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Ano da Fé

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sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

AS ASAS DO ANJO

Era uma vez um anjo, que se orgulhava muito das suas asas.

Estas asas eram de uma envergadura majestosa e inigualável entre todas as criaturas de Deus. As suas penas pareciam um arco-íris que refulgia como se fosse cravejado de pedras preciosas. Este anjo tinha uma beleza tão gloriosa que fazia qualquer ave do céu aterrar imediatamente de vergonha à sua passagem.As suas asas eram, de facto, extremamente formosas. E o anjo sabia-o. Por isso, a cada dia que passava, o orgulho do anjo ia aumentando.

Deste modo, quando Deus o queria incumbir de alguma missão, nunca encontrava o anjo no seu lugar respectivo do Coro Celeste. O anjo, em vez de estar preparado para atender ao chamamento do Senhor, preferia voar de um lado para o outro, testando os limites de velocidade das suas asas, vendo até que ponto lhe ia a habilidade para as acrobacias e piruetas. E se porventura Deus o encontrava e lhe interrompia os voos com algum encargo à terra dos mortais, o anjo demorava-se a cumprir o mandatado, porque parava em cada charco a fim de admirar o seu reflexo.

Deste modo, um dia, depois de passar horas ao espelho num regato, o anjo decidiu regressar ao Paraíso. Só que, tendo voado mais alto do que as mais elevadas camadas da atmosfera, tendo voado para além de planetas e galáxias, tendo voado até às fronteiras da própria Existência, o anjo não encontrou os portões para o Paraíso. Clamou:

- Pai! Pai! Ajuda-me!

Respondeu Deus:

- Que queres, Meu filho?

- Pai! Quero regressar a casa! Mas não encontro os portões do Céu! Onde estão?

- Estão exactamente no mesmo local.

- Como é isso possível, se já vasculhei os confins do universo e não os encontrei?

- Os portões estão no exacto local em que os deixaste e estão abertos como sempre estiveram.

- Então, que se passa? Porque não os acho?

- Porque usaste mal as tuas asas. Eu ofereci-te essas asas para que tu pudesses entrar no Céu. Mas tu enebriaste-te tanto com as tuas asas, que elas se tornaram o teu próprio Céu. Assim sendo, se as tuas asas são o teu Céu, como podem elas fazer-te voar até ao Céu?

-Quer dizer que Tu me expulsaste do Céu? É isso?!
- Não. Os portões estão lá e estão abertos. As tuas asas é que já não te podem levar até lá.

O anjo retirou-se de volta para a Terra. Sentia um misto de ofensa e de confusão: “As minhas asas não me podem levar ao Céu? ESTAS asas?! Ah! Deus deve estar louco! Olhem-me só para estas asas! Haverá alguma coisa que estas asas não possam?! Se calhar o próprio Deus teve inveja das minhas asas! É isso!!! Deus teve inveja e, se calhar, até medo que eu voasse mais alto do que Ele! Pois que Ele fique com o Céu d’Ele que as minhas asas nunca mais terá!”

Pensava assim o anjo e amaldiçoava o Senhor. Como tal, para Lhe mostrar a sua superioridade, o anjo começou a fazer as mais complicadas e espectaculares acrobacias, a subir às montanhas mais elevadas, a atingir velocidades que ultrapassavam a própria luz.

- Estás a ver, Deus? Quem precisa de Ti, quando se tem estas asas? Quem precisa do Teu Céu? Há coisas mais grandiosas! Coisas que posso ser EU a fazer! Quem precisa de Ti e do Teu Céu?!

Mas iam passando os dias, os anos, os séculos… e o anjo notou que estava preso… preso neste Universo tão pequeno (porque o Universo é minúsculo quando comparado com o Céu)… quase incapaz de respirar…Já tinha voado por toda a parte… Já tinha visto tudo pelo menos mil vezes…Já tinha realizado todas as piruetas possíveis e imagináveis… Já tinha enchido a barriga com a brisa da emoção, ao ponto de não conseguir engolir mais…Já tinha passado tanto tempo mirando o seu reflexo, que agora até as suas próprias asas pareciam ter perdido a beleza…Que futuro restava a este anjo?

Uma eternidade!

Uma eternidade de aborrecimento! Uma eternidade de tédio! Uma eternidade de actos repetidos, meros cata-ventos dos seus caprichos! Uma eternidade de solidão! Em suma, o Inferno!Como estaria o Céu? Provavelmente na mesma! E era tão belo o Céu! E como era? Já não se lembrava! O anjo não se lembrava de como era o Céu! Agora arrependia-se de ter passado tão pouco tempo no Céu! Ao menos no Céu, a presença de Deus estava em todo o lado, aspergindo felicidade sobre todos! Como era o Céu? Já não se lembrava!

Todavia, o anjo ainda estava demasiado ferido no seu orgulho para se desculpar a Deus!

Nessa altura, o anjo ouviu um grito! Um grito desesperado! Era um verme! Um verme que estava num prado ali próximo! Um mísero e pequeno verme que, no seu rastejar insignificante, havia-se deparado com um lobo horrendo! O lobo farejava o verme, mirando-o fixamente com os seus olhos vermelhos e esfomeados! Não interessava se era um verme pequeno, o lobo queria devora-lo! E, enquanto procurava a melhor forma de o fazer, torturava a pequena criatura, dando-lhe patadas com as garras afiadas!

Esta cena revoltou a alma do anjo! Indo em socorro do verme, o anjo empurrou o lobo! Mas o lobo, enfurecido por tal afronta, lançou-se sobre o anjo! Houve uma luta feroz! Uma luta que durou uma noite inteira! Mas, finalmente, no meio da neblina matinal, encharcado por um orvalho torrencial, o anjo conseguiu expulsar o lobo!

