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Ano da Fé

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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A CRUZ DOS MINARETES

Aqui há tempos, os suiços votaram em referendo uma alteração constitucional que visa proibir a construção de minaretes (ou seja, as torres das mesquitas que assinalam os momentos de oração dos muçulmanos e os convocam para as suas cerimónias religiosas). Contra todas as previsões, essa proibição ganhou o referendo com 57% dos votos.

Em relação a este assunto tenho duas achegas a dar...

Em primeiro lugar, compreendo a atitude dos partidários da proibição. De facto, o Islamismo tem vindo a crescer na nossa população europeia, quer por via migratória, quer por via demográfica. Os suiços temem a perda da sua identidade religiosa, nacional e étnica perante um assoberbamento muçulmano da sua população. E, sobretudo, temem a imposição da Lei Sharia no seu código legal comum, a fim de agradar a uma minoria (o que já começa a suceder em certas partes do Reino Unido, por exemplo).

Compreendo, sobretudo, porque conheço alguns aspectos da teologia islâmica e sei que ela é propensa a certos impulsos violentos e bélicos.

Deste modo, pouco após o seu nascimento, o Islão expandiu-se pela conquista, tendo formado um Império que abarcou todo o Médio Oriente, o Norte de África, a Península Ibérica, a Turquia, os Balcãs e partes consideráveis da Europa e do sub-continente Indiano.
Desde então, os países sob a Lei Sharia têm tido picos de intolerância religiosa, com perseguições de várias ordens. Ainda hoje, há países cuja religião oficial é a islâmica, nos quais 1) é proibida a prática do ateísmo e do paganismo, 2) nos quais os judeus e os cristãos apenas podem praticar a sua religião se pagarem um imposto especial (constituindo uma classe marginalizada denominada "dhimmis"), 3) nos quais a construção ou restauração de templos de religiões não-islâmicas é estritamente vedada e 4) nos quais um muçulmano não pode converter-se a outra religião sem incorrer na pena de morte.
Ainda na época moderna, é frequente ver os muçulmanos em guerra com a grande maioria das religiões mundiais (contra os cristãos americanos e europeus no Afeganistão, contra os judeus em Israel, contra os hindus em Caxemira, contra os budistas na Tailândia, contra os ateus na U.R.S.S. e mesmo uns contra os outros como, por exemplo, entre as facções sunita e xiita no Iraque).
E não nos podemos esquecer de que os principais responsáveis da maioria dos atentados terroristas actuais (incluindo o 11 de Setembro em Nova York, o 11 de Maio em Madrid e o 7 de Julho em Londres) fazem-no em nome da sua religião muçulmana.

Portanto, esta islamofobia é um medo que surge como uma reacção natural aos vários acontecimentos históricos que se desenrolaram a nível mundial. Todavia, o facto de este ser um medo natural, não o torna um medo legítimo.


Todos conhecem a Suíça como um exemplo de tolerância. Trata-se de um país que conseguiu manter a neutralidade diante de várias guerras que varreram a Europa (tendo até conseguido ganhos económicos consideráveis com essa neutralidade). No entanto, eu, nos meus escassos anos de vida, já tive ocasião de perceber que não há pessoas mais intolerantes do que aquelas que vendem gratuitamente uma imagem de "tolerância". Isso aplica-se aos modernistas, mas também se pode aplicar aos suiços. E a prova está precisamente no resultado deste referendo dos minaretes (que, se não me engano, é o primeiro desta ordem na Europa a dar prosseguimento a uma limitação objectiva da liberdade religiosa dos muçulmanos).

Se formos a ver a própria história da Suiça, vemos um país fundado na intolerância religiosa. A Suiça, como hoje a conhecemos, foi criada por Calvino, um reformador protestante que criou em Genebra uma comunidade com as suas próprias leis subordinadas à sua teologia. Uma comunidade que, assim, passou a estar ghettizada numa espécie de isolacionismo europeu, que "convidava a sair" todos os que não se identificassem com a recém-adquirida identidade nacional. Não houve, em toda a história da Reforma Protestante, maior perseguição aos católicos do que na Genebra de Calvino. Além disso, não foram só os católicos. Segundo uma associação judaica, há um século, os suiços proibiram por via referendária o ritual judaico de matar animais, a fim de persuadi-los a afastarem-se do país.

E é claro que não nos podemos esquecer que estes argumentos usados contra os muçulmanos podem muito bem ser usados contra nós, católicos, pela crescente onda laicista que vem varrendo a Europa (vide a recente proibição dos crucifixos na escola pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos).

Ora, se os muçulmanos consideram a presença de um minarete como fundamental para o seu exercício religioso, eu não me oponho. Na verdade, oponho-me a qualquer oposição a esse direito fundamental que é o direito à liberdade religiosa. Esse é um Direito Humano e que, como tal, é inalienável, mesmo perante uma maioria popular democrática.

Em última análise, não me posso esquecer de um poema do Pastor Martin Niemöller, um protestante que viveu na Alemanha nazi:


"Na Alemanha eles prenderam primeiro os comunistas
e eu não os defendi porque não era comunista.
Depois, eles prenderam os sindicalistas
e eu não os defendi, porque não era sindicalista.
Depois, eles prenderam os judeus
e eu não os defendi, porque era cristão.
Depois, eles prenderam os católicos
e eu não os defendi, porque era protestante.
Depois, eles vieram prender-me
e já não restava ninguém que me pudesse defender..."

1 comentário:

Alma peregrina disse...

A figura é uma pintura de Julius Köckert, datada de 1864, que representa o Califa Harun Al-Rashid (representante da unidade cultural e religiosa dos muçulmanos) a receber uma comitiva do Imperador Carlos Magno (representante da unidade cultural e religiosa da Cristandade).