas políticas para fazer frente ao Comunismo, houve ideias. Particularmente as lançadas para a discussão pública pela Doutrina Social da Igreja.

Alternativas que eu recomendo:

1) Acabar de vez com o sistema bancário de reservas fraccionadas. Apenas os bancos centrais devem poder criar moeda central.

2) Pugnar por uma moratória unilateral e incondicional às dívidas públicas, começando pelas dos países do Terceiro Mundo. Pedir auditorias populares à dívida (para saber se houve ou não irregularidades nos empréstimos).

3) Enquanto tal não sucede, fomentar a existência de moedas paralelas. Ponho à vossa consideração a experiência de Wörgl, um sucesso tão desconhecido...
Na verdade, acho que não existe outra maneira de criar riqueza no nosso país, mantendo-nos no Euro... é preciso criar uma moeda paralela a ele. O Euro seria para pagar a dívida. A moeda paralela para manter a economia a funcionar.

4) Promover gradualmente a alternativa aos bancos comerciais: as uniões de crédito.







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5) Impôr aos bancos comerciais a criação de linhas de microcrédito, para estimular a economia com empréstimos realmente benéficos
6) Regular antentamente toda e qualquer actividade especulativa, proibindo-a
7) Combate agressivo e eficaz à corrupção (um sorvedouro de dinheiros públicos, também contrário ao Bem Comum). Educação para uma cidadania sem corrupção.
8) Combate agressivo e eficaz à economia paralela ("dai a César o que é de César" é uma lei de Cristo). Só com esta medida isoladamente, já teríamos um superávite.
9) Poupar em tudo o que é despesismo, que ainda é muito.

10) Indexar o salário dos políticos a uma fórmula que leve em conta o défice público, mas também as taxas de desemprego e de pobreza. Isso havia de motivá-los...
11) Racionalizar a Segurança Social. Ou seja, cortar ao máximo os subsídios (exceptuando reformas, invalidez e subsídios de natalidade) e substitui-los por intervenções VERDADEIRAS de inserção social. Articulação com as IPSSs, CATs, Centros de Alcoologia, Centros de Emprego e as linhas de microcrédito supracitadas.
12) Promover o auto-sustento. Quer individidual, quer nacional. Devemos recuperar a nossa agricultura e as nossas pescas, para sermos o mínimo possível dependentes do exterior. As importações custam dinheiro. Que cada país possa ser auto-suficiente, quanto mais não seja na produção dos bens essenciais.

13) Acabar com off-shores. Que cada qual pague aquilo que lhe é devido. É verdade que os empresários, quando ameaçados com impostos, fogem para ambientes fiscalmente mais agradáveis noutros países menos escrupulosos. É por isso que devemos tentar globalizar esta medida, tal como eles tentaram globalizar a "competitividade" quase chinesa do valor do trabalho.

14) Promover a Família, a verdadeira Família, mediante acções educativas à população. Apenas uma Família fértil e estável pode evitar o inverno demográfico, com o consequente colapso da sociedade portuguesa e pobreza subsequente. PROIBIÇÃO ABSOLUTA DO ABORTAMENTO PROVOCADO.

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Como pode o meu leitor ver, é possível sair desta crise económica de uma forma humana e sem prejudicar os mais frágeis. Pelo contrário, poupar os mais frágeis e obrigar cada qual a pagar a sua quota parte (o que significa não pagar dívidas injustas) é a única maneira de sair desta crise económica. Aí sim, não existem alternativas.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

PRÉMIOS NOBEL (II) - "ÉTICA", DIZEM ELES. MAS SERÁ?

A questão das células-tronco (aquilo que os media chamam "células estaminais", numa tradução literal e atabalhoada do termo anglo-saxónico "stem cells") sempre levantou grandes questões. Por um lado, tais células indiferenciadas podem, teoricamente, diferenciar-se em qualquer tecido do corpo, regenerando-o e originando curas quase milagrosas. Por outro lado, para obter tais células, é necessário recorrer à destruição de seres humanos em fase embrionária. Isto, claro, levanta questões de ordem ética. Mesmo que as curas milagrosas estejam ao nosso alcance, não podemos aceder-lhes se, para tal, tivermos de recorrer a procedimentos não-éticos.

