Claro que a Fé pode explicar a Ciência! Nós acreditamos que Jesus Cristo é o Logos encarnado. Ou seja, acreditamos que a própria Razão (que é Deus) encarnou e se tornou visível. Deste modo, acreditando no Deus cristão, nós acreditamos que todas as coisas (que foram criadas por Ele) possuem uma partícula de Razão. Se as coisas criadas não tivessem essa partícula de Razão, a Ciência não lhes seria aplicável (porque a Ciência parte do pressuposto que as coisas manipuladas cientificamente se comportam de uma forma racionalmente perceptível). Consequentemente, se Cristo nos diz que temos de O procurar, isso é um enorme estímulo à Ciência (porque Cristo é a Razão e nós temos de procurar Cristo).
E isto é comprovado pela História. Exceptuando-se o caso Galileo, a verdade é que a Igreja sempre foi uma grande mecenas das ciências.
Foi ela quem criou o sistema universitário.
Foi ela quem apoiou as grandes investigações medievais e renascentistas.
Ela criou o enquadramento cultural próprio, o húmus do Cristianismo no qual iria florescer o método científico (porque o Cristianismo é, como eu já referi acima, um incentivo à Ciência).
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Tantos cientistas que foram católicos devotos! O médico Louis Pasteur, o matemático Blaise Pascal, o químico Antoine-Laurent Lavoisier e… sim, o próprio Galileo!
Não seria possível que a civilização ocidental tivesse alcançado os níveis científicos do Iluminismo se a mesma civilização tivesse vivido os séculos de obscurantismo que nos querem fazer crer que a Igreja fomentou. A Ciência não nasce espontaneamente… é uma construção! Somos anões sobre os ombros de gigantes!
E o inverso: Será que a Ciência pode explicar a Fé?
Os teístas acreditarão que terão entrado agora num beco sem saída… porque a Fé não pode ser explicada pela Ciência. Parece que, finalmente, o ateu venceu a parada!
Não tão rápido. É que eu digo: a Ciência pode explicar a Fé, sim!
Recordemos a definição do método científico (vide post 2). Nós não provamos uma dada hipótese. Nós calculamos a probabilidade de um dado fenómeno ser devido ao acaso (partindo do pressuposto que a hipótese está errada).
Muitos adeptos da chamada teoria do Intelligent Design gostam de usar este raciocínio para provar a existência de Deus. Eles consideram que a complexidade do universo torna pouco provável que o mundo seja um fruto puro do acaso. Logo, Deus deve existir. Eu, por meu lado, prefiro não me meter em promiscuidades entre Fé e Ciência.
Porque eu sinto-me perfeitamente à vontade com o acaso. Eu acho que o universo está constantemente a ser modelado pelo acaso. O acaso é constituído por todas as causas que podem influenciar o fenómeno estudado e que eu não estou a considerar na hipótese (sejam essas causas conhecidas ou desconhecidas). Ora Deus é uma dessas causas desconhecidas que eu não consigo manipular e cuja amplitude eu não posso medir. Ao remeter Deus para o domínio do acaso, eu torno-me livre para pesquisar causas naturais para o fenómeno. Deus é aquela variável que pode influenciar tudo, pelo que eu devo procurar as causas de um fenómeno que não a causa “Deus”.
Ilustro o que pretendo dizer com o exemplo da cura da doença. A cura da doença é multifactorial. Eu posso testar a hipótese: “O remédio X é cura para a doença”. Ou seja, eu tento saber se, de facto, o remédio X é uma causa para a cura da doença. Mas ao fazê-lo, eu tomo consciência de que existem outras causas possíveis para a cura da doença que não o remédio X. A estas causas possíveis eu chamo “acaso”. E entre uma dessas causas possíveis está Deus. Por muitas causas que eu encontre para a cura da doença, enquanto houver “acaso” (i.e. causas possíveis desconhecidas para a cura), existe a possibilidade de Deus entrar na equação.
“Acaso é o nome que Deus usa quando não quer assinar as Suas obras”
Anatole France
Nesta altura, o leitor confuso pergunta-me: “Oh Alma peregrina… mas tu tinhas dito que se podia provar Deus pelo método científico!”
Pois disse. E reitero o que disse.
Só que as pessoas estão constantemente a tentar provar Deus como fariam para provar uma qualquer causa natural de um fenómeno natural. Continuam a tentar analisar a composição química do guisado da mamã! Mas o Deus revelado na Bíblia é um Deus pessoal, que pretende estabelecer um contacto pessoal connosco! Um contacto pessoal chamado “religião”.
Portanto, o cientista deve provar Deus de uma forma pessoal. É claro que os ateus já tentaram uma coisa semelhante! Eles dizem: “Se Deus existe, Ele que me fulmine com um relâmpago!”
Como Deus não o faz, o ateu aceita (muito satisfeito com a sua própria inteligência) que provou que Deus não existe.
Tolice!
