Com certeza que os meus leitores já terão lido a
notícia, dos bio-"
eticistas" que pretendem
estender a lógica do aborto aos recém-nascidos, validando o infanticídio como ético. O link está aí para quem o quiser comprovar, pois que não se trata de uma peça de propaganda pró-vida.
É claro que os pró-vida estão a avisar contra isto há imenso tempo, embora ninguém acredite em nós. Ao definir o início da vida humana a partir de um limiar sem qualquer correspondência biológica objectiva (as míticas 10 semanas), estamos na verdade a introduzir um subjectivismo na pergunta fundamental "Quando começa a vida humana"?
Muitos cristãos, ditos progressistas, defendem o aborto legal. Muitos deles utilizam mesmo argumentos do próprio Cristianismo para defender posições pró-escolha. Mas são argumentos que se baseiam numa distorção da misericórdia cristã. Uma "misericórdia" dirigida à Mulher em detrimento da Criança (como a misericórdia tivesse de optar entre uma e a outra). Uma "misericórdia", mesmo, dirigida à Criança (que eles acham melhor morta do que abandonada).
Mas esta questão "Quando começa a vida humana?" é absolutamente fulcral, porque define quem nós somos, como nos vemos e a quem atribuímos os invioláveis Direitos Humanos. Se relativizamos a resposta a esta pergunta com base em meras conveniências (como é o caso do aborto), estamos a pôr em perigo aqueles que são mais inconvenientes... que serão sempre os mais fracos e frágeis da sociedade. Se relativizamos a resposta a esta pergunta com base na autonomia pessoal (como é o caso do aborto), estamos a pôr em perigo os mais dependentes... que serão sempre os mais fracos e frágeis da sociedade. A partir do momento em que definimos um grupo de seres humanos como juridicamente "não-pessoas", então as categorias de "não-pessoas" só tenderão a multiplicar-se, até que todos os fracos sejam devorados.
É o regresso da lei do mais forte.
O que daqui resulta é uma sociedade pagã... ou seja, a antítese da sociedade cristã.
Não é por acaso que o aborto e o infanticídio eram práticas comuns nas sociedades pagãs, afastadas da influência benigna de Deus.
Eu não vou por esse caminho. Não vou! Não posso! Não consinto!
Sei muito bem que há quem procure carreiras, estudos, bem-estar material, prazer sexual, auto-realização pessoal ou, simplesmente, fugir ao sofrimento. Tudo isso é bom. Tudo isso é legítimo. Mas não vale a vida de uma criança! Não numa sociedade cristã!
Pouco me importa que venham indivíduos de fato e gravata da Associação de Planeamento Familiar esgrimir números e estatísticas de abortos em inúmeros países. Esses números não me convencerão a desistir das crianças!
Tal como podem vir indivíduos de fato e gravata da Troika e de Bruxelas a esgrimir números e estatísticas de déficits. Não sacrificarei os trabalhadores, os pobres, os excluídos a esses números!
E podem vir indivíduos de fato e gravata de bancos muito ricos, disfarçados de ministros da Saúde e administradores hospitalares, a esgrimir mais números e estatísticas sobre distribuição de recursos. Não sacrificarei os doentes e o idosos a esses números!
Não desistirei deles! Não é que possa fazer muito, mas ao menos não desistirei deles!
Porquê? Porque não importa o que os bio-"eticistas" digam! Os embriões são seres humanos! Na verdade, são mais humanos do que os bio-"eticistas"! Os embriões são mais humanos do que você, caro leitor! São mais humanos do que eu! Haverá algo mais humano do que os embriões? Atrevo-me a dizer que não!
Porquê? Pelo mesmo motivo de que um pobre é mais humano que um rico! Ou que um doente é mais humano que um saudável! Ou que um excluído é mais humano que um popular!
Aquilo que nos define como humanos é precisamente a nossa fraqueza, a nossa dependência, a nossa nudez. Somos apenas um grão de pó na vastidão do Universo. Somos totalmente dependentes da Providência de Deus. E, apesar deste Nada que nós somos, somos tanto! Somos imagem e semelhança de Deus! Somos um tesouro infinito, dentro deste Nada que somos!
Não é isto que define a Humanidade, esse paradoxo? Então, quem se atreve a dizer que há ser mais humano que um embrião? Haverá maior catequese do que é ser humano do que uma criança não-nascida?
Querem que escolha entre ela e a mãe? Não podem obrigar-me a isso! É injusto! Não permitirei que o aborto se torne um direito social, um mero tratamento médico, uma mera escolha pessoal! Ao fazê-lo, já estaria a desistir daquela criança! Não posso! Como poderia, se ela é mais humana que eu?
Esta é a minha misericórdia! A "minha" misericórdia! Uma misericórdia louca, longe da lógica do Mundo, que se consome de dor com estas injustiças, com estas crueldades, que não quer escolher mas acolher, que não quer categorizar mas incluir, que não quer destruir mas ajudar! Atrever-me-ei a chamar-lhe misericórdia cristã? Sim! Não pode ser outra coisa! Porque Cristo está nestes humanos, precisamente nestes humanos mais humanos que os desumanos que lhes chamam não-humanos! Foi isso que Ele nos ensinou!
A escolha que temos que fazer não é se uma criança deve viver ou morrer. A escolha que temos que fazer não é se um embrião é uma pessoa ou não. A escolha que temos que fazer é: Qual o Mundo que desejamos? Não vale a pena enfiar a cabeça na areia! O link do artigo lá em cima mostra-nos o que nos espera se continuarmos no mesmo caminho até agora trilhado! É horrível, por vezes, confrontarmo-nos com as consequências lógicas das nossas convicções, mas é preciso ser feito! A vida humana deve estar protegida pela Lei, desde o seu início biológico, como parece ser auto-evidente para qualquer ser humano num estádio de desenvolvimento extra-uterino! Tudo o que fizermos para solucionar / prevenir o aborto deve ser construído a partir daí, nunca sem isso...