Costumo socorrer-me do seguinte exemplo: é muito fácil erradicar o VIH/SIDA da face da Terra. Basta matar todos os seropositivos, convencionando-os como não-humanos. Mas isso é claramente errado. De igual modo, não é ético salvar um indivíduo necessitado de um transplante, matando um outro indivíduo que, embora compatível, se encontre inscrito no Registo de Não-Dadores.

Mas as questões não são puramente éticas. Apesar do entusiasmo (imerecido) que as hESCs ("human embryonic stem cells", i.e. células-tronco embrionárias humanas) têm suscitado nos media e na comunidade científica, a verdade é que têm sido verdadeiros "abortos". Promessas na cura da diabetes, esclerose múltipla, Alzheimer... tudo falhou. Além de terem um efeito secundário grave: células indiferenciadas malignizam facilmente, induzindo tumores e cancros. Há sempre ensaios a decorrer, estão há anos a dizer "agora é que é, agora é que é!", mas... nada...

Pelo contrário, as células-tronco adultas, derivadas de medula óssea ou de sangue do cordão umbilical são perfeitamente éticas, porque são recolhidas da própria pessoa que beneficia do tratamento, sem a destruir.

Ao contrário das hESCs, as ASCs ("adult stem cells" i.e. células-tronco adultas), têm produzido benefícios tangíveis. Veja-se aqui, aqui, aqui e aqui, só para se ter alguns exemplos. Além de serem mais seguras, já que não malignizam.

É verdade que as ASCs são mais diferenciadas que as hESCs, pelo que, teoricamente, não se conseguirão diferenciar em todos os tecidos do corpo (ao contrário das hESCs). Isto faz com que os cientistas continuem a rejeitar as ASCs e a preferir as hESCs, apesar de as ASCs serem éticas e serem as únicas com resultados até agora.

Após esta introdução, é possível dizer que há um terceiro tipo de células-tronco: as "induced pluripotent stem cells" - iPSCs.

As iPSCs são células adultas que foram forçadas a "regredir", ou seja, a tornarem-se mais embrionárias. Tornando-se menos diferenciadas, é possível obter todos os benefícios das células-tronco embrionárias, sem destruir embriões.


MAS ATENÇÃO!!!

É que, para produzir estas iPSCs foi necessário recorrer a um vírus, o qual foi replicado com o auxílio de células-tronco embrionárias. Veja-se o artigo da revista Cell, na secção "Experimental procedures", subsecção "Cell culture".

É verdade que nenhum embrião foi destruído explicitamente para produzir as iPSCs. As células-tronco embrionárias utilizadas já existiam em cultura há muitos anos, derivadas de um aborto electivo ocorrido na década de 1970 (ver pág.s 80-81 deste paper).

Mas o facto de o embrião não ter sido destruído explicitamente para produzir as iPSCs (o embrião já tinha sido destruído há muito tempo), não justifica o facto de as iPSCs usarem material biológico de um embrião abortado. É possível que se aplique o mesmo princípio ético que eu mencionei acima... não é lícito obter transplantes a partir da destruição de terceiros. Um médico não poderia transplantar um órgão de um indivíduo especificamente morto para o efeito, mesmo que a morte desse indivíduo já tivesse ocorrido.

Ou, como a doutrina bio-ética da Igreja define na instrução Dignitas Personae:

"Uma situação diferente verifica-se, quando os investigadores empregam «material biológico» de origem ilícita, que foi produzido fora do seu centro de investigação ou que se encontra no comércio. A Instrução Donum vitae formulou o princípio geral, a observar nestes casos: «os cadáveres de embriões ou fetos humanos, voluntariamente abortados ou não, devem ser respeitados como os restos mortais dos outros seres humanos. De modo particular, não podem ser objecto de mutilação ou autópsia se a sua morte não for assegurada e sem o consentimento dos pais ou da mãe. Além disso, deve-se sempre salvaguardar a exigência moral de que não tenha havido nenhuma cumplicidade com o aborto voluntário e que seja evitado o perigo de escândalo».