Todavia, houve um preço a pagar… o anjo ficara com as asas totalmente esfarrapadas! Já não as conseguia agitar, já não podia voar! O anjo apercebeu-se e caiu num profundo pranto.

Entretanto aproximou-se o verme:

- Muito obrigada, meu senhor! Muito obrigada por me ter salvo!

O anjo ergueu-lhe os olhos lavados de lágrimas e berrou:

- Obrigado?! OBRIGADO?! Já viste o que me fizeste? Por tua culpa… por tua culpa… perdi as minhas asas! Perdi o Céu… já não tinha nada, a não ser as minhas asas…e agora, agora nem as minhas asas… não tenho nada…

Enraivecido, o anjo preparou-se para calcar o verme. Mas vendo como este tremia de puro pavor, apercebeu-se como estava a preparar-se para seguir as pisadas do lobo. De que tinha servido ao anjo, então, lutar contra o lobo, perder as asas, se iria sacrificar a causa desse sacrifício? O anjo deteve-se. Virou as costas e disse:

- Vai! Vai à tua vida! Vai-te! Nunca mais te quero ver!

O verme deu meia-volta e retirou-se, profundamente entristecido. O Inverno estava aí à porta. Como já não podia voar, o anjo não podia fugir para a atmosfera acima das nuvens, nem podia escapar para climas mais amenos… Deste modo, o anjo teve de aguentar as agruras tempestuosas do Inverno, o frio cortante, a solidão gélida, as chuvas, os trovões, o vento…

Nesse entretanto, o anjo apercebeu-se de como as suas asas afinal não eram nada. Mesmo antes de se terem danificado, as suas asas eram apenas um monte de ossos e penas… um agregado de moléculas com uma mera função biológica… e os voos mais não eram do que o culminar de uma série de leis físicas e matemáticas…Que valiam as suas asas? Valiam muito, porque tinham sido uma prenda do Pai! Mas o anjo, que fizera ele? Usara essa prenda para magoar o seu Pai! E agora, agora as suas asas nada valiam! Nem sequer tinha conseguido ser simpático para com o pobre verme! O anjo sentia-se profundamente miserável! Como se arrependia de tudo! De tudo o que fizera! De tudo o que era! Que vergonha tinha o anjo de si próprio! Quem lhe dera ser outra pessoa! Quem lhe dera nunca ter nascido! Arrependia-se de tudo!

De tudo? Não! Pelo menos, na sua vida, o anjo tinha salvo um pequeno verme de um lobo! Pelo menos… pelo menos tinha feito uma coisa de útil na vida… tinha valido a pena sacrificar as suas asas por isso… se não tivesse perdido as suas asas, fazendo-o, então não teria cumprido nada de válido na sua existência…

Como era o Céu? Já não se lembrava!

Enfim, a Primavera. O anjo saiu do seu abrigo. Espreguiçou-se ao Sol radiante da manhã. Então, apareceu-lhe uma borboleta. Era uma borboleta linda, e as suas asas estavam enfeitadas por um caleidoscópio de cores. Disse a borboleta:

- Se calhar o senhor não me reconhece… mas eu fui aquele verme que você salvou aqui há tempos! Graças a si pude chegar a borboleta! Eu sei que nada do que eu possa dizer será o suficiente para o compensar, mas quero agradecer-lhe! Muito obrigada!

O anjo estava pasmado. Ficou contemplado a borboleta durante longos momentos, profundamente boquiaberto. A borboleta perguntou:

- Passa-se alguma coisa?

O anjo respondeu:

- Tu… tu és… tu és igual ao Céu!



Autor: Alma Peregrina.

10 comentários:

Alma peregrina disse...

Imagem: "L'Amour et Psyché (enfants)"
["Eros e Psique (em crianças)"]
William Adolphe Bouguereau

Canela disse...

Bem lida esta história... dá pano para mangas.

Quantas vezes ficamos nós, a mirar as "nossas asas"?

Madeleine K disse...

Bela meditação para o Advento, irmãozinho! Bem, somente para desejar um Santo Natal, pleno de Deus Amor! E para dizer que respondi no post anterior. E ainda que passe lá em casa que tem presente de Natal pra vc!Abraços fraternos!

Alma peregrina disse...

Cara Kenosis:

UM SANTO E FELIZ NATAL PARA SI TAMBÉM!!!

E muito obrigado pelos prémios. Assim que eu tiver um pouco mais de disponibilidade, coloca-los-ei sem falta. Muito obrigado também pelas dicas bloguísticas.
:)

Pax Christi!

Madeleine K disse...

Oi irmãozinho! Puxa...Ficou lindo! Muito legal! Bom, pra colocar al imagens num só tem que ser com códigos de html um embaixo do outro(o código de cada imagem e um embaixo do outro na mesma postagem de HTML. Será que deu pra entender? Se não me avise.Grande abço!

Maria João disse...

Não te esqueças que o Natal, ou seja o nascimento de Jesus acontece todos os dias. Abre-Lhe a porta!

beijos em Cristo e Maria

Canela disse...

Venho aqui desejar um Santo e Feliz Natal

Alma peregrina disse...

Feliz Natal Canela e Maria João!

joaquim disse...

Meu caro Alma Peregrina, que um dia há-de ter "nome cristão"...eheheh

O conto/história/meditação é "rudemente" belo!

E tanto, mas tanto para meditar!

Aqui desejo um Santo Natal para ti e todos os teus, na paz e no amor do Deus Menino, que «se faz um como nós».

Abraço amigo em Cristo e Maria do
Joaquim

Alma peregrina disse...

Obrigado, Joaquim!

Mais uma vez reafirmo os meus votos de um Santo Natal para si e para toda a sua família! Que Deus continue a abençoar o seu blog com tantas maravilhosas reflexões!