Um cientista não tem dogmas. Quando aplica o método científico, ele está preocupado em descobrir a verdade, não em provar a sua hipótese a todo o custo. O que o ateu faz não é provar a sua hipótese... é um exercício de masturbação mental. Ele faz isso, porque sente prazer em provar a si próprio que Deus não existe. Mas o ateu já sabia qual iria ser o resultado da sua experiência (já outros o tentaram). Se o ateu considerasse que havia alguma hipótese de ser fulminado por um relâmpago, jamais tentaria Deus a fazê-lo. Impõe-se a questão: se o ateu já sabia a resposta, por que experimentou?
Por outro lado, o ateu tenta provar um deus que não existe. O ateu tenta provar a existência do deus que faz tudo o que lhe mandam. Ao tentar provar a existência de Deus, o ateu recusa as premissas dos religiosos (“Não tentarás o Senhor, teu Deus” Mt 4:7). Esta atitude é absurda e dogmática! Para testar uma hipótese, o cientista deve aceitar as premissas de tal hipótese.
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Relembro que acreditamos num Deus pessoal. Vou dar outro exemplo: imaginemos um cientista que não acredita que o género feminino exista. Portanto, tenta provar isso. Vai a um bar e vê uma mulher. Mas não acredita que aquela seja uma mulher, pois pode ser um travesti. Por isso, pega numa régua e põe as mãos nas cuequinhas da mulher para medir o… enfim, vocês sabem! Passadas umas boas bofetadas, o nosso cientista louco escreve no seu bloquinho: “Hipótese confirmada! A Mulher não existe! Apenas existem travestis com maus feitio!”
O cientista inteligente que quisesse provar a sua hipótese, tentaria seduzir a mulher no bar, namora-la e, eventualmente, leva-la para a cama. Deste modo, além de provar a sua hipótese, acederia a uma experiência agradável para si próprio e para a mulher…
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O ateu pensa que, só porque Deus não faz o que ele quer, então Deus não existe.
Isto torna-se muito visível nas considerações arbitrárias que o ateu faz acerca do que é “racional” e “irracional”. Em que se fundamenta o ateu para definir a religião como “irracional”? Quais são os seus critérios? O facto de Deus não ser passível de ser provado cientificamente? Mas quem disse que tudo o que é verdade tem de ser passível de ser provado cientificamente?
Por acaso, os homens das cavernas podiam provar cientificamente a existência da Célula? Não! Será que a teoria celular era falsa antes da descoberta do microscópio?
Por acaso, os homens das cavernas podiam provar cientificamente a existência de Plutão? Não! Será que Plutão não existia antes da descoberta do telescópio?
Vejo muitos materialistas a justificarem a doutrina “irracional” das aparições marianas com a doutrina “racional” dos O.V.N.I.S. Mas por que será que os O.V.N.I.S. são “racionais”? A resposta é esta: porque o homem moderno pode viajar para outros planetas! Logo, os O.V.N.I.S. são entidades que são compreensíveis para o homem moderno! No entanto, um materialista da época das cavernas, que não sabia sequer como construir um avião, diria que os O.V.N.I.S. seriam “irracionais”! Porque nenhum homem sabe como voar, então a existência de entidades racionais que saibam voar é falsa!
Os materialistas apresentam uma fé mais absurda que a dos religiosos! Eles acham que a realidade não foi criada por Deus! Eles acham que a realidade é criada pela mente deles! Eles acham que a realidade é criada pela nossa tecnologia!
O materialista objectará que, apesar de tudo, as hipóteses da Célula e de Plutão são passíveis de ser provadas cientificamente, mas que Deus nunca o será! Portanto, a Célula e Plutão são “racionais” porque existe a possibilidade de as provar cientificamente. Mas Deus é “irracional” porque, por mais que o Homem evolua, nunca o conseguirá provar cientificamente. A essas pessoas eu digo: tal como a Célula precisa de um microscópio para ser provada, tal como Plutão necessita de um telescópio para ser provado, também Deus precisa de uma ferramenta para ser provado! A essa ferramenta chama-se Fé! Temos um Deus pessoal, que gosta de ser seduzido, namorado e amado como a mulher no bar! Estas são as premissas da nossa fé!
Então, como se pode provar a existência de Deus? Seguindo as Suas instruções! O verdadeiro cientista limpa-se dos dogmas das etiquetas arbitrárias “racional” e “irracional” e tenta provar, sem certezas apriorísticas, a hipótese “Deus existe” através da aceitação das premissas da fé. O verdadeiro cientista experimentará, passando uma temporada rezando fervorosamente (não dizendo “Deus, faz o que te peço” mas “Deus, seja feita a Tua Vontade”), participando nos Sacramentos, trabalhando em grupos religiosos de ajuda comunitária, respeitando os Mandamentos, estudando humildemente a Bíblia, implorando a Graça divina…
… depois avaliará objectivamente os resultados.
Se, depois desta experiência, ele continuar a achar que Deus não existe, pelo menos ganhará um maior respeito pelos teístas.
Deste modo, peço desculpa, mas termino. Vou despir a minha bata e dirigir-me para casa, a fim de saborear o guisado da minha mamã.