A tal propósito, não basta o critério da independência formulado por algumas comissões éticas, ou seja, afirmar que seria eticamente lícita a utilização de «material biológico» de proveniência ilícita, sempre que exista uma clara separação entre os que produzem, congelam e fazem morrer os embriões e os que investigam a evolução da experimentação científica. O critério de independência não basta para evitar uma contradição na atitude de quem afirma não aprovar a injustiça cometida por outros e, ao mesmo tempo, aceita para o seu trabalho «material biológico» que outros obtêm mediante semelhante injustiça. Quando o ilícito tem o aval das leis que regulamentam o sistema sanitário e científico, há que marcar distância dos aspectos iníquos do sistema, para não dar a impressão de uma certa tolerância ou aceitação tácita de acções gravemente injustas. Isso, de facto, contribuiria para aumentar a indiferença, se não mesmo o favor, com que tais acções são vistas em certos ambientes médicos e políticos.

Às vezes, objecta-se que as considerações precedentes parecem pressupor que os investigadores de recta consciência teriam o dever de se opor activamente a todas as acções ilícitas realizadas no âmbito da medicina, alargando assim excessivamente a sua responsabilidade ética. O dever de evitar a cooperação com o mal e o escândalo, diz respeito, na realidade, à sua actividade profissional ordinária, que devem equacionar rectamente e mediante a qual devem testemunhar o valor da vida, opondo-se também às leis gravemente injustas. Portanto, o dever de recusar o referido «material biológico» – mesmo na ausência de uma certa relação próxima dos investigadores com as acções dos técnicos da procriação artificial ou com a dos que praticaram o aborto, e na ausência de um prévio acordo com os centros de procriação artificial – resulta do dever de, no exercício da própria actividade de investigação, se distanciar de um quadro legislativo gravemente injusto e de afirmar com clareza o valor da vida humana. Por isso, o critério da independência acima referido é necessário, mas pode ser eticamente insuficiente."
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(Mais um artigo interessante sobre o assunto encontra-se aqui)
 
Isto é tanto mais grave, quando certos investigadores nesta área (e que colocam as preocupações bio-éticas na dianteira do seu trabalho) afirmam que as iPSCs poderiam ser obtidas sem recurso às hESCs, mas às próprias ASCs. Embora desconheça se isso é verdade, não vejo porque motivo terão de ser utilizadas hESCs para cultivar o vírus que produz as iPSCs.
 
O debate ético em torno desta questão ainda não está, obviamente, encerrado. Mas parece estar inclinado contra as iPSCs. Pelo menos enquanto não se encontrarem alternativas às células embrionárias para produzir iPSCs (o que, penso, não demorará muito a surgir). Portanto, para já, um católico com as devidas preocupações bio-éticas deve manter uma distância prudente das iPSCs, até que a Igreja Católica se possa pronunciar, após um debate sereno e sem viéses.

PRÉMIOS NOBEL (I) - A PAZ PODRE

"Therefore thus saith the Lord God: Because you have spoken vain things, and have seen lies: therefore behold I come against you, saith the Lord God. And my hand shall be upon the prophets that see vain things, and that divine lies (...) Because they have deceived my people, saying: Peace, and there is no peace"
Ez 13:8-10

 Em 1994, o Prémio Nobel da Paz foi atribuído a um homem chamado Yasser Arafat. Este aparentava, na altura, estar comprometido com a paz, mas acabou por se revelar um grande opositor desta, fomentando o conflito israelo-palestino.

Mas tudo bem. Afinal de contas, o comité do Nobel é constituído por homens falíveis. Um erro isolado não pode ser motivo de condenação da nossa parte.

O cartaz mais soviético que alguma vez
um Presidente dos EUA teve

Mas, em 2009, o vencedor do galardão foi o Presidente dos E.U.A., Barack Obama.
Apesar de este nunca, nunca, NUNCA ter feito nada pela Paz.
Limitou-se a, simplesmente, não ser George W. Bush (que era a encarnação do Demónio segundo os media).
Desde então, Barack Obama iniciou e venceu uma guerra no mundo islâmico, derrubando um ditador para assegurar a paz mundial... hum, quero dizer antes, a paz económico-petrolífera americana (o que é muuuuuito diferente do que Bush júnior fez).
Não cumpriu a sua promessa de encerrar a prisão de Guantanamo Bay.
E pior, foi o grande motor da famigerada e cobarde guerra às crianças não-nascidas, instigando a Cultura da Morte dentro e fora das fronteiras.

Grande pacifista, pffffff. Mas claro que ninguém diz nada, porque ele é o queridinho dos media e toda a gente recebeu a lavagem cerebral para o adorar, tal como receberam a lavagem cerebral para abominar Bush (que eu, por sinal, também jamais apoiei, mas por motivos devidamente fundamentados).
 

A União Europeia, uma instituição que tem atentado contra os princípios mais elementares da Doutrina Social da Igreja, contra a Liberdade e a Solidariedade, sendo um obstáculo à verdadeira paz dos seus estados-membros.

Daqui resta apenas admitir que este Prémio Nobel cedeu a nobreza do seu carácter ao mais rasteiro lobbying político. Consequentemente está completamente desautorizado. Quando os ideólogos promotores desta iniciativa desaparecerem (e desaparecerão inexoravelmente, porque as ideologias são meras modas, que prometem ser o Futuro, mas que rapidamente se tornam num Passado sem rastro), o Prémio Nobel tornar-se-á uma anedota nos anais da História. Pobre Alfred Nobel, que tinha intenções tão boas...
 
 
Strike three... and you're out!

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

COMEÇOU O "ANO DA FÉ"!


O Papa Bento XVI proclamou um Ano da Fé, com início hoje, para celebrar o aniversário do Concílio Vaticano II e para ser ponto de partida para um renascimento da Fé nesta nossa Cristandade tão debilitada...

Celebremos, pois, esta benção!



Para ver o site oficial do Ano da Fé, clicar aqui.

Para ver a carta apostólica Porta Fidei, clicar aqui.

Para ver o Ano da Fé explicado aos jovens, clicar aqui.

BOM ANO DA FÉ A TODOS!!!

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A IDOLATRIA A QUE UM CATÓLICO MONÁRQUICO PODE ESTAR SUJEITO...

É tradição minha, a cada 5 de Outubro, escrever umas linhas explicando o porquê de eu ser Monárquico Constitucionalista. Mantenho, hoje como ontem, essa minha opção, a qual já expliquei aqui.

Todavia, quem ler o meu post, lerá também que eu explico que uma Monarquia Constitucional não é, obrigatoriamente, benigna. E, embora creia que uma Monarquia Constitucional seja, à partida, o regime que melhor se adaptaria ao nosso país... também é verdade que uma monarquia constitucional corrupta não é melhor do que uma república virtuosa (coisa que esta IIIª República está longe de ser).

Enquanto católico, sei que o Bem está acima das estruturas e das instituições sociais. Estas não produzem o Bem. Não são a fonte do Bem. O Bem vem apenas do Homem, quando se encontra na graça de Deus.

Digo isto, porque vejo muitos católicos a apoiarem certos regimes, simplesmente porque foram menos anticatólicos e anticlericais que o actual. Vejo-os monárquicos, por vivermos numa república maçónica e pagã. Vejo-os salazaristas, por vivermos numa república corrupta e herética. Mas estes regimes também cometeram erros. E erros contra os católicos. Contra a Igreja. Contra a Doutrina. E contra os nossos irmãos e irmãs mais pobres, imagem e figura de Cristo.

Não pretendo retractar-me. Sou Monárquico Constitucionalista e continuarei a sê-lo com orgulho! Todavia, convém repetir amiúde que esta solução política não é uma panaceia para todos os males da Pátria. Convém repetir que um rei pode também pactuar com leis abomináveis (veja-se o Rei Juan Carlos de Espanha ou a Rainha Isabel II de Inglaterra em relação às leis anti-vida e anti-família que nos afectam também). Convém confessar frequentemente os pecados das nossas ideologias, não vão elas levar-nos à idolatria, não vão elas suplantar o lugar de Deus, não vá entrarmos naquele coro intemporal que proclama: "Não temos Rei senão César". O zelo de um católico pode fazê-lo, também a ele, cair na idolatria...

Portanto, hoje proponho este livro, escrito por um bispo português de alta craveira intelectual. Conta a história dos católicos durante a Monarquia Constitucional Portuguesa... e o terrível cesaropapismo a que a Igreja esteve sujeita. Os católicos actuais poderão também encontrar algum conforto, pois que os conflitos que enfrentamos actualmente são, na verdade, já antigos.

(E, claro que o livro não deixa também imunes os católicos monárquicos da vertente absolutista, pois que o cesaropapismo da Monarquia Constitucional derivou bastante de uma espécie de galicanismo português que se originou, precisamente, na Monarquia Absolutista... não esquecer as perseguições pombalinas aos jesuítas)